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"Ainda discutem" apoio a Lula

O PSOL quer derrotar Bolsonaro ou negociar vantagens eleitorais?

Em entrevista, Juliano Medeiros mostra o que realmente pensa o PSOL por que até o momento não se somou à campanha por Lula presidente

Juliano Medeiros, presidente nacional do PSOL

O presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros afirmou em entrevista ao jornal Correio Braziliense que seu partido “ainda“ está “debatendo o apoio” à candidatura do ex-presidente Lula (PT). Mas por que a indecisão? O que estão esperando? Por que não o fizeram até agora?

O PSOL ainda não se comprometeu com a única “unidade da esquerda para derrotar Bolsonaro” possível nesse momento. Ora, o próprio presidente do partido explicou que “[para derrubar Bolsonaro] é importante o papel de uma unidade entre os partidos de esquerda”. Então por que não se lançaram na luta lado a lado com o único candidato de esquerda capaz de derrotar o atual presidente nas urnas? Vejamos.

A Frente Ampla não decolou

Juliano Medeiros revelou na entrevista que existe uma consideração com bastante peso dentro do PSOL, ou melhor, que o PSOL tem outro candidato em alta consideração: “sabemos que hoje, isso [unificar a esquerda] é difícil, principalmente pela posição do Partido Democrático Trabalhista (PDT), com a candidatura do Ciro, oposta à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas vamos trabalhar para isso”, afirmou.

É curioso, no mínimo, que quando o PSOL pensa em “unificar a esquerda” o maior problema seja o fato de o representante de uma das oligarquias do Nordeste, um político de direita disfarçado de esquerdista, não apoiar Lula.

Também é notório que o PSOL se esforçou, juntamente com o PCdoB (que, igualmente, ainda não se decidiu sobre o apoio a Lula) na tentativa de unir-se com o PDT de Ciro Gomes no período em que ocorreram os atos públicos pelo “fora Bolsonaro” no ano passado.

É igualmente digno de nota que a tentativa de costurar uma “frente ampla” (“o mais ampla possível“ segundo uns), unindo a esquerda à direita (até mesmo o PSDB!), fracassou há muito tempo.

Ficou evidente que os elementos mais conscientes no meio da esquerda, que eram maioria nos atos públicos, rejeitaram completamente essa política do começo, quando a suposta “ala LGBT” do PSDB foi expulsa por manifestantes da Av. Paulista em julho, ao fim, quando Ciro Gomes foi vaiado até sair correndo do carro de som, em outubro.

Os militantes e ativistas do movimento operário e popular rejeitaram categoricamente a “frente ampla”, mas não os políticos pequeno-burgueses que pretendem dirigi-los. Por isso ela não decolou e por isso líderes do PSOL, do PCdoB e de outros partidos decidiram liquidar as manifestações. Decidiram que elas não haviam “se ampliado o bastante”. Procuraram uma outra via: a terceira via. Só que…

A terceira via naufragou, mas a Rede, não

Se a aliança com direitistas não decolou, a tentativa de substituir Lula por um direitista afundou mais que o Titanic. O primeiro destacamento dos partidos de esquerda, dos sindicatos e organizações populares cerrou fileiras contra Bolsonaro, mas rejeitou uma aliança com o PSDB de João Doria e o PDT de Ciro Gomes. Por que é que aceitariam algo ainda pior? Por que trocariam Lula, o principal nome na esquerda, por um político pequeno-burguês como Guilherme Boulos ou diretamente burguês, como Ciro Gomes ou João Doria? 

O PSOL decididamente não aprendeu a lição dada pelo povo nas ruas a partir de maio do ano passado. Insiste até agora em que a unidade da esquerda depende da adesão de políticos burgueses como Ciro Gomes. Por isso, antes de decidir-se a apoiar Lula ou não, o PSOL está engajado em negociações para a formação de uma federação partidária, um “casamento” com a Rede de Marina Silva.

Perguntado sobre isso, Juliano Medeiros disse estar ”otimista” e que “é possível chegar a um entendimento”. 

Mas, se considerarmos apenas os interesses particulares do próprio PSOL, a derrota da política direitista de “frente ampla” e o fracasso da “terceira via” são apenas um pretexto. Encobrem o verdadeiro motivo pelo qual o partido de Juliano Medeiros e Guilherme Boulos não decidiu “ainda” lançar-se na campanha por Lula presidente. “Hoje, o debate com a Rede envolve candidaturas nos estados, o que é sempre delicado, e o debate sobre a questão presidencial. Outro ponto importante seria a posição da federação sobre a disputa presidencial”, disse e assim ofereceu uma primeira hipótese para solucionar a questão: “por que o PSOL não decidiu apoiar Lula ainda?”

– Porque a Rede e outros setores de direita disfarçados de esquerdistas, como o PDT de Ciro Gomes, não querem.

O PSOL ainda não conseguiu o que queria

Juliano Medeiros apresentou, indiretamente, outra explicação do porquê o PSOL ainda não ter apoiado a candidatura de Lula. É um dado muito mais importante e significativo do que o lamento por Ciro Gomes, a “lei de Gerson”: o PSOL ainda não viu vantagem em apoiar o ex-presidente.

Ele, no entanto, não abandonou a empreitada. “É claro que vamos negociar também”, disse Medeiros, sabedor de que é possível tirar bastante proveito eleitoral do apoio dado ao candidato mais votado de toda esquerda nacional. O presidente do PSOL certamente sabe também das desvantagens. Conhece o alto risco de prejuízo eleitoral que está correndo. Ele sabe que um partido minoritário e ávido por cargos e mandatos como o PSOL pode se dar muito mal se fizer oposição a Lula em meio à luta contra a direita. O PSTU que o diga…

Mas, afinal, o que está em jogo para o PSOL? Derrotar Bolsonaro por meio da “unidade entre os partidos de esquerda”, ou apenas um comércio eleitoral?

Ninguém quer Alckmin…

Juliano Medeiros denota um certo esforço do PSOL para fazer parecer que estão defendendo princípios políticos dos mais elevados. “Vamos debater o programa, o vice”, disse.

Ele dá a entender que o PSOL só não decidiu ainda apoiar Lula, a erguer bem alto a bandeira da unidade da esquerda contra Bolsonaro, porque queria saber quem seria o vice na sua chapa e talvez incluir alguma proposta controversa, talvez até radical demais, no programa, ou algo assim. 

O argumento do PSOL se apoia nessas coisas, e elas têm mesmo uma realidade. Ninguém que seja realmente coerente na luta contra a direita e a extrema direita quer ver um neoliberal na chapa com Lula. Ninguém que realmente defenda, por princípios, o socialismo, quer se aliar a um direitista, um representante da política que destruiu o Brasil nos oito anos de governo do PSDB.

Até mesmo uma parcela de dirigentes do PT, como Rui Falcão, José Genoíno e outros se opuseram a uma aliança com Alckmin. Por isso é fácil dizer: “Nós somos críticos à opção de ter Geraldo Alckmin como vice”, como disse o presidente do PSOL.

Todos querem que Lula faça um governo de esquerda

Mais ainda: a experiência com 14 anos de governos do PT deixou claro que a política de Lula não é a mesma da direita neoliberal, mas uma política convencional da esquerda burguesa e pequeno-burguesa, de reformas sociais, de minoração do sofrimento do povo e manutenção, no essencial, do funcionamento do regime político e econômico, do capitalismo. 

Isso está bastante evidente agora, seis anos depois do golpe de 2016, da prisão de Lula e das recentes declarações marcadamente antiimperialistas do ex-presidente, bastante esquerdistas para a política tradicionalmente moderada defendida pelo PT.

É com base nisso que, sem apresentar nada muito diferente, Juliano Medeiros tenta dar a entender que está à esquerda de Lula e do PT. Mas isso não é verdade e o apoio do PSOL à Lava Jato, por exemplo, demonstrou isso fartamente.

Tudo o que o presidente do PSOL consegue fazer é insinuar uma crítica que, na verdade, é um elogio à política de conciliação de classes, uma receita de como entrar em um acordo com a direita: “Muita gente no PT compara o Alencar com o Alckmin. Alencar era um nacionalista, empresário, um sujeito de centro. Alckmin defendeu toda a agenda neoliberal do governo Temer, defendeu a reforma trabalhista, defendeu os crimes cometidos pela Operação Lava Jato. Eu acredito que o Alckmin está muito mais para Temer do que para José Alencar”, declarou.

Não é pelo programa…

Está claro: uma aliança com um político de direita como o finado José Alencar (PMDB/PL/PRB) não foi (e não é) impedimento para o PSOL apoiar Lula. Boa parte do PSOL estava dentro do PT da primeira vez que Lula fez esse tipo de aliança. Não há problema de princípios aí. 

Outro ponto importante seria a posição da federação sobre a disputa presidencial e, obviamente, o tema programático da federação: propostas de política econômica, combate à desigualdade, proteção ao meio ambiente. Se fosse considerar uma corrida de 100 metros sobre a conclusão positiva da federação, acho que teríamos percorrido uns bons 50 metros”, declarou Juliano Medeiros.

Sobre o já mencionado Ciro Gomes, o presidente do PSOL afirmou que “respeita sua a candidatura” e que “não há debate no PSol para um possível apoio a ele”. “Mas…” (sempre tem um “mas”) Juliano Medeiros acha que Ciro Gomes “é um homem de ideias que tem um projeto para enfrentar a crise do país”.

Mais ainda. “Concordo com alguns pontos do projeto [de programa de Ciro Gomes], discordo de outros, mas tem conteúdo”, disse o presidente do PSOL. “Acho que em um projeto das esquerdas, como vice ou mesmo se Lula não fosse candidato, o Ciro poderia ser um nome para unir as esquerdas“, arrematou.

Pelo que diz o seu presidente, o PSOL parece ter mais acordo “programático” com dois legítimos partidos burgueses do que com Lula e o PT.

Ora, se o PSOL está na metade do caminho de um acordo programático com a Rede e o PDT, por que é que não chegaria a um acordo com o PT, que é um partido reformista muito mais consequente e ligado aos trabalhadores e a população pobre e oprimida do País?

E se estaria disposto a apoiar um coronel como Ciro Gomes, por que não apoiaria Lula? Ainda mais se, como afirmou Medeiros, “Lula tem muito mais força eleitoral e capacidade muito maior de agregar partidos de esquerda”?

Parece absurdo, mas talvez a única explicação para isso seja que justamente a Rede não é o PT e Lula não é Ciro Gomes.

E daí se Lula não ganhar no 1º turno?

Repercutindo a entrevista, um órgão de imprensa oficioso do PSOL destacou outra questão: “Presidente do PSOL duvida de vitória de Lula no 1º turno”, diz o título de um artigo publicado no portal Revista Fórum, de Renato Rovai.

Independentemente de fazer ou não uma aliança com todos os partidos de esquerda no primeiro turno, vai ter segundo turno. Não acredito na vitória de Lula no primeiro. Acredito que quem está alimentando essas ideias de que vai ser fácil ganhar do Bolsonaro está vendendo ilusões”, afirmou Medeiros.

Deste modo, o presidente do PSOL apresenta mais um motivo do seu partido contra o apoio à candidatura de Lula:

– Não adianta apoiar Lula agora, ele não vai ganhar no primeiro turno.

Medeiros diz ainda que considerar que é possível vencer Bolsonaro no primeiro turno “é uma percepção perigosa das eleições deste ano“ pois ele próprio não subestima “a capacidade de Bolsonaro trazer dificuldades para o processo eleitoral e de promover um segundo turno”.

Com esse prognóstico taxativo, Juliano Medeiros estaria então fazendo uma profecia auto-realizável (a tal “self fulfilling prophecy” como dizem os norte-americanos): Lula não vai ganhar no primeiro turno porque o próprio PSOL vai contribuir para dividir sua votação, enfraquecer a sua candidatura, impedir a tão desejada “unidade da esquerda para derrotar Bolsonaro”.

Pois bem, a dialética é cruel com quem vê o mundo só pela metade.

O PSOL e seu presidente precisam explicar se estão recusando apoiar Lula até agora porque querem discutir o programa, o vice, as alianças, etc., ou se é porque acham que seu apoio não fará diferença. E se não faz diferença, por que querem discutir o programa, o vice, as alianças, etc.?

Mas, certamente o presidente do PSOL acha que seu partido tem alguma importância, algum peso, alguma contribuição a dar na campanha para derrotar Bolsonaro, do contrário não estaria regateando seu apoio a Lula.

Afinal, o que o PSOL quer?

Se apoiasse Lula, seria a primeira vez que o PSOL participaria das eleições sem apresentar seu próprio candidato à Presidência. 

Para chegar a um acordo sobre o programa com a Rede e o PDT, disse Juliano Medeiros, o PSOL está a meio caminho andado.

Se abrir mão da candidatura própria fosse uma obrigação, não estariam muito longe de apoiar Ciro Gomes. Pelo contrário, o presidente do PSOL acha até que “se Lula não fosse candidato, o Ciro poderia ser um nome para unir as esquerdas“.

Por que, então, ainda não decidiram dar a sua contribuição e exemplo para “unir a esquerda” em torno de Lula contra Bolsonaro?

Queremos debater composições nos estados. Há um conjunto de temas que vão estar na mesa para negociação com PSOL e PT”, disse o presidente do PSOL.

Ora, para firmar uma união tão duradoura como a federação partidária em discussão com a Rede, o nível de exigência é mínimo: discutir divergências e convergências em questões que não têm a menor chance de vingar se Bolsonaro ou outro golpista se mantiver no governo ou no controle da maioria do Congresso Nacional.

Mas, quando se trata de apoiar Lula, uma candidatura de esquerda mais ligada ao movimento operário e popular, muito mais à esquerda no espectro político do que a Rede e o PDT, uma candidatura de unidade para derrotar Bolsonaro e, consequentemente, o golpe de Estado de 2016 de conjunto, a grande discussão, o grande obstáculo, são os cargos que se pode ganhar ou perder aqui e acolá. 

Não é a unidade para derrotar Bolsonaro o que realmente importa, mas a composição dos palanques estaduais. Não são princípios, mas carreiras políticas que estão em jogo. O problema não é apoiar ou não uma chapa com um candidato a vice-presidente direitista, mas quantos deputados o PSOL consegue eleger se apoiar Lula. Não há uma verdadeira preocupação com a situação política, econômica e social do país, apenas cálculos eleitorais, puro tráfico de influências e negociações de bastidores comezinhas, típicas dos partidos burgueses, da “velha política“ que o PSOL diz tanto combater.

Lula não ganhará se for sabotado pela esquerda

Não dá para negar. É não apenas possível, como necessário e urgente (faltam apenas oito meses para as eleições), discutir questões como a composição da chapa e o programa que será apresentado por Lula seja lá com qual vice for. Mas isso não é impedimento a uma aliança eleitoral com Lula para derrotar Bolsonaro e todos os golpistas.

O PCO coloca todas essas questões em debate cotidianamente na sua imprensa e, desde o ano passado, vem fazendo campanha pela eleição de Lula em torno de um programa de luta contra a direita e a extrema direita, contra a burguesia “nacional” e o imperialismo.

O PSOL não faz o mesmo e deixa claro que, ao não apoiar a candidatura de Lula desde já, não está preocupado com o resultado, mas com as vantagens que pode obter e, justamente por isso, contribui para dificultar a vitória de Lula e, consequentemente, favorecer Bolsonaro e a direita golpista.

Rafael Dantas

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