Na última semana, chegou ao nosso conhecimento um cartaz virtual veiculado pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), com os seguintes dizeres: PSOL cobra plano de combate à pandemia do novo Ministro da Saúde. No canto da imagem, ainda se pode ler a seguinte palavra de ordem: Fora Bolsonaro.
O cartaz chama bastante a atenção, tanto pela total incoerência entre a informação apresentada e a palavra de ordem, quanto pela demagogia sem limites. Ora, se o PSOL está defendendo o Fora Bolsonaro, isto é, o fim do governo ilegítimo de extrema-direita, comandado por Jair Bolsonaro, que sentido haveria em cobrar um plano de combate à pandemia ao seu ministro?
Para isso ter algum sentido, seria necessário considerar a hipótese — absurda — de que Nelson Teich é, por alguma razão sobrenatural, ministro da Saúde independente da vontade de Bolsonaro. Isto é, como se o cargo de ministro da Saúde não correspondesse a uma nomeação direta do presidente, mas sim a algum mecanismo de seleção autônomo em relação ao presidente ilegítimo, como a indicação do parlamento ou por meio do voto popular. Esse não só não é o caso — é o presidente quem o escolhe — como, efetivamente, Teich foi, muito claramente, escolhido para o cargo porque está alinhado com a política de Bolsonaro para a pandemia do novo coronavírus. Tanto é que Teich assumiu o Ministério após o seu antecessor, Luiz Henrique Mandetta, expressar algumas divergências em relação à política que o presidente ilegítimo estava impondo.
A conclusão óbvia à qual nós teríamos de chegar, portanto, é a de que Teich é o Bolsonaro da Saúde, isto é, a representação mais ou menos exata da política bolsonarista aplicada ao Ministério da Saúde. Desse modo, a defesa concreta do Fora Bolsonaro só se daria em uma defesa concomitante pelo Fora Teich e pela expulsão de todos os parasitas do regime político que representam a política genocida da burguesia. Se o objetivo do PSOL, ao dizer Fora Bolsonaro, é apenas retirar Bolsonaro do Palácio do Planalto, mantendo todo o governo montado para que a direita seguisse atacando duramente os trabalhadores, fica escancarada, portanto, uma política criminosa, a política de frente ampla com a burguesia em torno da sustentação do regime político.
Em relação à demagogia, é preciso dizer que, além do fato de que defender a permanência de Teich é um absurdo por parte de qualquer organização de defesa os trabalhadores, cobrar um ministro tipicamente fascista para que adote um plano em defesa da população é uma política inócua. Teich não ouvirá os clamores do PSOL por um plano — tal iniciativa só se justifica no âmbito de uma política de tipo eleitoreira, que busque convencer determinados setores da população de uma determinada posição do PSOL em relação ao coronavírus. Não contribuirá em nada para impedir que a pandemia se alastre e mate milhares de trabalhadores.