Desde setembro passado, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, está acima de 10%. Na semana passada, IPCA-15, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado no último dia 25, como uma prévia da situação, indicou que a inflação oficial chegou a 1,17% na variação mensal em novembro, a taxa é a mais elevada para o mês desde 2002.
No acumulado dos últimos 12 meses, o IPCA-15 registra elevação de 10,34% em outubro para 10,73% em novembro. Trata-se da maior desvalorização do poder de compra dos salários desde fevereiro de 2016.
E vai ficar pior
Quase todos os analistas econômicos, apontam que a tendência é de que a inflação continue acima de dois dígitos, pelo menos até abril de 2022, e que, muito dificilmente recuará, no fim do ano, para os 4,7% como “prevê” a equipe econômica, em uma verdadeira campanha publicitária.
Pressionados pelo descontrole no preço dos combustíveis, as despesas da população com transporte cresceram 2,89% em novembro, impactando em mais da metade da inflação medida pelo IPCA-15 no mês, 0,61 pontos percentuais do total de 1,17%. Só a gasolina teve aumento de 6,62%, sendo este o item de maior impacto individual na inflação de novembro: 0,40 ponto porcentual. Ao longo do ano, a gasolina já sofreu reajustes que a tornaram 44,83% mais cara, com alta acumulada chegando a 48% nos últimos 12 meses. Além da gasolina, óleo diesel (8,23%), etanol (7,08%), gás veicular (2,59%) e transportes por aplicativo (16,23%) ficaram mais caros em novembro.
Junto aos combustíveis, o gás de botijão e a energia elétrica também corroem os salários das famílias trabalhadoras. O gás de botijão subiu 4,34% em novembro, acumulando 51,05% de alta desde junho de 2020. Já a energia elétrica ficou 0,93% mais cara em novembro, depois de já ter subido 3,91% em outubro. Sob alegação da escassez hídrica, a bandeira tarifária acrescentou R$14,20 na conta de luz a cada 100 kWh consumidos, permanecendo em vigor desde setembro.
Com os principais vilões da espiral inflacionária sendo justamente os preços administrados pelo governo, fica evidente a participação direta do regime golpista. Das política econômica de Paulo Guedes, apoiada por toda a burguesia golpista que, sempre o apontaram, como o melhor do governo Bolsonaro.
Atendendo aos interesses dos setores mais poderosos e parasitários da burguesia, a crise inflacionária brasileira constitui uma expropriação criminosa das famílias trabalhadoras, com consequências muito duras para a classe trabalhadora.
Expropriação salarial
A Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), do IBGE, indica que a renda média do trabalhador brasileiro no terceiro trimestre atingiu R$2.459. Uma queda de 11,1% em relação ao terceiro semestre do ano passado, quando era de R$2.766 (em valores atuais). O menor valor para o período de julho a setembro havia sido registrado em 2012, com R$2.462.
A desvalorização do salário mínimo – medida por outro índice do IBGE, o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) – , indicador que mede a variação de preços nos artigos de consumo com mais impacto entre as famílias com renda de até 5 salários mínimos, chegou a quase 60%. Para manter o mesmo poder de compra do salário médio de 2012, de R$2.462, seria necessário um aumento de 117,4% o que implicaria em que a média alcançasse a marca de R$5.353.
Desta forma, por meio da inflação e com as medidas contras os salários e o emprego adotadas na campanha pelo golpe e no regime golpista, a burguesia está expropriando mensalmente de cada trabalhador brasileiro, em média, R$2.893, por mês.
Esse valor, multiplicado pelos 93 milhões de trabalhadores brasileiros, alcança um total de R$260 bilhões, surrupiados pela burguesia.
A inflação, apontada pela cínica imprensa capitalista, como um “mal que atinge a todos, pobre e ricos, indistintamente” se mostra aqui, como realmente é: uma ferramenta de roubo sistemático da classe trabalhadora em favor dos grandes capitalistas. Fica expresso em números a solução adotada pela burguesia para “enfrentar a crise”: roubar dos trabalhadores para financiar os bancos, outros tubarões capitalistas e suas máfias políticas.
Essa política se torna ainda intensa com a recessão em que o regime golpista mergulhou o País.
A economia fechou o terceiro trimestre, com queda no PIB de 0,1%, com queda pelo segundo semestre consecutivo, entrando – oficialmente, em termos econômicos – em recessão.
A despeito de alegar a necessidade de impedir a disparada dos preços e a expropriação dos trabalhadores pela via da inflação, o que a burguesia efetivamente faz é achatar a classe trabalhadora por todos os lados, mantendo a reajustes tarifários que seguem puxando a inflação e aumentando exponencialmente as taxas de juros, indiferentes à política recessiva, que destrói a atividade econômica do País, ambas combinadas produzindo uma explosão crescente da miséria no Brasil.
Lutar pelo “gatilho salarial”
Na vida da classe trabalhadora, o resultado de toda essa política recessiva e de expropriação da imensa maioria do povo, em favor do imperialismo, é a quebra constante dos recordes de fome, miséria e desemprego nos últimos anos.
Frente a essa situação dramática, coloca-se como tarefa central para a esquerda classista e para as organizações de luta dos trabalhadores a luta pela reposição de 100% das perdas salariais, diante de uma situação em que mais de ⅔ dos acordos coletivos assinados neste ano e que cobrem apenas uma parcela minoritária da classe trabalhadora, que tem carteira assinada, terminaram com imposição de reajustes abaixo da inflação dos 12 meses anteriores.
Para proteger os salários diante da alta inflacionária, é preciso uma campanha nacional em defesa do reajuste salarial automático, para todos os trabalhadores, toda vez que a inflação superar determinado patamar, como por exemplo 3%. Trata-se de lutar pelo “gatilho salarial”, pela escala móvel dos salários, para que os salários deixem de ser brutalmente reduzidos diante da inflação.contra