O ano de 2020, embora acompanhado de alguns eventos mais inesperados, como a pandemia de coronavírus, expressou de maneira perfeita o inevitável aprofundamento da crise capitalista. Segundo previsões de órgãos da imprensa burguesa, o Produto Interno Bruto (PIB) do planeta pode ter sofrido uma retração de 8% nos últimos 12 meses. Os órgãos mais otimistas e conservadores admitem uma perda mínima de 3% do PIB, o que já seria a maior queda dos últimos 90 anos.
Centenas de setores capitalistas entraram em falência, ou chegaram muito perto da bancarrota. Empresas áreas de porte internacional ameaçaram fechar as portas. Com as políticas de isolamento social, ainda que muito débeis, a economia de todos os países capitalistas se aproximou do colapso.
À intensa crise econômica, agravada pela crise sanitária, somou-se uma crise política de proporções espetaculares. No país mais importante do mundo, os Estados Unidos, o imperialismo se mostrou incrivelmente fragilizado. Precisou recorrer a uma fraude eleitoral escancarada e a uma extorsão política internacional para eleger seu candidato, Joe Biden, que, mesmo assim, conseguiu vencer apenas com uma pequena margem em relação ao outsider Donald Trump. Ao mesmo tempo, as mobilizações, levadas adiante sobretudo pelos setores mais radicalizados do movimento negro, colocaram o regime político em xeque. Se houvesse um partido operário, as mobilizações poderiam levar à derrubada de parte significativa da dominação da burguesia sobre o país.
Na América Latina, essa fragilidade do imperialismo foi vista em uma série de manobras realizadas junto aos setores mais direitistas do nacionalismo burguês. Na Bolívia, o imperialismo teve de aceitar a volta do MAS ao poder. Embora sem Evo Morales e controlado por uma burocracia muito direitista, o MAS no poder reflete o fracasso do imperialismo de manter a impopular direita nacional no controle da situação. Situação semelhante vem sendo levada na Argentina, com o governo de Alberto Fernández. Já na Venezuela, o chavismo conseguiu uma vitória importante ao vencer as eleições para a Assembleia Nacional e afundar de vez o “plano Guaidó”.
No Brasil, a situação é bastante semelhante. O governo Bolsonaro, resultado do golpe de Estado de 2016, é cada vez mais odiado pela população. Na pandemia de coronavírus, despertou ainda mais essa fúria, na medida em que colocou o Brasil no segundo lugar do pódio dos países com mais mortos pela COVID-19. Certamente uma das maiores demonstrações dessa revolta se deu quando as torcidas organizadas colocaram para correr a extrema-direita das ruas. Neste momento, no entanto, a luta contra o governo Bolsonaro se encontra em um impasse porque as direções pequeno-burguesas da esquerda nacional decidiram apoiar integralmente a política da direita nacional, anulando-se enquanto alternativa política ao governo Bolsonaro.
No ano de 2021, todas essas contradições, tanto nacionais quanto internacionais, deverão aumentar ainda mais. Ao que tudo indica, a pandemia continuará sendo um drama para os trabalhadores brasileiros durante muito tempo. Pouco se sabe ainda sobre a eficiência das vacinas disponíveis, e o próprio regime não tem se empenhado em conter a doença. O fim do auxílio emergencial, ao mesmo tempo, contribuirá para um empobrecimento acelerado da população de conjunto. Junto a isso, um salário mínimo sem aumento real pelo segundo ano consecutivo e o desemprego cada vez maior deverá levar a uma crise social sem precedentes.
Diante deste cenário, o papel da esquerda deve ser o de organizar a classe operária para enfrentar a nova onda de ataques da direita, levantando as reivindicações que permitam levar a revolta contra a direita a um novo patamar. Neste sentido, é preciso mobilizar os trabalhadores em torno da palavra de ordem de Fora Bolsonaro e todos os golpistas — sem qualquer conciliação com a direita golpista —, lutar pela candidatura do ex-presidente Lula e pela redução da jornada de trabalho, sem redução de salário. Ao mesmo tempo, é preciso formar conselhos populares em todos os bairros operários para enfrentar a crise capitalista e a pandemia.