Quando o imperialismo e a direita nacional decidiram colocar em marcha o golpe contra o governo do PT de Dilma Rousseff, muitos elementos da esquerda pequeno-burguesa ficaram confusos. Alguns simplesmente se recusavam a aceitar a ideia de que realmente estava em marcha um golpe de Estado, muitos inclusive mantiveram essa posição mesmo diante de fatos que se tornavam cada dia mais incontestáveis. Outra parte da esquerda pequeno-burguesa, aquela ala mais sectária e que tinha a ilusão de que seria possível angariar frutos com a queda do PT, não só negaram o golpe, como de fato o apoiaram e até hoje procuram justificar essa posição golpista com o estapafúrdio argumento de que o “PT é igual ao PSDB”, “Dilma e Lula são iguais a Temer e Aécio”.
Seja pelo atraso em reconhecer o golpe, que já era claro pelo menos desde o julgamento farsa do “mensalão” em 2012, seja pela pura e simples frente com a direita, nos dois casos, esta esquerda pequeno-burguesa acabou se unificando com a direita.
A campanha contra a corrupção é a principal arma da direita, cínica, para ludibriar o povo. Os ataques contra o PT têm como principal eixo a “corrupção”. A relativa eficácia dessa campanha é que ela deixa a esquerda pequeno-burguesa, facilmente influenciada pela imprensa golpista, confusa. A campanha moralista e “ética” da direita coxinha deixa essa esquerda na defensiva, porque em grande medida, ela concorda com a campanha, que atinge toda a classe média, incluindo a esquerda.
Para desfazer a confusão, que ainda não foi totalmente desfeita, foi preciso uma imensa campanha de esclarecimento, de denúncia do golpe e da direita coxinha e principalmente da experiência política que aos poucos foi despertando a consciência de amplos setores da população.
Tem acontecido com o futebol brasileiro um fenômeno parecido. Em primeiro lugar é preciso ter claro, não se pode ter dúvida que o futebol é parte de uma cultura popular, uma “paixão” das amplas massas do povo trabalhador brasileiro.
A direita e a burguesia, em primeiro lugar o próprio imperialismo, se aproveita imensa popularidade do futebol para controla-lo de acordo com seus interesses. Dessa maneira, a burguesia domina as instituições e os clubes, como não poderia ser diferente dentro do capitalismo. Esse domínio resulta entre outras coisas na enorme corrupção entre os chamados cartolas, que na realidade é uma consequência dos milhões de dólares movimentados no futebol.
Essa realidade, no entanto, não retira do futebol seu caráter popular. O que existe, assim como em todas as esferas sociais, é uma luta política entre a burguesia e as massas.
Apenas para dar um exemplo, basta uma olhar rápido sobre as torcidas organizadas, que reúnem em todos os clubes brasileiros – grandes, médios ou pequenos – milhares e milhares de pessoas.
Essas organizações são importantes polos de resistência popular contra a presença da direita e da burguesia nos clubes e nas instituições.
As calúnias da imprensa capitalista contra as torcidas, a perseguição repressiva sistemática, os ingressos cada vez mais caros, os horários de jogos impostos pela rede Globo que dificultam a presença dos trabalhadores nos estádios, tudo isso revela uma intensa luta política que confronta a classe operária organizada nessas torcidas e a burguesia que domina as instituições.
Não analisar esta situação, que diz respeito à luta de classes que está presente também, e muito, no futebol, e na Copa do Mundo, é atuar totalmente fora da realidade e adotar, na enorme maioria das vezes, uma posição que é resultado das pressões da direita, dos monopólios capitalistas que dominam o futebol e toda a atividade humana, com o objetivo de garantir seus lucros, não se importando em destruir o que for preciso.
