A imprensa capitalista, nos últimos dias, vem publicando matérias mostrando que o isoamento social vem diminuindo e se afrouxando nas grandes cidades. Ônibus e trens tiveram aumento no movimento, mais carros começaram a transitar pelas ruas. O governo Doria anunciou que menos de 50% da população do Estado ficou em casa nessa quarta-feira, isso graças a um acordo com as operadoras de celular para rastrear a localização da população, diga-se de passagem, mais um elemento da ditadura que a direita vem impondo sob o pretexto do confinamento.
No mesmo sentido, Bolsonaro, em seu último pronunciamento, na quarta-feira, insisitiu em criticar a política dos governadores da quarentena, mas afirmou que a decisão está nas mãos deles, inclusive indo ao encontro da decisão do ministro do STF, Alexandre de Moraes, impedindo o governo federal de intervir na política de estados e municípios no que diz respeito à quarentena.
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que virou queridinho da esquerda pequeno-burguesa tendo como base justamente a contradição aberta com Bolsonaro sobre a quarentena, também sinalizou sobre um possível afrouxamento da política de quarentena.
Esses dados mostram aquilo que já era óbvio. A disputa política que se deu em torno da defesa ou não da quarentena, colocando de um lado Bolsonaro e de outro os governadores e Mandetta é uma disputa artificial. Fica claro que não há uma política de nenhuma dessas alas da burguesia para combater a pandemia e a crise. Pelo contrário, todos os golpistas preparam um verdadeiro genocídio contra o povo.
A quarentena serviu como uma armadilha para pegar incautos e acabou pegando até mesmo a esquerda, que tomou o lado dos defensores da quarentena como se isso fosse a salvação do País. Uma armadilha justamente porque nennhum dos dois lados tem uma política real de combate à pandemia, mas apenas medidas superficiais.
A insistência de Bolsonaro contra o isolamento social obedece aos setores capitalistas menores que são parte fundamental de sua base. Esses capitalistas são os primeiros que se preocupam com os prejuízos gerados pela quarentena, pois justamente são menos poderosos do que os grandes capitalistas e banqueiros.
Mas Bolsonaro sabe que mesmo os setores mais poderosos dos capitalistas não terão condições de segurar por tanto tempo uma política de isolamento. E de fato é o que parece estar acontecendo.
Embora a política desses setores mais importantes da direita e da burguesia continuem defendendo a política de isolamento social, fica claro que cada vez mais ela se torna uma política de propaganda e voltada principalmente aos setores da classse média.
Os dados apresentados no início revelam isso. Há uma tendência de que se rompa o isolamento, uma pressão social não apenas dos capitalistas, mas até mesmo, em certa medida da população que não consegue ficar em casa por muito tempo, pois é simplesmente inviável o confinamento social para a maioria esmagadora das famílias brasileiras.
E é sempre bom lembrar que boa parte dos trabalhadores nem mesmo tiveram a chance de experimentar o isolamento social. Muitos ramos da indústria, incluindo a construção civil, não pararam de funcionar, os Correios, os entregadores, os funcionários de supermercados, motoristas, condutores e por aí vai.
Em suma, a tendência é que as duas alas da burguesia que até agora disputavam se deveria ou não haver quarentena cheguem a um acordo. Enquanto isso, a esquerda que ficou a reboque da ala representada por Doria, Mandetta e Witzel ficará sem alternativa. Esse é o problema de não ter uma política própria, independente para os trabalhadores e todo o povo.