As centenas de manifestações que ocorreram no mês de junho puseram abaixo o argumento de que a esquerda não deveria ir às ruas. Ao mesmo tempo, todos os governadores, pressionados pelos capitalistas, decretaram todo tipo de medida para forçar a reabertura da economia, atirando o povo ao coronavírus nos ônibus e nos locais de trabalho.
Diante desse quadro, a necessidade de protestar contra a política da direita golpista se tornou o maior imperativo no momento. Defender que o povo não se manifeste, quando centenas de pessoas continuam a morrer todos os dias, quando 62 mil pessoas já perderam a vida, quando mais de um milhão de pessoas foram demitidas, tem se mostrado, cada vez mais, uma política reacionária e assassina.
Se a necessidade de protestar contra o governo já é algo vencido, ainda há, no interior da esquerda nacional, muita confusão sobre os métodos de travar essa luta. Os “atos virtuais”, bastante impulsionados nos meses anteriores, já começam a fazer parte de um passado que nenhum setor combativo quer rememorar. Esse tipo de evento, hoje, está cada vez mais associado àqueles que nunca quiseram ir a um ato de rua: Fernando Henrique Cardoso, Ciro Gomes, Tasso Jereissati e outros tantos bandidos políticos.
A ruptura com a política dos “atos virtuais” não tem levado, necessariamente, à adesão de toda a esquerda à política dos atos de massas. Refletindo a pressão da burguesia contra qualquer tipo de manifestação popular, alguns setores que começaram a abandonar o fiasco dos “atos virtuais” decidiram levantar a palavra de ordem de “atos simbólicos”. Trata-se, evidentemente, de uma tentativa de conciliação entre a necessidade de ocupar as ruas e a pressão da direita contra a iniciativa dos trabalhadores.
Na atual etapa da luta política, contudo, não está colocada possibilidade alguma de conciliação entre as diferentes tendências. Um povo que está sendo assassinado pela burguesia e uma burguesia que não tem como manter seus privilégios sem massacrar o povo não podem ter interesses em comum. Ou se luta pela derrubada do governo, por um plano de combate efetivo à pandemia e por um programa para a crise econômica, ou se exime dessa luta. O “ato simbólico” não é uma luta, não procura enfrentar a direita. Procura, apenas, demonstrar uma posição — posição essa que já é óbvia para qualquer um que não esteja se beneficiando da política genocida da direita e que, tampouco, será respeitada pela classe dominante.
Os supostos “atos simbólicos” seriam atos em que o povo não deveria participar. Seriam limitados à participação de delegados de algumas organizações. Para muitos, os “atos simbólicos” sequer deveriam ser convocados publicamente. Como se vê, é a aplicação prática dos mesmos princípios dos “atos virtuais”: sem povo, sem efeito real para a luta política.
A essa tentativa de restringir os atos públicos, é preciso levantar a palavra de ordem de “atos vermelhos e de massas”. É preciso reunir o povo, que está sendo pisoteado pelo governo Bolsonaro e obrigado a trabalhar nas piores condições possíveis, e lhe dar uma perspectiva de luta. É preciso que as organizações de luta do povo convoquem amplamente suas bases e levem suas bandeiras vermelhas para tomar as ruas, encurralando a burguesia em sua tentativa de liquidar o País.