No último final de semana, o Diretório Nacional (DN) do Partido dos Trabalhadores (PT) se reuniu para definir algumas questões essenciais sobre o partido, que vive neste momento uma profunda crise. O objetivo da reunião foi realizar um balanço das eleições e discutir a próximas etapas da luta política.
A ala direita do partido, realizando a política do imperialismo, está pressionando a ala lulista (majoritária) a capitular diante dos golpistas. É nesse sentido que alguns membros do PT, como José Eduardo Cardozo, Tarso Genro, Washington Quaquá, Jacques Wagner e o próprio Fernando Haddad estão pressionando para que o PT faça uma “autocrítica”, isto é, aceite as calúnias despejadas pela burguesia contra o partido e as assuma publicamente.
Essa política significaria uma total desmoralização do partido. No essencial, trata-se de uma política que procura acabar com o enfrentamento contra os golpistas, adaptando o PT ao próprio regime golpista. É por isso também que ala direita quer abandonar Lula e a luta pela sua liberdade, colocando Haddad, político totalmente desvinculado do movimento operário, como liderança máxima do partido.
O PT vive, internamente, uma verdadeira guerra civil. E a discussão na reunião do DN do partido deixou isso explícito. A situação é tão intensa que o próprio Lula foi obrigado a interferir na situação política de dentro das masmorras dos golpistas em Curitiba, escrevendo uma carta para ser lida na reunião.
Na carta, Lula demonstra uma radicalização, apelando para que os trabalhadores se mobilizem contra o golpe; denuncia a fraude que o tirou da corrida eleitoral, a perseguição política da Lava-Jato e a política de ataques de Bolsonaro.
E no fim das contas, os resultados da reunião demonstraram um predomínio da ala lulista, por meio de Gleisi Hoffmann, em que os setores da direita saíram, de certa forma, derrotados.
Algo que é positivo para o desenvolvimento da luta contra o golpe. A própria presidente do partido, Gleisi Hoffmann, a quem a ala direita quer substituir por Fernando Haddad, impediu que se colocasse o problema da autocrítica na resolução final da reunião. Autocrítica essa que inclusive queria culpar Dilma Rousseff pelo golpe. E denunciou que se tratava de uma política para capitular à imprensa e à direita golpista: “não faremos autocrítica para a mídia e não faremos autocrítica para a direita do País”, declarou Gleisi.
A resolução final, aprovada na reunião, comprova que Lula ainda é uma força política importante e influente no partido e revela a derrota da ala direita do PT. Por isso, é bom detalhar um pouco mais a resolução final do partido dos trabalhadores, com mais de 8 páginas.
Resolução final
Apesar dos posicionamentos centristas habituais do lulismo, o documento final da Direção Nacional aponta uma perspectiva de luta contra o golpe, pela liberdade de Lula e contra os ataques da direita contra a população.
O texto denuncia Bolsonaro como sendo o aprofundamento da política golpista de Michel Temer: os golpistas “desencadearam uma ofensiva brutal às conquistas sociais e os avanços políticos das classes populares”. E declara que “o golpe iniciado com o impeachment de Dilma vem se mantendo e se desdobrando num aprofundamento proposital da crise política”, “cujo objetivo é a destruição da Constituição de 1988, a entrega do patrimônio público” e a destruição dos serviços públicos.
Além disso, declara que “estamos diante de um governo profundamente autoritário, ultraliberal e submisso aos interesses do governo estadunidense”, que segundo o próprio documento “ajudou e financiou as diferentes fases do golpe até aqui”.
Acertadamente, o PT culpa os golpistas do PSDB pelo avanço da extrema-direita, descartando – pelo menos teoricamente – uma “frente democrática” com os tucanos (proposta da ala direita): o “PSDB e outros partidos estimularam e legitimaram as posições de extrema direita nas ruas, na grande mídia, nas Forças Armadas e policiais, e parte do judiciário”.
Denúncia da perseguição política
E ainda continua a denúncia contra a repressão das Forças Armadas: “a partir de agora haverá a perseguição dos órgãos de segurança, que foram unificados no governo Temer sob o comando do GSI (Gabinete de Segurança Institucional)”.
O próprio texto também deixa claro que os golpistas querem perseguir a esquerda os movimentos sociais com base na luta contra o “terrorismo”. E ressalta que: “hoje o Estado brasileiro tem uma capacidade de monitoramento e repressão que daria inveja à ditadura civil e militar de 1964-1985”, e que os golpistas querem apresentar o PT “como uma organização criminosa”.
E como não podia deixar de ser, bate enfaticamente na tecla de que Lula foi preso pela Lava-Jato por conta de interesses políticos, e que todo o PT está ameaçado pela perseguição. “Lula foi condenado e preso por motivos políticos, fato confirmado pela premiação de Sérgio Moro nomeado para um superministério de Bolsonaro e pela chantagem, agora tornada pública, anunciada pelo comandante do Exército para que o STF negasse um habeas corpus a Lula”, e, “no mesmo passo, o companheiro Fernando Haddad foi transformado em réu por meio de ação arbitrária e infundada, seguido pela presidenta Dilma e outros petistas o que revela a natureza do Estado policial que se estrutura a partir do Ministério da Justiça, composto por quadros oriundos da Operação Lava Jato”.
Fraude Eleitoral
E sendo assim, apesar de ser de maneira confusa e limitada, a resolução do Partido dos Trabalhadores deixa claro que o que ocorreu nas eleições foi uma fraude, pois o principal candidato do povo, Lula, não pode se candidatar. “A verdadeira razão para a condenação injusta de Lula e sua prisão ilegal foi essa: impedi-lo de voltar à Presidência da República”, e, “Bolsonaro tornou-se presidente em eleições marcadas pela interdição da candidatura Lula, pela fraude”, ou seja o governo é ilegítimo. Posição que fortalece o próprio posicionamento de Lula expresso em sua carta, onde declara que as eleições deste ano não ocorreram dentro da normalidade.
Conclusão:
As conclusões tiradas para a resolução, então, apontam para um combate contra o regime golpista. Entre os pontos principais estão a defesa dos direitos democráticos, da liberdade do Lula e da soberania política e econômica do país.
E para isso, o PT declara que é preciso “fortalecer a campanha Lula Livre e a denúncia nacional e internacional contra as arbitrariedades e a parcialidade de setores do Judiciário e do MP brasileiros, nas redes e principalmente nas ruas, em movimentos de massa”, isto é, fazer campanha e mobilizar nas ruas contra a política dos golpistas e pela libertação do Lula.
Fica demonstrado então que, na reunião, a ala direita sofreu uma derrota. Mas é preciso ter em mente que um verdadeiro racha político está ocorrendo no PT. A discussão gira em torno do combate ao regime golpista ou a capitulação completa diante dele. Diante disso, essa vitória da ala esquerda pode fortalecer a luta dos setores que realmente querem enfrentar os golpistas e libertar Lula.