Aos poucos os brancos europeus, com apoio de setores da burguesia nacional e de lideranças cooptadas, tentam convencer os Índios de que “Índio” é um termo pejorativo e que o “Dia do Índio” não deveria ser comemorado.
“Como sempre”, os brancos têm boas razões e intenções em tudo que fazem e dizem, fazendo uma denúncia a opressão e o genocídio dos índios, portanto, seria injusto negar por completo esta tese dos brancos, mas o que devemos fazer é desvelar as contradições, a começar:
O que pensa o Índio real sobre tudo isto? Aqui há um outro problema, o que é o índio real?
Parte desta mesma intelectualidade protetora dos índios nega a questão da miscigenação. Mas a miscigenação é um fato real como é também a mistura das culturas e dos hábitos. E a grande contradição aqui é que a posição de alguns índios já está influenciada pelo discurso da “defesa do índio” dos brancos, o qual, por sua vez, tem críticas ao termo “dia do índio”.
É neste grupo mais influenciado que haverá resistência com a tradição e quanto mais distante desta influência menor será a preocupação com o termo “dia do índio” para as atividades do dia 19 na aldeia.
Se por um lado, como defendem estes setores da intelectualidade burguesa, o “dia do índio” não é originário da cultura e da luta do próprio índio, não é menos verdade que no decorrer dos anos isso passou a integrar a luta e a cultura de muitos grupos indígenas e, também, não é menos verdade que a crítica ao “dia do índio” também não é algo originário da luta e da cultura indígena.
Como já dissemos, não estamos interessados aqui em uma negação geral e abstrata da crítica ao termo “dia do índio”, reconhecemos que a burguesia intelectual sempre tem boas razões. No entanto, nossa análise não se detém apenas naquilo que se apresenta como positividade, é preciso perguntar o que é que não fazem aqueles que fazem isso?
Há toda uma discussão em torno dos termos “índio”, “índigena”, “dia do índio”, etc.. mas não há uma luta política concreta de esquerda nas aldeias, nem no tal polêmico dia, nem fora dele.
Em Dourados, o Comitê de Luta Guarani-Kaiowá, formado por índios reais, tem ativamente construído uma atividade política, em defesa da candidatura Lula. No dia 19 de Abril a mesma luta continua. Para nós esta questão é muito mais fundamental do que a questão dos termos utilizados.
Toda esta discussão dos termos, se liga a concepções de defesas de modo de vida, defesa do meio ambiente e etc; completamente abstratas se comparadas com a falta de água nas áreas habitadas, saneamento básico, fome, saúde, escolas, por estes índios e a urgência de derrubar Bolsonaro e eleger Lula.
A esquerda que evita esta concretude é a mesma que debate os termos de modo abstrato. E são esses mesmos que ficam “cheios de dedos” para compor nas aldeias uma luta política combativa, de esquerda e, neste momento, em defesa da candidatura Lula.
A esquerda que não leva a defesa da candidatura Lula às aldeias, no fim do dia, acaba cúmplice das atrocidades do governo Bolsonaro contra estes povos.
Não se trata de acreditar que Lula salvará os índios. Tão pouco se trata de se iludir com a possibilidade de uma política transformadora da situação dos índios no Brasil. Não se trata em última instância de uma ilusão com respeito a eleição de Lula. Sobretudo se trata da necessidade da política nas aldeias, sem mimimi. Fazer política de luta concreta. E fazer política de esquerda.
Nosso apoio à candidatura de Lula, de modo geral, está fundamentado na tendência popular e na luta contra o golpe que foi dado em 2016, antes de estar motivado por qualquer ilusão sobre o programa de Lula com o PT. Nossa posição, no caso geral, vale para o caso particular da situação dos índios.
Sobre isto, ainda há um outro ponto importante, nossa experiência nas aldeias tem nos mostrado que os índios compreendem esta posição política de modo muito mais direto do que a esquerda burguesa de classe média. Em realidade, o que temos aprendido nas aldeias é que a situação concreta de suas existências, levam eles a compreensão política que falta a esquerda pequeno burguesa.
De fato, os índios não têm apenas ilusões abstratas com Lula, ou com qualquer outro, o que os leva a fácil compreensão da importância da eleição de Lula é a urgência de retirar Bolsonaro e interromper o desenvolvimento da política consequente com o golpe de 2016. Esta urgência, eles vivem de modo concreto nos conflitos com latifundiários e na luta pela terra, na falta de acesso às condições básicas de subsistência, etc… uma situação tão precária que se torna praticamente impossível de viver, daí a urgência em mudar.
A esquerda ao negar a política nas aldeias assume uma posição de tutelar, é a velha posição de falsa neutralidade típica dos mais reacionários discursos de direita. E todo o discursos abstratos sobre os termos, sobre o meio ambiente, sobre o genocídios, serve apenas para amaciar os golpes que massacram cotidianamente os povos indígenas.