Não causou surpresa alguma quando a dirigente Vera Lúcia, do PSTU, ex-candidata à Presidência da República pelo partido morenista, veio a público atacar o governo cubano no mesmíssimo momento em que o imperialismo busca desestabilizar o país.
Segundo disse a ex-candidata, “se Cuba fosse socialista o povo cubano controlaria o seu estado e não estaria nas ruas lutando contra ele por liberdade. Não confunda ditadura do proletariado com ditadura sobre o proletariado”.
Em abstrato, a frase não quer dizer muita coisa. No entanto, se levarmos em consideração que ela foi dita no momento em que o imperialismo está organizando “coxinhatos” na ilha, impulsionados pela imprensa capitalista, que está dizendo que o País vive uma espécie de colapso social, a frase é muito clara: “os atos são populares, progressistas, operários”. Não se trataria de uma manobra imperialista, semelhante à que foi realizada no Brasil, em Honduras, na Ucrânia e em dezenas de outros países desde a crise de 2008. Para o PSTU, o “povo” cubano estaria nas ruas porque quer a derrubada da “burocracia contrarrevolucionária” que controla o regime cubano. Dito de outro modo, como o PSTU é um partido que se diz revolucionário, estaria em marcha, em Cuba, uma revolução, que levaria a uma experiência ainda mais profunda do povo com o Estado Operário.
Se é assim, o PSTU teria que explicar porque os Estados Unidos estariam tão interessados nessa revolução…
Acontece que o PSTU, como expressão mais sectária da política da esquerda pequeno-burguesa, está conseguindo um feito inacreditável: manter-se perfeitamente coerente e defender, sempre, o imperialismo nos momentos de choque com os governos que pretende derrubar. No Brasil, o PSTU defendeu com unhas e dentes a política de “Fora todos” — que era apenas uma desculpa para defender o “Fora Dilma”. Tanto é assim que o “Fora Dilma” levou ao governo Temer e o governo Temer, ao governo Bolsonaro. Mas o PSTU demorou quase dois anos para defender sequer o impeachment do governo Bolsonaro…
Na Ucrânia, o PSTU chamou de revolução um processo que levou a uma ditadura nazista no país europeu. E até hoje chamam assim… Na Síria, onde crianças são bombardeadas todas as semanas simplesmente porque o imperialismo quer tomar o petróleo da região – e o PSTU clama: “fora Assad!”. No Líbano, recentemente, mesmo com o presidente francês dizendo com todas as palavras que pretendia intervir no país que havia sido destruído por um conjunto de explosivos, o PSTU voltou a defender a queda do governo… Já no caso da Nicarágua, o PSTU chegou a ganhar uma coluna no jornal golpista Folha de S.Paulo só para defender a queda de um governo nacionalista…
O caso de Cuba é ainda mais bizarro. A desculpa do PSTU para defender o imperialismo nos casos anteriores era o de que os governos seriam governos burgueses, de conciliação de classes, entre outras críticas morais. Até aí, tudo bem, é fato. O que o PSTU ignora somente é que, embora sejam governos de conciliação de classes, são a expressão de um fenômeno — o nacionalismo burguês — que é assentado sobre um poderoso movimento popular. E ignoram, portanto, que a ofensiva do imperialismo sobre esses governos não parte do interesse de derrubar a burguesia, mas sim de expulsar esse movimento popular do regime para que fosse controlado direta e exclusivamente pelo imperialismo. O objetivo da derrubada do governo do PT, por exemplo, nunca foi extirpar o MDB, mas sim, obviamente, excluir Lula, o MST e a CUT do regime político, de modo que quem governasse fosse a ala pró-imperialista da burguesia para que esta entregasse a economia nacional ao imperialismo.
Em Cuba, não há um governo de conciliação de classes. Há um governo que surgiu de uma revolução social, um governo que expropriou a burguesia e que, apesar das críticas que pode receber a respeito da condução da revolução, é um governo legítimo e apoiado pela esmagadora maioria dos trabalhadores. Um governo, finalmente, onde a Saúde, a Educação e a Infraestrutura são todas controladas pela população.
O PSTU se diz “trotskista”, mas ignora completamente que o revolucionário Leon Trótski, embora fosse o maior e mais certeiro crítico da burocracia stalinista, colocava abertamente a política que o movimento operário deveria seguir: a defesa intransigente da União Soviética das investidas imperialistas.
E Trótski dizia isso referindo-se, aí sim, a uma burocracia contrarrevolucionária, que o assassinou depois. Porque não se tratava da defesa de Stálin ou mesmo do governo soviético, mas sim do Estado Operário soviético, ou seja, da revolução soviética. No caso de Cuba, o ataque dos pseudotrotskistas sequer pode utilizar o argumento de que o governo é composto por uma burocracia contrarrevolucionária, restauracionista e antioperária. O presidente Díaz-Canel convocou os trabalhadores e os revolucionários a lutarem contra a desestabilização golpista nas ruas, e eles atenderam ao chamado, mostrando que o povo está do lado do governo cubano e não contra ele.
Os trabalhadores cubanos têm sim, logicamente, reclamações e reivindicações. Mas nenhuma delas passa pela derrubada do governo. A derrubada do governo cubano, como conhecemos hoje, seria a derrubada do Estado Operário cubano. Os trabalhadores cubanos têm plena consciência disso e sabem que isso significaria a derrubada da Revolução Cubana. Por isso as manifestações oposicionistas são apoiadas pelos EUA e pelo conjunto do imperialismo, e não pelo povo cubano. Somente os mais confusos dos que se dizem revolucionários poderiam acreditar nessa propaganda vendida pelo imperialismo.