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Eduardo Vasco

Militante do PCO e jornalista. Materiais publicados em dezenas de sites, jornais, rádios e TVs do Brasil e do exterior. Editor e colunista do Diário Causa Operária.

Evo enfrenta o golpismo e o imperialismo nas eleições bolivianas

Ao contrário da maioria dos governos de esquerda na América Latina, a Bolívia tem vivido uma situação política relativamente calma nos últimos anos. É o país com o maior crescimento econômico do Cone Sul segundo os principais órgãos regionais e internacionais, como a Cepal, o Banco Mundial e o FMI.

Isso se deu graças à revolução popular que ocorreu no início dos anos 2000. Indignado com a fome e a miséria elevadas pela política neoliberal, o povo boliviano se levantou contra a privatização da água em 1999 (Guerra da Água), contra a exportação do gás a preço de banana para os EUA em 2003 (Guerra do Gás) e pela nacionalização dos hidrocarbonetos em 2005 (Segunda Guerra do Gás). Os presidentes se sucediam um após o outro em questão de meses devido às renúncias causadas pela esmagadora pressão popular.

A Bolívia, historicamente o país mais pobre da América do Sul, apesar de ter enriquecido a Europa com a prata das minas de Potosí, não aguentava e não admitia mais tamanha pilhagem. Em 2004, tinha o menor IDH do subcontinente, contava com 63% de desempregados ou subempregados e 88% dos índios e descendentes (a maioria da população) vivia na pobreza. Apesar disso, 28% do PIB era destinado ao pagamento da dívida externa.

Foi justamente o índio Evo Morales quem despontou como liderança institucional dessa revolta. O povo, mesmo que de maneira desorganizada, estava a ponto de tomar o poder por conta própria, tamanha a crise do regime político, em frangalhos. O Movimento ao Socialismo (MAS), que se tornou um partido nacionalista com tendências socialistas reformistas, capitalizou a insatisfação popular e chegou ao poder nas eleições de 2005, após Morales ter perdido por apenas 1,6% dos votos o pleito presidencial de 2002.

Seu governo adotou uma política nacionalista radical se comparada com seus contemporâneos (Lula, os Kirchner, Mujica, Bachelet) mas extremamente moderada para as necessidades do povo boliviano. Manteve o país sob o controle da burguesia, embora seu governo tenha significado a entrega do anel pelos capitalistas para que não perdessem o dedo.

Importantes reformas sociais foram feitas, como a instalação de uma Assembleia Constituinte composta em sua maioria por membros do povo e da esquerda institucional. Nacionalizou as reservas de recursos naturais, embora não tenha cortado todo o controle do capital estrangeiro, e com o aumento exponencial da arrecadação do Estado investiu em programas sociais fundamentais para a maioria da população – educação, saúde, moradia, transporte.

A direita, graças ao movimento popular que derrubou os presidentes neoliberais, um a um, ficou extremamente acuada. Entretanto, sempre trabalhou para sabotar e, quando surgisse a necessidade, derrubar o governo do MAS.

Em 2008, quase levou o país a uma guerra civil quando os departamentos da região leste (conhecida como Meia Lua), governados pela direita, buscaram se separar do resto do território. Foi mais uma vez a mobilização popular que derrotou esse ataque – tramado desde os EUA, e por isso Morales expulsou o embaixador norte-americano da Bolívia. Nesse meio-tempo, o presidente convocou um referendo revogatório inédito no qual 68% dos bolivianos votaram pela sua permanência no cargo.

Essa nova derrota da direita foi fundamental para uma nova alavancada no processo de mudanças políticas e sociais da Bolívia. Em 2009, 61% da população aprovou a nova constituição em referendo e no mesmo ano Evo foi reeleito com 64% dos votos, obtendo também ⅔ do Congresso. Nas eleições seguintes, em 2014, o MAS preservou essa maioria no legislativo e Evo foi eleito para um terceiro mandato com 61,3% de apoio eleitoral. Além disso, oito dos nove departamento passaram para as mãos do partido do governo.

 

Um quarto mandato, na marra, contra o golpe imperialista

 

Um estranho revés atingiu o governo em 2016. Em fevereiro daquele ano, foi realizado um referendo no qual se perguntava à população se a constituição de 2008 deveria ser modificada para permitir a reeleição de Evo Morales.

Surpreendentemente, o “não” foi vitorioso, de maneira muito apertada (51,3%), contra o “sim” (48,7%). Tratou-se de uma fraude evidente, dado o histórico impecável de vitórias eleitorais desde que o MAS chegou ao poder e também as próprias pesquisas, que indicavam cerca de 80% de popularidade do governo. A imprensa burguesa boliviana e internacional orquestrou uma intensa campanha de bombardeio propagandístico para atacar Morales, tachando-o de pretenso ditador.

Curiosamente, essa mesma imprensa rasga elogios para Angela Merkel, cujo governo na Alemanha começou no final de 2005 e irá até 2021, totalizando 16 anos e quatro mandatos.

Entretanto, os movimentos populares bolivianos saíram às ruas para evidenciar que Morales tem apoio da maioria da população e o tribunal constitucional acatou sua candidatura para um quatro governo consecutivo. A alegação da corte foi essencialmente correta: impedir alguém de se candidatar a uma eleição violaria os direitos humanos.

As eleições para presidente, deputados e senadores ocorrerão em outubro deste ano.

O principal concorrente de Evo parece ser o ex-presidente Carlos Mesa. Isso porque, na mais recente pesquisa de opinião, divulgada no final de maio, o líder nacionalista recebeu 38,1% das intenções de voto, enquanto que o opositor apareceu com 27,1%.

Porém, tal percentual para Mesa já indica uma tentativa de fraude por parte da burguesia, que tenta promover um candidato que, finalmente, tire o MAS do governo.

Por quê? Porque creio que seja um tanto difícil que um povo leve ao poder um presidente completamente impopular que ele mesmo derrubou anos atrás. Esse é exatamente o caso de Mesa. Ele foi um daqueles presidentes postiços que ascenderam e caíram do governo em questão de pouco tempo, devido à revolta popular.

Mesa assumiu no lugar de Gonzalo Sánchez de Lozada e durou de 2003 a 2005. Ele foi o responsável por continuar a política de entrega da Bolívia aos monopólios capitalistas, como os hidrocarbonetos e quase um terço de seu orçamento para o pagamento da dívida aos grandes bancos. Teve de renunciar na Segunda Guerra do Gás. O povo o fez evaporar do governo e, no mesmo ano (após alguns meses de Eduardo Rodríguez tapar o buraco presidencial), Evo foi eleito com absoluto apoio popular.

Isso demonstra que a burguesia pró-imperialista está desesperada nessas eleições, sem algum candidato minimamente renovado para bater de frente com Morales. Em terceiro lugar, segundo a pesquisa Tal Cual, está o capitalista conservador Óscar Ortiz, com 8,7% de preferência.

Por isso, mesmo, como sempre ocorre em épocas eleitorais, a burguesia utiliza seu aparato de propaganda para aumentar o nível de ataques contra a esquerda. Apesar de uma certa democratização em relação à imprensa, na Bolívia o controle dos principais veículos continua sendo privado e eles representam os interesses da burguesia e do imperialismo.

Assim, já iniciou-se uma nova campanha de difamação contra Morales, associando-o ao narcotráfico. Tais ângulos de ataque são típicos da direita quando se trata de investir contra os governos “bolivarianos”. O próprio Evo já sofreu essa campanha dez anos atrás.

Em 2009, os EUA incluíram a Bolívia na lista de países que não fazem um esforço suficiente na luta contra as drogas. A Administração para o Controle de Drogas dos EUA (DEA, na sigla em inglês) atuava crescentemente para desestabilizar o governo boliviano dentro do país, tentando ligá-lo ao tráfico de cocaína. Morales fez o certo: expulsou os representantes da DEA da nação andina.

Não é direito de nenhum país imperialista fiscalizar território alheio e se intrometer em seus assuntos internos. As autoridades de controle de drogas da Bolívia não podem atuar nos EUA, então porque as dos EUA teriam o direito de fazer isso na Bolívia?

A desculpa seria o grande número de plantações de coca, mas desde que Morales chegou ao poder o número de hectares caiu pela metade. Mas, e se a Bolívia fosse mesmo uma gigantesca plantação de coca? Dane-se, problema dos bolivianos e não dos norte-americanos. A prostituta fascista que governa o Brasil tem em seu avião presidencial 39 kg de cocaína e o governo dos EUA é seu cliente mais fiel.

A direita e o imperialismo irão fazer de tudo para impedir uma nova reeleição de Evo Morales, campanha que vai da propaganda difamatória à acusação de fraude por concorrer a mais um mandato. Não adianta ele tentar conciliar – como já fez com a entrega de Cesare Battisti e a ida à posse da prostituta. Os bolivianos precisam entender que o que manteve o MAS no poder durante esses 13 anos foi a mobilização popular. E é nela que Evo tem que se apoiar para impedir que a Bolívia volte a ser riscada do mapa pelo imperialismo.

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