Em um de seus muitos discursos pomposos, Guilherme Boulos, coordenador nacional do MTST e ex-presidenciável pelo PSOL, declarou:
Se a gente deixar, o fascismo toma as ruas.
Isso é fato. Conforme a história mostrou em inúmeras oportunidades, como no próprio caso da Itália, o fascismo só consegue chegar ao poder quando a esquerda não sai às ruas para combater a extrema-direita. Inversamente, podemos concluir que, para derrotar o fascismo, é necessário ocupar as ruas. Mas não foi essa a política de Guilherme Boulos para o ato do último domingo (7) em São Paulo.
A manifestação que estava marcada neste dia ocorreria na Avenida Paulista, tradicional local de manifestação da classe trabalhadora. A maioria dos atos contra o golpe de 2016, inclusive, aconteceram lá. No entanto, de última hora, Guilherme Boulos decidiu mudar o local da manifestação para o Largo da Batata. A que se deve essa mudança abrupta?
Ora, não há nenhum motivo razoável e honesto para cancelar o ato marcado na Paulista. Politicamente falando, não haveria lugar mais favorável para os trabalhadores: o ato aconteceria no centro, enquanto o Largo da Batata fica situado no Oeste de São Paulo; a Paulista é um local tradicional de atos, o Largo da Batata não. E, de um ponto de vista legal, não havia também qualquer impedimento para que fosse realizado o ato: o direito à manifestação é um direito democrático elementar. Mesmo a pandemia de coronavírus não poderia ser um pretexto para impedir as manifestações: afinal de contas, os atos da direita em São Paulo nas últimas semanas aconteceram na Avenida Paulista.
A prova de que era possível organizar o ato é que o Partido da Causa Operária (PCO), se opondo à política de Guilherme Boulos, decidiu manter a convocação do ato na Paulista. Mesmo com a confusão, uma vez que muitas pessoas acabaram indo parar no Largo da Batata para atender ao chamado do líder do MTST, centenas de pessoas participaram do ato, que ocorreu normalmente.
Boulos não permaneceu na Paulista porque não quis. E o que o levou a não querer permanecer na Paulista merece ser objeto de uma discussão muito séria. Retirar o ato do último domingo da Avenida Paulista é uma capitulação vergonhosa para a extrema-direita, que foi a única vitoriosa desse episódio. Por meio de uma pressão ilegal, o Judiciário golpista e o governador fascista João Doria exigiram que Guilherme Boulos desconvocasse o ato. Boulos, por sua vez, seguiu a orientação da direita, simplesmente por não querer enfrentar aqueles que são o alvo de seus discursos.
Durante toda a última semana, a burguesia havia feito uma intensa campanha contra a “violência” nas manifestações. Isto é, uma campanha suja e cínica que alertava à esquerda que, se houvesse brigas e confrontos nos atos, a polícia iria intervir duramente. Com medo da repressão, Boulos simplesmente decidiu partir para um local que não incomodasse tanto a direita: o Largo do Batata.
Ir para o Largo do Batata, pelo motivo que for, é o mesmo que deixar as ruas livres para o fascismo. É o completo inverso do que foi dito pelo psolista em seu discurso.