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Eduardo Vasco

Militante do PCO e jornalista. Materiais publicados em dezenas de sites, jornais, rádios e TVs do Brasil e do exterior. Editor e colunista do Diário Causa Operária.

Venceremos!?

A Primavera dos Povos latino-americana

Da América Central e Caribe até o Sul da região,os povos se levantam contra a ordem existente e expressam a tendência de luta radical a ser travada no período histórico que se abre

Por Eduardo Vasco

Um espectro ronda a América Latina – o espectro do comunismo.

Comunismo, porque as revoltas populares que eclodem por todo o continente têm um caráter, de modo geral, revolucionário e proletário. Da América Central e Caribe até o Sul da região, os povos se levantam contra a ordem existente e expressam a tendência de luta radical a ser travada no período histórico que se abre.

No Haiti, a nova onda de mobilizações já dura sete semanas e é nítida a exigência pela renúncia do fantoche norte-americano Juvenal Moïse. A convulsão social no país mais miserável desse pedaço do mundo, no entanto, vem de muito antes, pois desde o início do ano há grandes protestos populares que sacodem o lado ocidental da Ilha de São Domingos.

Ali ao lado, em Porto Rico, o governador do estado-satélite de Washington, Ricardo Rosselló, foi derrubado pelo povo no final de julho, com grandes jornadas de massa que, na prática, mesmo que inconscientemente, foram uma reação direta ao domínio imperialista.

O povo hondurenho não sai das ruas desde que o ditador Juan Orlando Hernández foi eleito da maneira mais fraudulenta possível, em 2017. As manifestações têm se intensificado cada vez mais, pedindo a renúncia de JOH, enfrentando a repressão de uma ditadura militar que já tem uma década de duração.

Lenín Moreno teve de implantar um regime ditatorial para afogar em sangue a rebelião popular que pedia a sua queda. Durante dez dias, o povo esteve a ponto de derrocar o presidente traidor, que teve de fugir para Guayaquil quando milhares de indígenas, camponeses e trabalhadores invadiram Quito. A mobilização só foi dissipada, no entanto, pelo acordo com as lideranças capituladoras dos indígenas, que aceitaram o fim temporário do cancelamento do subsídio aos combustíveis em troca da permanência no poder de um governo cada vez mais direitista.

A Constituinte que Sebastián Piñera propõe no Chile é rejeitada pelo povo, que a enxerga corretamente como uma manobra para que o presidente pinochetista mantenha o poder do jeito que ele se encontra, sem grandes modificações. A gigantesca mobilização do povo chileno tem claras características revolucionárias, pedindo o Fora Piñera e enfrentando o Estado de Emergência com greves gerais e as armas que estão à sua disposição.

Por último, na Bolívia o povo não seguiu o exemplo vergonhoso de Evo Morales e não aceitou o golpe militar da extrema-direita. O país dirige-se para uma guerra civil da população radicalizada nas ruas contra as forças de repressão fascistas. Do ciclo golpista atual, este é o golpe que teve mais reação popular, no qual não há ainda uma definição sobre quem sairá vencedor: as forças golpistas ou as forças populares antigolpistas.

O que há de novo nessas sublevações é que são contra governos golpistas, títeres do imperialismo e, sobretudo, e com uma tendência crescente, de extrema-direita. Moreno e Piñera mostram a rapidez como a burguesia pode radicalizar seus métodos para reprimir o povo: seus governos passaram de meros fantoches neoliberais para ditaduras militares com a repressão aos protestos. Por sua vez, os golpes em Honduras e, agora, na Bolívia, foram golpes essencialmente militares e o governo de Añez-Camacho demonstra, com suas milícias fascistas e ideologia fundamentalista, que desde o começo instaura-se um regime de extrema-direita. Bolsonaro no Brasil, Iván Duque na Colômbia e Mario Abdo Benítez no Paraguai também são governos de extrema-direita.

Isso significa que os governos de esquerda, da chamada “onda progressista”, foram substituídos por governos de extrema-direita, não simplesmente da direita tradicional. Porque esta entrou em colapso e deu lugar ao surgimento da extrema-direita devido à crise do capitalismo, que leva ao acirramento da luta de classes e, como consequência, à polarização política, que dissolve as forças moderadas nos dois polos antagônicos: a extrema-direita e a extrema-esquerda. A primeira, representada no continente principalmente pelos militares, e a segunda, pelo movimento relativamente espontâneo das forças populares, já que os partidos de esquerda, em sua quase totalidade, não têm sido capazes de superar as ilusões na conciliação e nas instituições burguesas e capitalizar a indignação das massas em movimento.

Essa substituição, por parte do imperialismo, mostra que não estamos ainda no fim do ciclo de golpes de Estado na América Latina. Pelo contrário. Não há um recuo do imperialismo, e sim um avanço. Há um processo homogêneo de golpes de Estado e desenvolvimento do fascismo em todo o continente. Isso é decorrente da necessidade dos monopólios capitalistas de salvarem seus lucros saqueando o máximo possível os países oprimidos, e para isso fazem uso de uma política de brutalização que encontra precedentes apenas nos regimes fascistas.

Esse saque, no entanto, escancara as desigualdades sociais e a exploração, e por isso os povos de todo o continente se erguem em resposta a tamanha pilhagem. As mobilizações atuais são mobilizações revolucionárias que se encontram em um determinado estágio de desenvolvimento. Não estão plenamente desenvolvidas, mas têm um caráter revolucionário, graças à polarização acentuada pela feroz agudização da crise capitalista mundial.

As crises econômicas são a causa da esmagadora maioria das rebeliões e revoluções que ocorreram ao longo da história.

A Primavera dos Povos de 1848 teve como plano de fundo a crise econômica desencadeada na França, e foi em Paris que a Revolução começou. Foram revoluções liberais, mas pela primeira vez o proletariado apareceu como sujeito da Revolução. A burguesia, no entanto, demonstrou que já havia esgotado a sua época revolucionária ao abortar a Revolução e abrir espaço para a contrarrevolução que esmagou a ferro e fogo aquela onda revolucionária que tomava conta da Europa.

Karl Marx descreveu a burguesia prussiana como sendo “sem iniciativa, sem fé em si própria, sem fé no povo, sem vocação histórica universal” na Revolução de março de 1848.

Podemos fazer um paralelo entre a burguesia europeia de então e a atual esquerda nacionalista latino-americana. Esta também já demonstra o esgotamento da política de conciliações, característica inerente a ela.

Hoje, a burguesia/imperialismo está melhor organizada do que no ciclo anterior (em que ela foi obrigada a permitir a ascensão da esquerda nacionalista ao poder). Isso é nitidamente expresso pela repressão no Equador, no Chile e na Bolívia. Enquanto que a esquerda nacionalista ainda busca a conciliação sem perceber que a extrema-direita – impulsionada pela burguesia e a direita tradicional –  é uma ameaça vital e pode simplesmente esmagar o movimento popular.

A burguesia não quer mais a conciliação. A política de conciliação que a esquerda está buscando não tem sustentação e serve apenas para fortalecer cada vez mais a extrema-direita. Ela permite uma reorganização da direita para suprimir a revolta popular, porque um cenário de convulsão social, em última instância, leva apenas a dois desfechos possíveis: a vitória das forças populares ou a vitória das forças reacionárias.

As mobilizações estão assustando a burguesia por toda a América Latina, e ela está preocupada em derrotar essas mobilizações, esmagá-las sem qualquer piedade. Se as mobilizações forem derrotadas, virá uma ditadura direitista como reação a elas, fortalecendo a extrema-direita ainda mais.

O desfecho dessa etapa histórica não pode (não deveria) ser igual ao de 1848. Nem ao da Primavera Árabe de 2011, na qual as revoluções populares que derrubaram ditaduras marionetes do imperialismo foram manobradas para estabelecer novos regimes controlados pelo próprio imperialismo.

Isso só foi possível porque o movimento popular não estava organizado por uma esquerda revolucionária de vanguarda, com um programa proletário e um partido comunista operário. Ela era ainda muito embrionária e minoritária. Os trabalhadores foram deixados à sua espontaneidade, sem um direcionamento que apontasse o caminho do poder. As sublevações na América Latina, agora, tendo aprendido com as derrotas anteriores, devem ultrapassar as direções conciliadoras da esquerda nacionalista, substituir o espontaneísmo pela organização e colocar na ordem do dia a tomada do poder.

E, assim, vamos concretizar o que o Quilapayún tão lindamente compôs nestes versos:

“Sembraremos las tierras de gloria,

socialista será el porvenir,

todos juntos haremos la historia,

a cumprir, a cumprir, a cumprir.”

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