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Cretinismo parlamentar

Atos do dia 29 não tiveram nada a ver com a farsa da CPI da Covid

Burguesia tenta sequestrar atos, dizendo que são a favor da CPI fajuta. A esquerda não pode entrar nessa onda

Os atos de 29 de maio, espalhados por todas as capitais do País, foram um estrondoso grito dos miseráveis, dos sem vacina, dos sem emprego, daqueles que estão sendo roubados dia após dia pela quadrilha de golpistas que tomaram o regime político de assalto. A esquerda pequeno-burguesa, com seus músculos já atrofiados, depois de mais de um ano trancafiada em casa, foi pega de surpresa: confundia a realidade explosiva com a aparente tranquilidade do aquário em que vive. Até hoje, parece incapaz de compreender o que houve.

O que aconteceu é muito simples: explodiu. O povo brasileiro, assim como o colombiano e o palestino, não aguenta mais tanto massacre. Acabou-se a paciência. E essa paciência já estava esgotando há muito tempo, estava apenas represada porque essa tendência à revolta ainda não tinha encontrado uma forma para se expressar. Bastou o chamado unificado da esquerda, e essa forma apareceu. Mas acreditar nisso custa muito a quem jurava, até a véspera dos atos, que o povo era reacionário e que a única solução era assistir, pela televisão, aos nobres senhores do Congresso Nacional salvando a humanidade.

Essa dificuldade de digerir os fatos está muito bem representada no artigo “CPI joga juventude nas ruas contra Bolsonaro”, assinado pelo repórter César Fonseca e publicado pelo Brasil 247. Conforme aponta já em seu título, o articulista é defensor da tese de que o que levou o povo às ruas teria sido um malabarismo parlamentar — neste caso, a ilustríssima CPI da Covid.

É um verdadeiro deboche com o povo, uma completa falta de sensibilidade com seu sofrimento. A CPI da Covid não faz parte do movimento de conjunto que levou o povo às ruas, não pode sequer ser encarada como uma iniciativa progressista. É, muito pelo contrário, uma farsa reacionária, que cumpre justamente o papel oposto: impedir a mobilização de rua. Ao vincular a explosão sincera das massas à podridão da CPI da Covid, glorifica-se o chicote como grande instrumento da libertação do escravo.

Qual o conteúdo dos atos?

Os atos, se levado em conta o que era dito em sua convocação, o que estava estampado nas faixas e cartazes e no que foi dito nos carros de som, expressavam um programa muito claro: vacina, emprego, auxílio emergencial e Fora Bolsonaro. Isso, por sua vez, não é um pacote de reivindicações soltas que apareceram aleatoriamente nas ruas. É, nada mais, nada menos, que um programa contra o golpe de Estado em curso. É a expressão da luta de um povo que está sendo torturado, sendo que a origem dessa tortura é a ofensiva golpista. Isto é, o interesse dos empresários, dos banqueiros, dos monopólios, que, diante da crise capitalista cada vez mais profunda — segundo a previsão conservadora do Banco Mundial, o PIB dos EUA deve ter contraído 3,6% em 2020, enquanto o da União Europeia, 7,9% —, precisam arrancar a pele dos trabalhadores para salvar seu lucro. Os atos não são, portanto, um episódio desconectado da luta de classes, mas sim parte de um enfrentamento cada vez maior entre os capitalistas sanguessugas e o povo que quer sobreviver à sua predação.

Essa luta, entre o povo e os capitalistas, na medida em que os trabalhadores vão se tornando mais conscientes, é uma verdadeira guerra. A burguesia seguirá pilhando todos os povos do mundo, porque sua crise é um poço sem fundo. Só conhecerá fim quando perceber que tem muito mais a perder. Ou seja, quando o povo sair às ruas, perder a paciência e ameaçar tomar o poder. Quando ameaçar jogar pela janela de seus palácios todos os golpistas que se negam a vacinar a população, que mandam a polícia reprimir os atos e que destroem a economia, o povo terá, enfim, a atenção da burguesia. Neste sentido, a única política que poderá levar o povo à vitória é a mobilização.

Quem é o grande inimigo da mobilização?

Que a burguesia não quer que o povo se mobilize, é óbvio. Uma questão de autopreservação, inclusive. Mas para o povo, isso pouco tem diferença: a mobilização parte justamente da necessidade de derrotar a vontade da burguesia. Aquilo que se coloca como grande empecilho para a mobilização, portanto, não vem propriamente dos capitalistas: vem das próprias fileiras da esquerda. Vem dos setores da esquerda que, por terem alguma influência sobre o povo, consegue confundi-lo sobre seus propósitos e seus métodos.

Esse setor da esquerda que atrapalha a mobilização natural dos trabalhadores contra o regime já é de longe conhecido. É a ala direita da esquerda nacional, que vem se delimitando cada vez mais claramente desde o golpe de Estado. Que, como disse o senador pernambucano Humberto Costa (PT), quer “virar a página do golpe”, para que continue sendo aceito pelo regime político. Que não está de fato junto aos trabalhadores, mas sim que utiliza toda a sua disposição e energia como trampolim para estabelecer uma carreira de boa convivência com a burguesia.

O setor social que, por definição, representa o carreirismo pequeno-burguês sobre a luta sincera das massas é o parlamentar. Aquele que não é uma verdadeira liderança de massas, mas sim uma figura que, por causa do prestígio que conseguiu obter junto às massas (ou dos acordos com a burguesia), ocupa uma vaga no regime político para servir de ventríloquo para a burguesia. Juram amor aos pobres, garantem que irão lutar até o fim pelos seus interesses, mas são parte da mesma operação: em vez de denunciar as podridões do regime, mentem, prometendo que irão conseguir, dentro do regime, torná-lo mais simpático, mais humano. Com o golpe de 2016, ficou comprovado que, na melhor das hipóteses, o Congresso é composto por 367 picaretas lesa-pátrias e 137 deputados que têm alguma consideração pelos interesses do povo ou que tinham algum interesse particular específico em se contrapor à política do imperialismo naquele momento.

A atividade parlamentar, nos marcos da esquerda pequeno-burguesa, é um sepultamento da mobilização revolucionária dos trabalhadores. Serve para iludir e confundir a todos, em vez de ajudar o povo a se desfazer de seus inimigos. Serve para apontar que é possível fazer Renan Calheiros (MDB-AL), Rodrigo Maia (DEM-RJ) ou Davi Alcolumbre (DEM-AP) defender os interesses do povo, simplesmente por ficarem encantados pelos seus discursos, o que é uma enganação tremenda. O papel de qualquer liderança da esquerda deveria ser o de apontar que são todos representantes da classe inimiga, que deve ser atirada à lata de lixo da história.

A CPI

A CPI é uma representação perfeita do que é a atividade cretina dos parlamentares. Uma enganação de início ao fim. A comissão foi instaurada pela própria direita, em uma trama que vai desde fascistas como Jorge Kajuru (PSD-GO) a golpistas de primeira linha como o STF. E a iniciativa partiu da direita porque era a direita a principal interessada na CPI. A derrubada do governo nunca foi colocada em questão, seu objetivo, desde o início, era desgastar Bolsonaro eleitoralmente e apresentar um novo “herói” à nação: Luiz Henrique Mandetta (DEM), João Doria ou qualquer outro assassino que colocasse um jaleco e se dissesse “científico”.

A burguesia, no entanto, não tinha acordo sobre viabilizar essa “terceira via” ou se já deveria apoiar Bolsonaro no primeiro turno em 2022. E, por isso, a CPI nunca decolou, nem mesmo em seus interesses mais medíocres. O principal depoimento, que seria do general Eduardo Pazuello, não serviu para nada. Ele, responsável por 400 mil mortes oficiais, foi capaz de mentir na frente de todos e não fazer disso um escândalo internacional.

Pazuello depôs após um acordo entre a burguesia e os militares que sustentam Bolsonaro. E a esquerda, obviamente, ficou, mais uma vez, com o mico na mão. Tanto defendeu a CPI, mas seus grandes “aliados” foram os primeiros a inviabilizar a comissão. Quando começou a convocação para os atos do dia 29, a CPI já havia morrido, já era algo sem propósito.

Ou melhor, algo que cumpriu o seu propósito. Se ainda não foi suficiente para viabilizar uma “terceira via”, cada vez mais distante, ela serviu para sinalizar à esquerda o caminho do parlamento como a via para derrotar o bolsonarismo. E, na medida em que a esquerda apostou suas fichas nessa via, atrapalhou e muito a mobilização. É por isso que a CPI não jogou o povo nas ruas, mas, sim, fez parte de toda a operação para contê-lo.

Uma esquerda que não aprende

A contradição entre a CPI e os atos de rua é que a primeira serviu para manter a esquerda distraída, paralisada. Mas não foi a única vez. Quando Bolsonaro venceu as eleições-fraude de 2018, a esquerda pequeno-burguesa não quis levantar a palavra de ordem de “Fora Bolsonaro” por considerar que o melhor seria esperar 2022. Que o regime iria conformar a esquerda e que a esquerda, diante do desastre que seria o governo Bolsonaro, iria faturar politicamente e voltar ao poder pelas instituições.

Quando viu a burguesia interessada em fritar um ou outro ministro do governo, de modo a substituí-lo por algum funcionário do imperialismo, a esquerda, contudo, mudou rapidamente de posição e passou a gritar “fora Fulano”. E quando a burguesia, no início da pandemia, passou a criticar o governo Bolsonaro, tentando controlá-lo para viabilizar os criminosos governadores da direita nacional, a esquerda, enfim, confiou que a burguesia queria derrubar o governo e passou a pedir o “Fora Bolsonaro”. Tão logo ficou claro que a burguesia não iria derrubar o governo, a esquerda abandonou completamente essa palavra de ordem.

No início do ano, quando a esquerda achou que a burguesia, novamente, iria derrubar o governo e que seria possível aprovar o impeachment se Baleia Rossi (MDB-SP) ganhasse a eleição para presidente da Câmara, a esquerda se animou. Mas tão logo viu a estrondosa derrota, com toda a direita se vendendo para o governo federal, a esquerda pequeno-burguesa voltou para sua depressão, alegando que o impeachment seria “muito difícil”.

Não deu seis meses e a esquerda, depois de ter sido traída pela milésima vez por esses bandidos da direita, cuja defesa da “democracia” vale tanto quanto um cargo no governo Bolsonaro, depositou todas as suas fichas na CPI. E o fato de que agora vem essa tese de que o ato foi, na verdade, resultado da CPI, mostra que a esquerda está disposta a ser chifrada novamente.

A esquerda não pode cair na laia da burguesia que tenta forçar a barra dizendo que os atos são a favor da CPI. A esquerda deve apostar todas as suas fichas nas ruas e enterrar os golpistas da CPI junto com o governo Bolsonaro.

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