Em sua edição de número 586, publicado no dia 9 de março, o jornal Opinião Morenista, editado pelo Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), apresenta as seguintes palavras de ordem: Parar o Brasil para deter o coronavírus — panelaço neles — fora Bolsonaro e Mourão:
A conclusão de que para enfrentar o coronavírus é preciso derrubar o governo Bolsonaro é correta. Parar o Brasil, no sentido de organizar greves para defender os interesses dos trabalhadores, também é correta. Contudo, o objetivo deste artigo é estabelecer um debate sobre o método que deve ser empregado para derrubar de uma vez o governo Bolsonaro, incluindo a discussão sobre como efetivamente parar a produção.
Em toda a edição do jornal, não aparece uma única proposta concreta sobre como fazer para derrubar o governo. Isso, portanto, só nos pode levar à seguinte conclusão: a política do PSTU para derrubar o governo seriam os panelaços — que têm sido as únicas manifestações impulsionadas pela esquerda nacional e que aparecem na própria capa do periódico morenista.
A questão de como paralisar o país aparece da mesma maneira. Não há nenhuma referência a como isso deve ser feito no jornal, a não ser um artigo intitulado Parar o mercado, que explica a necessidade de parar o mercado — isto é, de paralisar a produção para forçar os capitalistas a adotarem um programa efetivo de combate ao coronavírus. Em uma matéria de duas páginas, intitulada Parar o Brasil para conter o coronavírus, os morenistas apresentam um programa sobre a crise sanitária, a catástrofe social e os recursos necessários para enfrentar a crise. No entanto, não é apresentado o que fazer para esse programa ser implementado.
Para derrubar o governo, contudo, é necessário organizar a mobilização de toda a população contra o governo. Bolsonaro, até o momento, é apoiado por toda a burguesia de conjunto — e a burguesia não será vencida com panelaços. Por mais que o governo apresente uma série de contradições, manter Bolsonaro no poder e pressioná-lo para seguir a política do imperialismo tem sido a melhor opção para os capitalistas. Por outro lado, se a burguesia precisar se livrar de Bolsonaro, as Forças Armadas estarão de plantão para tomar o poder e implantar uma ditadura aberta contra a população.
Em meio ao aprofundamento da crise capitalista, a única maneira de tentar impedir os capitalistas de irem à bancarrota é por meio de um Estado que se dedique a entregar todo o dinheiro do povo aos banqueiros. Para obrigar a burguesia a abrir mão do poder político, seria necessário travar uma verdeira luta de todos os trabalhadores e explorados contra a classe dominante. E essa luta, obviamente, não poderá ser travada por uma sinfonia de panelas.
Paralisar o Brasil, por outro lado, só faria sentido se fosse feito por meio de greves dos trabalhadores contra os seus patrões, greves que tivessem uma perspectiva unitária e orientadas em torno da derrubada imediata do governo Bolsonaro e de um programa de emergência para a crise. Para isso acontecer, portanto, não adianta fazer um chamado em abstrato para que a sociedade pare, muito menos clamar para o mercado parar por si só. É preciso pressionar a Central Única dos Trabalhadores (CUT) para organizar as greves pelo Fora Bolsonaro e por um programa de combate ao coronavírus e a crise econômica.