Guilherme Boulos

Ocupando a bolsa

Figura do PSOL está na bolsa... mas qual?

— Ai!

— Ui!

— Apertado, hein?

— Só no começo, daqui a pouco você se acostuma. Relaxa.

— Precisava ser tão escuro?

— E para que você precisa de luz?

— Ora, para saber onde eu estou!

— Você não sabe onde está?

— Claro que eu sei. Eu estou na bolsa. Ai!

— O que foi?

— Muito rápido.

— Daqui a pouco a gente para.

— Que seja. Qual o seu nome?

— Pérez.

— Só Pérez?

— Alice Yaku Pérez. E a sua graça?

— Guilherme Boulos. Você mora aqui?

— Sim.

— Mas você fez como eu, invadiu?

— Eu pensava igual a você, que tinha invadido. Só depois fui perceber que a bolsa sempre esteve aberta para pessoas como nós.

— Nós?! Há outras pessoas aqui?

— Claro. A Malala, a Greta, o Guaidó… Pode ter certeza que você não é o primeiro a chegar.

— E esse senhor que carrega a bolsa, quem é?

— Tem vários nomes. Eu prefiro chamar de democracia.

— Posso chamar de liberdade?

— Ou também de pluralidade, ajuda humanitária… Faça como quiser.

— E como é que a gente faz para se alimentar?

— É só pedir, qualquer coisa.

— Qualquer, qualquer coisa?

— Sim, nós somos especiais para o homem da bolsa. Qualquer coisa.

— E aonde ele nos leva?

— Aonde ele quiser.

— E a minha liberdade?!

— Ora, você tem a liberdade de escolher o que vai comer, não para onde vai. Do que importa saber aonde vai?

— Não muito, mas isso não é democrático.

— Você tem o direito democrático de escolher estar dentro da bolsa conosco ou estar lá fora com todos, na miséria. É isso que chamamos de ajuda humanitária.

— Bom, se é assim, prefiro ficar na bolsa, no bolso, em qualquer lugar.

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