O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), em entrevista recente à GloboNews, declarou que a esquerda deveria ter como pauta central a questão da corrupção. Ecoando a imprensa capitalista, Freixo defendeu que a esquerda fizesse uma autocrítica e que incorporasse o combate à corrupção a seus programas. Disse Freixo:
O setor progressista precisa fazer um debate sobre a questão da corrupção. Não dá para fingir que esse é um debate para o qual a sociedade não está atenta. A sociedade está atenta e está cobrando. Se os setores progressistas acharem que a questão do combate à corrupção é um debate secundário, eles não ganham mais nenhuma eleição.
Ao contrário do que defende o deputado psolista, o “combate à corrupção” não deve ser pauta de nenhuma organização da esquerda ou de qualquer setor democrático. Tal combate sempre servirá aos interesses da burguesia, que é a classe que controla todas as instituições do Estado envolvidas nas investigações e nas punições aos supostos corruptos. É também a burguesia quem controla os maiores órgãos de imprensa, de modo que os casos de corrupção que são destacados são aqueles que interessam às camadas dominantes.
Historicamente, o “combate à corrupção” sempre foi utilizado como pretexto para que a burguesia atacasse os direitos democráticos dos trabalhadores, saqueassem suas riquezas e estabelecessem ditaduras. Foi a “corrupção”, o “mar de lama”, o principal pretexto que a direita golpista utilizou para atacar o governo nacionalista de Getúlio Vargas. Foi também esse o pretexto utilizado para entregar o regime político italiano nas mãos do mafioso Silvio Berlusconi.
É também o “combate à a corrupção” que está destruindo o Brasil a passos velozes. A campanha moralista em torno da corrupção criou condições para que a burguesia derrubasse um governo democraticamente eleito para pôr em seu lugar um governo neoliberal, disposto a destruir direitos trabalhistas e entregar o patrimônio nacional aos bancos. A mesma campanha levou à prisão política do maior líder popular do país e colocou na Presidência da República o fascista Jair Bolsonaro.
A justificativa de Marcelo Freixo para defender o “combate à corrupção” é a de que a sociedade estaria “atenta” a esse “debate”. No entanto, isso não passa de uma falsificação da imprensa burguesa. O “combate à corrupção” é uma pauta que foi concebida e impulsionada pelo imperialismo, não é uma pauta espontaneamente levantada pelos trabalhadores. Se houvesse um apoio real da população ao “combate à corrupção’, Lula não teria alcançado o topo das intenções de voto em 2018, já que a campanha que foi geita de calúnias contra Lula foi enorme.
Dizer que a sociedade está “cobrando” que a corrupção seja combatida é outra distorção da realidade apresentada por Marcelo Freixo. Afinal, todas as manifestações que tinham como pauta o “combate à corrupção” se mostraram como atos artificiais, financiados pela burguesia e sem qualquer participação das organizações de luta do movimento popular e do movimento operário. Pelo contrário, o povo tem saído às ruas para lutar contra os ataques do governo Bolsonaro, para lutar para derrubar esse governo, não numa defesa abstrata da “luta contra a corrupção”.
A preocupação com Freixo, portanto, não é com os interesses da população, mas sim com a chamada “opinião pública”. Isto é, o deputado não está interessado em travar uma luta pela melhoria das condições de vida daqueles a quem diz representar, mas sim em defender as pautas que a imprensa burguesa considera que sejam importantes. Por que se orientar pelas pautas da imprensa capitalista? Freixo já respondeu isso em sua fala: “se os setores progressistas acharem que a questão do combate à corrupção é um debate secundário, eles não ganham mais nenhuma eleição“.
O “combate à corrupção”, em meio à esquerda, só faz sentido para aqueles setores que estão interessados em manter seus cargos a todo custo. Ou seja, para aqueles que estão dispostos a permitir que a direita devaste o país, em troca de uma reeleição ou da manutenção de sua carreira na política.
O que Marcelo Freixo revela, em sua entrevista, é o interesse em colaborar com a direita para aprofundar a ditadura do regime político golpista. A luta fundamental da sociedade, para Freixo, não seria a dos explorados contra os vigaristas que esfolam a população diariamente, mas sim a união da esquerda com os golpistas para que o regime político possa reprimir todos os inimigos do imperialismo:
“Eu acho que o pacote de Moro em relação às medidas contra a corrupção, eu sou muito favorável a boa parte delas. Eu acho que nós temos de ter medidas de enfrentamento à corrupção. Eu não tenho dúvida disso e nisso eu tenho pouca divergência aos pacotes de Alexandre de Moraes e de Moro”.
Os trabalhadores não devem aceitar nenhuma aliança com os partidos e os representantes da burguesia. É necessário, portanto, traçar uma política independente, que permita que todos os explorados se choquem com os golpistas e ponham abaixo o regime construído para manter a dominação da burguesia. Abaixo a Lava Jato e todas as perseguições políticas! Liberdade para Lula e todos os presos políticos! Fora Bolsonaro e todos os golpistas!