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Atos do dia 29, um novo coxinhato?

Nesse momento em que a imprensa golpista colabora para tornar visíveis iniciativas como o ‘movimento’ Mulheres Contra Bolsonaro (e sua hashtag #EleNão), ou o Democracia Sim, como seu ‘Manifesto’, e que faz propaganda das iniciativas desses ‘movimentos’, da convocação de seus ‘atos’ e propostas, deve-se desconfiar, e muito.

Para os que têm boa memória e para os que sempre tiveram clara sua posição política, à esquerda, sabe que desde 2013 pelo menos foram forjados no país vários movimentos de opinião visando caracterizar a política como um todo, mas a política partidária em particular, como atividade quase demoníaca, dominada por corruptos e que, por isso mesmo, deveria ser negada.

Esse movimento foi ganhando força, com os grupos de direita como Revoltados Online, VemPraRua e MBL, fazendo convocações com profissionalismo e muito dinheiro na produção de videos, cartazes e panfletos, além de intenso ativismo nas redes sociais, e para bancar estruturas milionárias nos atos promovidos pelos criadores dos coxinhas. Em muitos momentos, a convocação para os atos apresentava esses grupos e as mobilizações como sendo apartidárias, até mesmo apolíticas, mas os alvos foram se tornando cada vez mais claros e o PT e o governo da presidenta Dilma se tornaram os inimigos preferenciais, a despeito das palavras de ordem que diziam rejeitar “tudo que está aí”.

Foi assim que esses movimentos foram preparando o ambiente para que o impeachment da presidenta Dilma parecesse legitimo, natural, com ‘apoio popular’. Essa turma ‘sem partido’ na realidade transformou-se em ‘somos todos Cunha’ e tratou de diabolizar as esquerdas, como as responsáveis pelos males que supostamente assolavam o país. Esses movimentos de coxinhas, como ficaram carimbados os participantes, que acamparam na Paulista em frente à Federação das Industrias de São Paulo (Fiesp), com direito a Filé Mignon pago pela Federação golpista, registraram dezenas, talvez centenas, de atividades contra o PT e contra as esquerdas em geral, tidas como traidoras do país, corruptas, um câncer a ser extirpado. Esse é o motivo de caracterizarem-se como patriotas, nacionalistas, adotando as camisas da CBF e sinalizando para as Forças Armadas. Os panelaços nas áreas nobres das capitais do pais deixam claro a que interesses respondem.

Com todo apoio da imprensa golpista, foram muitos os coxinhatos realizados, todos visando a justificar o golpe, que teve seu ápice quando a presidenta legitimamente eleita foi afastada pela Câmara dos Deputados num dos mais macabros shows de horrores que o Congresso Nacional já produziu em seus mais de 180 anos de existência. Eles continuaram  até que a presidenta foi afastada em definitivo pelo Senado Federal e, embora enfraquecidos, ainda foram usados para apoiar a perseguição ao ex-presidente Lula. Os coxinhatos, não nos iludamos, sempre foram realizados em benefício da direita, em particular o PSDB.

Os coxinhatos, que nada tinham de ‘popular’, mobilizaram paneleiros e patos da Fiesp contra a presidenta Dilma e seu partido, o PT, apoiaram o bandido Eduardo Cunha, exaltaram o rei da propina Aécio Neves, deram publico para a Lava Jato (um filme foi produzido para que a narrativa de criminalização das esquerdas, e do ex-presidente Lula em especial, fosse fixada e replicada em larga escala antes das eleições). Eles levaram ao poder o entreguista Michel Temer e são responsáveis, portanto, pela destruição de praticamente todas as políticas publicas com viés social e de redistribuição de renda, da legislação trabalhista e de todas as garantias que o trabalhador conquistou ao longo de décadas, pelo sucateamento do sistema de saúde e de educação, da cultura e da ciência. Do mesmo modo, os atos do dia 29 de setembro, marcados nas redes sociais pela, agora já famosa, hashtag #EleNão, não têm nada de movimento popular.

Trata-se de um movimento de opinião e os atos dele decorrente não são, tampouco, espontâneos, muito menos apartidários. Está claro que o movimento pretende influenciar as eleições. Mas isso não se dá exatamente da forma como se quer deixar transparecer. Se o alvo é o fascista Jair Bolsonaro e seu vice, o tosco General Mourão, a pergunta que não foi feita é a seguinte: para onde iriam, se é que o movimento conseguirá influenciar eleitores do Bolsonaro, os votos hoje declarados ao representante do ódio, da misoginia, do desprezo pelos pobres? serão direcionados para quem?

Vejam que é sintomático que, quase simultaneamente, o tempo em que as Mulheres Contra Bolsonaro se lança como um ‘movimento’, outros aproveitam o momento para exaltar a democracia. É o caso do Democracia Sim, mais uma iniciativa do ativista, que se apresenta também como cientista político, Ricardo Borges Martins. É bom ressaltar que todas as iniciativas do sr. Martins apontam para ‘alternativas’ contra o que hoje está aí: Nova Democracia, Virada Política,  Eu Voto Distrital, Minha Sampa, Pacto Pela Democracia, Movimento pela Transparência Partidária, Advocacy Hub, entre outras, com cara de classe média, para a classe média, linguagem importada, sem nunca deixar claro como são financiadas/sustentadas (embora muitas se vinculem a empresas das quais os membros são sócios).

Depois de destruírem o país com um golpe, de criarem o Bolsonaro como uma alternativa para o país, agregando a ele o máximo de componentes fascistas, disseminarem ódio, colocar em curso ações de lawfare contra os adversários políticos, promoverem o desmonte da legislação trabalhista, a entrega de empresas estatais, o sucateamento da Petrobrás, o desmonte da indústria nacional, o desemprego, golpistas do quilate de Geraldo Alckmin,  Fernando Henrique Cardoso, e até um dos autores do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, Miguel Reale Jr., juntam-se para apoiar as iniciativas contra Bolsonaro. Quando a imprensa, em especial o que é produzido pela Globo e pelo Estado de São Paulo, dois dos mais descaradamente golpistas, começam a apoiar esses ‘movimentos’, dar-lhes visibilidade, produzir editorais em defesa da democracia, temos que olhar com desconfiança. As esquerdas têm obrigação de questionar o que motiva esse apoio e se colocar de pronto do outro lado.

Há grande possibilidade de os atos do dia 29 de setembro serem transformados em verdadeiros coxinhatos, totalmente apropriados pela direita. A verdade é que a direita está agindo para desviar o voto antipetista, representado pelos eleitores de Bolsonaro, para um candidato seu. Esse é o motivo do apoio do PSDB, ou de tucanos graúdos. Nos coxinhatos contra Dilma e pró-impeachment, a denuncia do golpe teve sucesso em separar a esquerda da direita, mostrando claramente o que estava em jogo, quais interesses estavam em cena. Agora, eles estão conseguindo arrastar setores da esquerda, mobilizando um grande numero de ‘progressistas’, jogando sombra sobre o golpe.

Enquanto isso, Lula continua preso, sem direito a sequer votar, e o antipetismo continua a ser alimentado pela mesma imprensa golpista que faz propaganda dos ‘novos’ movimentos pro-democracia e antifascista. Para essa imprensa, democracia significa excluir o PT das eleições junto com Bolsonaro.

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