Com a viagem de Luis Arce para o Brasil a fim de se submeter a um exame médico, a presidência da Bolívia será ocupada durante 62 horas por seu vice, David Choquehuanca.
Seu perfil é muito diferente do de Arce. Enquanto esse é um burocrata, ex-ministro da Economia e homem de confiança do capital financeiro internacional, aquele é mais semelhante a Evo Morales: de origem aimará, foi líder nas lutas sindicais e camponesas nos últimos 30 anos, lado a lado com o ex-presidente.
Choquehuanca, de fato, era o favorito da base do Movimento ao Socialismo (MAS) para o cargo de presidente do país. Ex-dirigente da Confederação Sindical Única de Camponeses, mantinha encontros quase diários com os movimentos sociais em seu gabinete do Ministério de Relações Exteriores.
Mas as pressões da burguesia imperialista foram mais fortes que as do movimento popular. Na prática, a escolha de Arce para encabeçar a chapa nas últimas eleições consistiu em um golpe interno no MAS dado pela ala direita. A burguesia só aceitava a volta do nacionalismo burguês ao poder após um ano do golpe de Estado se ela pudesse mantê-lo estritamente sob controle.
Não que Choquehuanca seja um revolucionário. Se, por um lado, a burguesia não o colocou como presidente porque poderia levar adiante um governo mais radical que o de Arce devido às pressões de sua base, por outro o cargo de vice serve também para que ele consiga conter relativamente essas mesmas pressões.
O certo é que a volta do MAS ao governo a partir de um acordo com o imperialismo e, na realidade, sem a derrota do golpe, não tende a arrefecer o movimento popular que tomou as ruas do país desde o ano passado – no máximo o fará a curto prazo. As contradições do regime político, que se inserem na crise dos golpes e do imperialismo no continente, estão longe de terem sido resolvidas. Na verdade, se acentuam.
Resta saber quando e até que ponto atingirão a cúpula do MAS e do governo boliviano.