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Capitalismo

Golpe de marketing da amazon, quase 200 anos de picaretagem e continua igual

A qualquer custo os grandes monopólios querem lucrar, mesmo que enganem e explorem trabalhadores e clientes

amazon (1)

Fraude contra os consumidores é a regra no capitalismo, ou seja, o “capital” sempre está ganhando do trabalhador que produziu o produto e pra quem ele vendeu em proporções absurdas de divisão de lucros, sendo que operário e consumidor estão sempre no prejuízo em todos os sentidos. É assim que a burguesia continua no poder.

Friedrich Engels, no seu livro “A situação da classe trabalhadora na Inglaterra”, quase 180 anos atrás, já denunciava como os capitalistas falsificam seus produtos, enganam os operários vendendo coisas de má qualidade e fazendo-as passar por mercadorias “aceitáveis”.

Citação do livro: “Em geral, as batatas que [o operário] adquire são de má qualidade, os legumes estão murchos, o queijo envelhecido é mau, o toucinho é rançoso e a carne é ressequida, magra, muitas vezes
de animais doentes e até mesmo já em decomposição. Frequentemente, os vendedores são pequenos varejistas que compram mercadorias ordinárias em quantidade e as revendem a preço baixo exatamente por causa de sua má qualidade. Os operários mais pobres, para sobreviver com o pouco que ganham, devem recorrer – mesmo para adquirir produtos muito inferiores – a um artifício: como à meia-noite de sábado as mercearias têm de fechar e nada pode ser vendido no domingo, as sobras que se estragariam
até segunda-feira de manhã são liquidadas, a partir das dez horas da noite do sábado, a preços irrisórios, embora nove décimos desses restos já não sejam comestíveis no domingo de manhã; mas precisamente essas sobras constituem o prato dominical da classe mais pobre, que as compra. Nessas circunstâncias, a carne vendida aos operários é intragável; porém, uma vez comprada, é consumida.”

Em 6 de janeiro de 1844 (salvo erro meu) ¹, reuniu-se o Tribunal do Mercado (court leet) de Manchester, que condenou onze açougueiros por venda de carne imprópria para consumo. Cada um deles ainda possuía um boi ou um porco inteiros, ou vários carneiros ou 50 a 60 libras de carne – tudo apreendido em função do estado impróprio em que se encontrava; e de um deles se confiscaram, já putrefatos, 64 gansos de Natal, recheados, que não haviam sido vendidos em Liverpool e foram transportados para
Manchester. Esse episódio, com os nomes dos condenados e as respectivas multas, foi relatado pelo Manchester Guardian. Entre as seis semanas decorridas de 1º de julho a 14 de agosto, o mesmo jornal noticiou três casos análogos: de acordo com a edição de 3 de julho, foi apreendido em Heywood um porco de 200 libras, cuja carne putrefata estava à venda; a edição de 31 de julho informa que dois açougueiros de Wigan, um dos quais já acusado antes pelo mesmo delito, foram condenados a pagar multas, respectivamente, de duas e quatro libras esterlinas por venderem carne imprópria para o consumo; e, conforme a edição de 10 de agosto, numa mercearia de Bolton apreenderam-se 26 presuntos deteriorados: foram queimados em fogueira pública e o comerciante foi obrigado a pagar uma multa de 20 shillings.
Os operários, entretanto, ainda são ludibriados de outra maneira pela cupidez da classe média. Os varejistas e os fabricantes adulteram todos os gêneros alimentícios do modo mais irresponsável, com inteiro desprezo pela saúde dos que devem consumi-los.

Acima, demos a palavra ao Manchester Guardian; agora, escutemos o que diz outro jornal da classe média – agrada-me recolher os testemunhos de meus adversários –, escutemos o Liverpool Mercury: Vende-se manteiga salgada como manteiga fresca, cobrindo-a com uma camada de manteiga fresca ou colocando à mostra uma libra de manteiga fresca para ser provada e, depois da prova, vendendo manteiga salgada ou, ainda, retirando o sal pela lavagem e apresentando-a como fresca. Ao açúcar, mistura-se farinha de arroz ou outros gêneros baratos, assim vendidos a preços altos; até mesmo resíduos de sabão são misturados a outras substâncias e vendidos no açúcar. Mistura-se chicória ou outros produtos de baixo preço ao café moído; ao café não moído, dando-se-lhes forma de grãos, também se misturam outros artigos. Também é freqüente misturar-se ao cacau uma finíssima terra escura que, banhada em gordura de carneiro, deixa-se mesclar facilmente com o cacau verdadeiro.

O chá vem misturado com folhas de ameixeira e outros vegetais, ou então folhas de chá já servidas são recuperadas, tostadas em alta temperatura sobre placas de cobre para que retomem a cor e vendidas em seguida. A pimenta é adulterada com cascas de nozes moídas etc. O vinho do Porto é literalmente falsificado (com corantes, álcool etc.), uma vez que se bebe mais na Inglaterra do que todo o Porto produzido em Portugal. E o tabaco é mesclado a substâncias de toda espécie, qualquer que seja a forma sob a qual é posto à venda.

²(Posso acrescentar que, em virtude da falsificação geral do tabaco, universalmente difundida, alguns dos mais respeitados tabaqueiros de Manchester declararam publicamente, no verão passado, que nenhuma firma poderia subsistir sem adulterar o produto e que nenhum cigarro com preço inferior a três pence é composto apenas por tabaco.)

É evidente que, as adulterações não se limitam aos gêneros alimentícios e eu poderia citar mais uma dúzia delas – entre outras, a prática infame de misturar gesso ou argila à farinha. Recorre-se à fraude na venda de toda sorte de produtos: flanelas e peças de roupas são esticadas para que pareçam maiores e encolhem à primeira lavagem; cortes de tecido são vendidos como se tivessem uma largura de duas ou três polegadas a mais; a louça recebe uma camada tão fina de esmalte que praticamente não é esmaltada e lasca com facilidade – e mais um sem número de expedientes vergonhosos,
tout comme chez nousb². No entanto, são os operários que pagam o ônus principal desses logros.
O rico não é enganado porque pode pagar os preços altos dos grandes estabelecimentos comerciais, que devem zelar por seu bom nome e prejudicariam a si mesmos se vendessem mercadorias de baixa qualidade ou adulteradas; o rico, acostumado à boa mesa, tem o paladar apurado e descobre a fraude com mais facilidade. Todos os gêneros falsificados, ou até envenenados, destinam-se ao pobre, ao operário – para quem uns poucos centavos representam muito, que tem de comprar muitas coisas com pouco dinheiro, que não tem o direito nem a possibilidade de avaliar a qualidade, mesmo porque nunca dispôs da oportunidade de educar seu gosto.

Ele deve procurar as pequenas lojas, onde muitas vezes pode comprar a crédito, lojas que, em função de seu pequeno capital e de suas desvantagens diante dos atacadistas, estão impossibilitadas de vender mercadorias da mesma qualidade ao mesmo preço dos grandes estabelecimentos e que, por causa dos preços baixos que lhes pedem seus fregueses e da concorrência, são constrangidas a fornecer, intencionalmente ou não, produtos adulterados. Por outra parte, se, para um grande comerciante que investiu em seu negócio um capital considerável, a descoberta de uma fraude pode significar a ruína, uma vez que perde crédito, para um pequeno varejista, que tem sua freguesia numa única rua, que lhe importa ser acusado de fraude? Se perde a credibilidade em Ancoats, muda-se para Chorlton ou
Hulme, onde ninguém o conhece, e retoma a prática fraudulenta – ademais, a legislação pune apenas algumas falsificações, exceto se vierem acompanhadas de fraudes fiscais.


Mas não é só no que toca à qualidade que o operário inglês é logrado; também o é no que tange à quantidade. Em sua grande maioria, os pequenos comerciantes têm medidas e pesos adulterados e os relatórios policiais registram diariamente um número incrível de delitos desse gênero. Alguns excertos do Manchester Guardian revelam a que ponto esse tipo de fraude está generalizado nos bairros operários – observe-se que dizem respeito a um curto lapso de tempo e que, mesmo para esse período breve*, não posso recorrer a todas as edições do jornal:

■ edição de 16 de junho de 1884. Sessões do Tribunal de Rochdale: quatro merceeiros condenados a pagar multas de cinco a dez shillings por uso
de pesos falsificados. Sessões do Tribunal de Stockport: dois merceeiros
condenados a pagar multas de um shilling; um deles usava sete pesos falsificados e uma balança viciada; ambos já haviam sido advertidos;
■ edição de 19 de junho. Sessões do Tribunal de Rochdale: multas a um
merceeiro (cinco shillings) e a dois camponeses (dez shillings);
■ edição de 22 de junho. Tribunal de Paz de Manchester: dezenove merceeiros condenados a pagar multas (de 2,5 shillings a 2 libras);
■ edição de 26 de junho. Sessão do Tribunal de Ashton: catorze merceeiros e camponeses condenados a pagar multas (de 2,5 shillings a 1 libra). Sessão breve do Tribunal de Hyde: nove camponeses e merceeiros condenados
a pagar multas de cinco shillings, mais as custas judiciais;
■ edição de 6 de julho. Manchester: dezesseis merceeiros condenados a
pagar multas de até dez shillings, mais as custas judiciais;
■ edição de 13 de julho. Manchester: nove merceeiros condenados a pagar multas (de 2,5 a 20 shillings);
■ edição de 24 de julho. Rochdale: quatro merceeiros condenados a
pagar multas (de dez a vinte shillings);


¹Engels enganou-se quanto à data: o que vai narrar foi documentado na edição de 10 de maio de 1843 do Manchester Guardian. Esse jornal, fundado em Manchester por J. E. Taylor em 1821, foi o primeiro porta-voz dos livre-cambistas e, depois, o órgão do Partido Liberal.

²A fonte de Engels é a edição do Liverpool Mercury, de 9 de fevereiro de 1844; mas a citação não é literal: Engels resume o conteúdo da matéria publicada.

³Em francês, no original: “exatamente como entre nós”.

*Engels recorrerá, nas próximas linhas, às edições do jornal publicadas entre junho e
agosto de 1844.

Livro na integra aqui

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