Nesta semana, os indígenas Guarani-Kaiowá no Mato Grosso do Sul publicaram uma Carta Emergencial demonstrando um enorme desespero diante da entrada do coronavírus dentro das aldeias e da situação de pobreza extrema dos indígenas.
A carta apresentada diz “Nós, Conselhos tradicionais Guarani e Kaiowá Aty Guasu (assembléia Geral do Povo Guarani e Kaiowá), Kuñangue Aty Guasu (Grande Assembléia das Mulheres Guarani e Kaiowá), RAJ (Retomada Aty Jovem), Aty Jeroky Guasu (Assembleia geral dos Nhanderus e Nhandesys) viemos através desta carta anunciar que estamos diante de mais um massacre anunciado com a chegada do COVID-19 em nossos Tekohás (Territórios indígenas) e apelamos pela nossa sobrevivência.”
Também afirmam que “As condições de moradia nas aldeias não permitem o isolamento domiciliar, favorecendo a transmissão em larga escala e rapidamente, e sendo a COVID-19, uma doença de alta letalidade precisamos urgentemente de pontos de apoio para isolamento dos pacientes confirmados.”
Os dois parágrafos acima revelam a situação desesperadora dos povos indígenas diante a campanha vazia da direita, única medida apresentada, e apoiada pela esmagadora maioria da esquerda, do isolamento social.
Não há nem o que explicar nas duas frases onde os indígenas denunciam que não possuem a mínima capacidade de realizar o tão sonhado isolamento social diante do avanço do vírus. A denúncia dos indígenas do Mato Grosso do Sul revela o tamanho da farsa do discurso “científico” e “defensor do povo” realizado pela direita que não dá as mínimas condições para que, neste caso, os indígenas façam o mínimo que é o isolamento social ou quarentena.
A política amplamente propagada pela direita e pela esquerda coloca a culpa na população por ser irresponsável diante da crise sanitária e a população continuar indo as ruas por “falta de consciência”, ser “amigo da morte” ou apenas irresponsável, quando sabemos que não há nenhuma outra política de combate ao coronavírus e ao apoio da população. Revela que a política de isolamento social é apenas uma medida demagógica e eleitoreira para desviar a atenção de que nenhuma medida está sendo tomada, e jogar a culpa na população que não obedece a campanha de “seus” governantes.
Os mais de 51 mil indígenas Guarani-kaiowá denunciam que não há sequer máscaras para saírem as ruas, incluindo no município de Dourados onde a prefeitura da direita proibiu a população a sair sem máscaras sob pena de multa e até ser levado a delegacia. Não há água nas aldeias, esgotamento e nenhuma ação dos órgãos governamentais de levar caminhões pipa com água limpa, principal medida de combate ao vírus.
Nesta segunda-feira, indígenas da etnia Terena ocuparam o Distrito Sanitário Indígena de Aquidauana/MS, para denunciar a falta de profissionais da saúde em todo o Estado e que há locais onde apenas um médico atende 8 mil indígenas em grandes distancias.
E isso não ocorre somente com os indígenas. Agricultores familiares tem que ir vender seus produtos todos os dias para não morrerem de fome e milhões de trabalhadores rurais estão neste momento nas colheitas de cana-de-açúcar, café, maça entre muitas outras obrigadas a trabalhar sem as mínimas condições, sem máscaras, sem álcool gel e em grandes aglomerações.
A pergunta que fica para a esquerda é que qual o sentido de entrar na campanha demagógica da direita de isolamento social sem denunciar que não existem as mínimas condições para ser efetivada essa medida. Antes de entrar em desespero ou se esconder em casa é necessário denunciar a política da direita de jogar a culpa na população que não “cumpre” o isolamento social, mas na verdade não toma nenhuma medida que de as condições, a primeira dela de possibilitar uma renda digna para que as famílias permaneçam em casa.
É preciso, em vez de culpar a população, organiza-la com uma série de reivindicações para serem mobilizadas contra a direita que está aplicando a política de genocídio da população para salvar os lucros dos grandes empresários e banqueiros desse país.