Uma onda de manifestações movimentou os Estados Unidos e o mundo logo após o assassinato de George Floyd, um afro-americano morto pela polícia em Minneápolis, dia 25 de maio. As formas de repudiar o racismo tomaram corpo de diversas maneiras, que dos protestos coletivos nas ruas às manifestações artísticas individuais, o coro foi e continua sendo o mesmo: vidas negras importam. Na esteira da indignação, o artista Banksy pintou uma obra em apoio à luta antirracista.
Trata-se de uma cena fúnebre, em que ao lado de um retrato de uma sombra negra há velas e flores. Junto a esse ritual tradicional no momento de uma perda, a obra representa também a insubordinação: uma dessas velas queima a bandeira dos EUA que está acima do quadro. Ele escreveu: “Pessoas de cor estão sendo prejudicadas pelo sistema. O sistema branco”. Nesta perspectiva, o artista coloca o luto como um ato político de representação da revolta popular pelo sistema imperialista que precariza, escraviza e extermina aqueles que não se enquadram no estreito e privilegiado enquadre do que seria um humano digno de viver.
Até onde se sabe, Banksy (cuja identidade é anônima) nasceu em Bristol, na Inglaterra. Foi em Bristol que na onda das recentes manifestações derrubaram a estátua de Edward Colstol – um traficante de escravos do século 17 – e a lançaram no rio. O artista britânico propôs em desenho da cena marcante do momento em que os manifestantes arruínam o monumento. Na legenda, ele escreveu: “Eis uma ideia que serve tanto àqueles que sentem falta da estátua de Colston quanto para quem não sente […] Um dia histórico relembrado”.
Diversas outras obras de Banksy pelo mundo carregam esse teor crítico da sociedade capitalista. Assim como diversos outros artistas, o britânico se utiliza da arte como forma de denunciar e resistir às opressões encabeçadas por esse sistema machista, racista e classista que rege as vidas que pouco importam. Reiterar que vidas negras importam, neste sentido, é relembrar que todas as vidas importam, mas que, como bem pensou Judith Butler, nem todas são construídas para importar e que mais do que nunca precisamos nomear aquelas que lutam pelo mundo que merecem.