Se é certo que a crise do governo Bolsonaro está em progressão, também é certo que cresce a divisão entre as forças interburguesas. Nesse contexto, a esquerda deveria aproveitar a situação e ocupar um lugar predominante uma vez que aumenta a instabilidade do regime golpista. Entretanto, não é isso que está acontecendo, muito pelo contrário, cada vez mais a esquerda está a reboque de forças da direita golpista.
Assim, até mesmo a saída de Bolsonaro, que é anunciado como “aspiração” das forças oposicionistas, não ultrapassa os limites estabelecidos pelas forças burguesas. Na entrevista do governador do Maranhão, Flávio Dino, para o site do jornal Nexo, com a sugestiva chamada “Impeachment não vai acontecer agora e nem deve“, é ilustrativo de como a política de “frente ampla” coloca a esquerda seguindo caninamente a “direita civilizada”. Além disso, o governador do PCdoB enfatiza que a “oposição” não pretende que Bolsonaro seja efetivamente retirado da presidência.
“No entanto, não imagino que isso [impeachment] vá acontecer agora, e acho que nem deve, porque Bolsonaro tem que governar e assumir suas obrigações no auge da crise.”(www.nexojornal.com.br)
Como se vê, a posição do governador Flavio Dino revela que as articulações da frente ampla com os governadores e com Rodrigo Maia, presidente da Câmara de deputados, não visam nem mesmo ao impeachment, mas fomentam uma política de “oposição”, que tem como cerne o mero desgaste do governo Bolsonaro, para dividendos eleitorais dos políticos vinculados à direita tradicional.
Na realidade, a afirmação de que “Bolsonaro tem que governar e assumir suas obrigações no auge da crise”, proferida por Flávio Dino, significa que, mesmo com o aprofundamento da crise política em decorrência da propagação devastadora da pandemia do Covid-19, a “oposição” continua com a política de pressionar; mas, no fundamental, deixar Bolsonaro “governar” significa ter sucesso nos seus ataques contra o povo. É esse o tipo de governo a que os golpistas se propõem.
A política advogada pelo PCdoB em relação ao governo Bolsonaro é, no fundamental, a mesma da “direita civilizada”, ou seja, usar os acontecimentos e as contradições do próprio governo para tentar enquadrar Bolsonaro, ao mesmo tempo em que procura resgatar os políticos burgueses dos partidos tradicionais do regime político.
Os editoriais indignados da imprensa burguesa, os discursos exaltados dos governadores da extrema-direita, bem como as notas do “Fora Bolsonaro” da esquerda oportunista parlamentar, fazem parte dessa unidade pela defesa das “instituições democráticas”, que buscam o enquadramento do governo da extrema-direita. A política do PCdoB é a busca de um lugar ao sol em novo rearranjo político com a direita no regime golpista, e, se possível, com o próprio Bolsonaro.
A grande questão é que essa política de frente ampla coloca os trabalhadores e a esquerda, não somente à reboque, mas em uma posição de subordinação a setores da direita golpista.
A defesa do “deixa Bolsonaro governar”, pois ele é o presidente e precisa resolver os problemas do país, está ultrapassada até mesmo pela maioria da esquerda. O problema é que essa política do PCdoB é uma das principais mobilizadoras da frente ampla, e mostra que essa frente, na realidade, não tem o objetivo de tirar Bolsonaro do poder, mas de enquadrar Bolsonaro na política do “centrão”.