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Henrique Áreas de Araujo

Militante do PCO, é membro do Comitê Central do partido. É coordenador do GARI (Grupo por Uma Arte Revolucionária e Independente) e vocalista da banda Revolução Permanente. Formado em Política pela Unicamp, participou do movimento estudantil. É trabalhador demitido político dos Correios e foi diretor da Fentect (Federação Nacional dos Trabalhadores dos Correios)

Copa América

Argentina venceu: classe média está em festa, junto com a Globo!

Festa da burguesia e da classe média à custa da alegria do povo e da usurpação da cultura popular

De uns tempos para cá, tornou-se mais ou menos comum em meios reduzidos da classe média algumas pessoas torcerem contra a Seleção Brasileira. Em geral, tal posição vem de pessoas que não tem um real envolvimento com o futebol ou de pessoas que estão muito confusas, que se deixam influenciar pela propaganda da imprensa que bombardeia o povo com elogios ao futebol europeu em detrimento do futebol brasileiro.

A classe média é constituída por aquelas pessoas que sentem amor pela burguesia, porque gostariam de ser como ela, e sentem nojo da classe trabalhadora, porque têm horror só de imaginar em ter que trabalhar pesado todos os dias. Por isso, é a classe média a principal correia de transmissão da propaganda ideológica da burguesia, pois essa posição social a transforma num joguete política da direita.

Não se enganem, esquerdistas pequeno-burgueses, sua função, nesse sentido, é a mesma da classe média direitista. O simples fato de frequentarem uma faculdade de ciências humanas não torna ninguém menos pequeno-burguês. Os esquerdistas podem se achar superiores ao vizinho bolsonarista ou ao tio eleitor do PSDB, mas se suas ideias são guiadas pelo que diz a rede Globo, a Folha de S. Paulo e a revista Veja, vocês não são muito diferentes deles, por mais que queiram dar um ar esquerdista naquilo que defendem.

O caso da Seleção Brasileira unifica a classe média de esquerda e de direita em seu ódio contra o povo. A final da Copa América entre Brasil e Argentina nos proporcionou o espetáculo grotesco e nojento: os mauricinhos de apartamento estão juntos aos esquerdistas pequeno-burgueses para torcer contra a Seleção.

Alguns esquerdistas não irão gostar dessa triste realidade, mas até mesmo nos argumentos eles estão juntos.

“A CBF é corrupta, por isso não torço para a Seleção Brasileira”

Esse é um dos argumentos mais usados. E é também o argumento que revela que torcer contra o Brasil é coisa de gente mimada de apartamento, ou melhor, coisa de gente que não gosta de futebol.

Afinal, se alguém gosta de verdade de futebol e torce de verdade para qualquer time, essa pessoa não vai torcer contra esse time porque sua diretoria é “corrupta”. A não ser que os gênios que aprendem política lendo a Folha de S. Paulo e assistindo à Globo me convençam que a diretoria de seus clubes são progressistas, honestas e por aí vai.

Quem acompanha o futebol sabe muito bem que nenhuma diretoria ou federação estadual escapam de ser corruptas, de serem dominadas pela burguesia e pela direita. A coisa mais comum é a torcida pedir a cabeça de seu dirigente.

Para quem não gosta de futebol, é compreensível. Basta dizer que se trata de coisa de gente alienada e pronto. Mas quem gosta mesmo de futebol, quem torce para qualquer clube, seja da capital ou do interior, sabe que a primeira coisa a se fazer é lutar para que seu clube seja gerido de maneira eficiente.

Torcedor que é torcedor não abandona o seu clube por nada!

E sobre isso ainda é preciso dizer que, entre a CBF e AFA não há nenhuma diferença. Então, por que torcer para a Argentina?

Isso tudo sem contar que política guiada pela campanha anticorrupção a gente conhece bem no que vai dar. É a esquerda “lava-jatista” no futebol.

“Ah, mas o Bolsonaro não pode se beneficiar”

Eis aí mais um argumento de gente que não sabe nada de história, nada de política e nada de futebol.

Não há, nem nunca vai haver governo que não tente se beneficiar de um fenômeno de massas como o futebol. A torcida do Palmeiras e do Flamengo, por exemplo, não deixou de torcer para seus times porque Bolsonaro apareceu com o uniforme desses times e entregou a taça quando foram campeões.

Uma coisa é a propaganda que o presidente vai fazer com a vitória da Seleção outra coisa é se essa propaganda vai fazer a diferença para a popularidade desse presidente. Guiar a política usando um fator tão secundário como esse é não apenas uma demostração de ignorância como uma abstenção de travar uma luta política real.

A última Copa do Mundo conquistada pelo Brasil foi em 2002, no mesmo ano, FHC perdeu a eleição para Lula.

A Copa de 70 não transformou a Ditadura Militar em algo ainda pior. Quem acredita nisso está no jardim de infância da política.

E por fim, os mesmo que agora torcem contra o Brasil também torceram contra nas Copas que ocorreram durante os governos do PT. Bolsonaro é apenas uma desculpa para extravasar o nojo que essa classe média tem do povo brasileiro. Vale lembrar que o “não vai ter Copa” durante o governo Dilma foi uma frente única da direita golpista com a esquerda pequeno-burguesa.

“Ah, mas Neymar é bolsonarista”

Outro argumento muito inteligente da esquerda é querer que o jogador de futebol seja um intelectual da USP. Essa ideia é ridículo em vários sentidos.

Primeiro, o óbvio: jogador não é político. Jogador tem que jogar bola. Neymar é o melhor do mundo, sendo ele bolsonarista ou não.

Em segundo lugar, tal concepção é mais uma revelação de que torcer contra a Seleção é coisa de pequeno-burguês mimado. Se a pessoa não for exatamente como eu quero que ela seja, então eu a condeno ao fogo do inferno. É vergonhoso uma pessoa que se diz de esquerda exigir que os jogadores sejam politizados, quando 90% deles são pessoas simples de origem humilde. A esquerda que exige não tem sequer uma visão crítica sobre a educação do País em que vive. Diferente do que manda a tradição de uma visão progressista do mundo, ela coloca a culpa no indivíduo e não no sistema. Exige que Neymar seja aquilo que nem ela mesmo consegue ser, sim, porque esses meninos de classe média se acham superiores, mas também não sabem nada de política.

Em terceiro lugar, qualquer pessoa que conhece um pouco de futebol sabe que 98% (número fictício) dos jogadores de futebol não são politizados. Qual seria então a saída para a Seleção Brasileira, formar um time com sociólogos da USP e da Unicamp? Muito obrigado! É melhor 11 despolitizados – e devemos dizer infelizmente essa é a realidade – que tragam o Caneco do que 11 politizados que não sabem jogar.

E fica a pergunta para você, torcedor que está lendo essa coluna: “você estaria disposto a colocar um péde rato no seu time só porque ele é um ‘intelectual’?” A ideia é absurda por si só. Mas quando se trata de Seleção Brasileira, aí é válido todo o tipo de ideia absurda!

“Ah, mas os argentinos são mais politizados que nós”

Não vamos negar, os argentinos são realmente diferentes, a começar pela tonalidade da pele. Os nossos hermanos – e aqui evito a ironia – são o povo mais europeu do continente latino-americano. Essa condição não dá a eles o direito de serem menos explorados que nós, os brasileiros.

No entanto, tal condição dá a boa parte dos argentinos a falsa ideia de que são superiores a nós, “macaquitos”. Sim, somos macaquitos para eles. O imperialismo europeu explora muito bem essa divisão; e sabe como? A defesa do futebol argentino é o meio pelo qual se ataca todo o futebol sul-americano, em particular o futebol arte brasileiro.

O amor da classe média brasileira pelos argentinos tem uma cor bem definida: é um amor branco, bem rosadinho, ao estilo europeu. Esse racismo – aqui não se trata de identitarismo, mas de racismo mesmo – é justificado pela ideia de que os argentinos são muito mais politizados do que nós, pobres macaquitos brasileiros. Mas nem nisso os pequeno-burgueses de esquerda copiam direito.

Diferente dessa classe média brasileira nojenta, os argentinos sabem que torcer pela própria seleção é um ato importante para a afirmação de sua cultura popular. Você, esquerdista que ama tanto os argentinos, poderia pelo menos imitá-los nesse ponto porque de fato a torcer pela Seleção é uma afirmação essencial da cultura popular brasileira.

Defender o futebol brasileiro é defender a cultura de um país que está em luta contra as imposições do imperialismo. Em suma, defender o futebol brasileiro é lutar contra o chamado futebol moderno e a Seleção, por mais problemas que se possa apontar, é a representação dessa luta entre o futebol arte e o futebol moderno.

Sim, você que torce para a Argentina é um amante do tal do futebol moderno mesmo sem saber.

Não à toa, a rede Globo, privada dos direitos de transmissão da Copa América e transmitindo o futebol europeu (o supra sumo do “futebol moderno”), foi a principal instigadora da classe média que torce contra a Seleção.

Você que acha que torcer contra a Seleção é ser esquerdista, fique sabendo que você nada mais é do que um papagaio da rede Globo. Bom, não é novidade, no início desse artigo está explicado de onde vem a grande formação intelectual da classe média.

É um espetáculo deplorável, uma vergonha para uma esquerda que diz defender o povo se colocar tão frontalmente contra as manifestações populares.

A classe média – de direita e de esquerda – está em festa. A rede Globo, com sua Eurocopa, está em festa! E como sempre, a festa da burguesia e da classe média se dá à custa da alegria do povo e da usurpação da cultura popular.

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