Por Eduardo Vasco
Até agora, foram anunciados por volta de 1,5 trilhão de euros, segundo estimativas, por parte da União Europeia, para “ajudar” os países membros do bloco no combate ao coronavírus e às suas consequências econômicas. Na realidade, esse montante é direcionado aos grandes capitalistas desses países, e, sobretudo, aos grande bancos alemães e franceses, sanguessugas da riqueza das nações europeias.
Portugal, que foi um dos países que mais sofreram com a crise de 2008, também está sendo duramente atingido desta vez. Particularmente, como sempre, a classe operária. Em diversos setores, milhares de trabalhadores têm sido demitidos para que os capitalistas não precisem arcar com os custos de seus salários em uma crise econômica. A Comissão Europeia prevê uma recessão este ano de 6,8% e uma elevação da taxa de desemprego de 6,5% para 9,7%.
Empresas começaram a demitir seus funcionários em massa logo quando a pandemia chegou ao país, mesmo antes de o governo ordenar o fechamento dos serviços ditos não essenciais. Em muitas dessas empresas, demorou-se para prevenir os trabalhadores de correrem o risco de se infectarem.
Grande parte dos trabalhadores continua sendo obrigada a trabalhar. Fábricas permanecem abertas e os transportes funcionam. Ou seja, para a economia continuar a girar e os capitalistas não falirem de uma vez por todas, a vida dos trabalhadores é colocada em risco.
O governo português, do Partido Socialista, apoiou fielmente a doação de dinheiro públicos dos países membros da UE para os bancos e grandes corporações. Salvam-se os empregadores, não os empregados, verdadeiros geradores do lucro dos patrões e da riqueza do país.
Um bom exemplo é o que ocorre nos hospitais. Os públicos já não aguentam todos os doentes e equipes médicas inteiras foram infectadas, o que levou ao fechamento de alguns hospitais, como os voltados aos trabalhadores bancários – que protestaram contra a ação. Os privados continuam com leitos vazios, enquanto o governo inventa de construir hospitais de campanha, em vez de utilizar os hospitais privados, estatizando-os.
O que ocorre em Portugal é um verdadeiro governo de união nacional por parte das alas esquerda e direita da burguesia: o PS e o Partido Social-Democrata. Ambos partidos neoliberais e imperialistas.
Por sua vez, a oposição de esquerda, particularmente o Bloco de Esquerda (BE) e o Partido Comunista Português, está completamente perdida nessa crise, como nos informa nosso correspondente em Coimbra, César Chaigneau.
Basta ver que o BE cancelou todas as suas atividades públicas para os próximos meses para evitar aglomerações, como se não se pudesse realizá-las de maneira segura – assim como ocorreu durante o bem sucedido 1º de Maio na capital portuguesa, quando milhares de trabalhadores realizaram uma bela manifestação, de máscara, com bandeiras, e respeitando o distanciamento social.
“Toda a gente deve fazer a sua parte”, diz uma nota do Bloco de Esquerda. Ou seja, trata-se de uma política de completa conciliação com a burguesia, ignorando totalmente a luta de classes que se acirra cada vez mais. Todo o mundo fazer sua parte significa: eu vou ficar em casa, porque eu posso, os outros (os trabalhadores) que se virem. A típica postura pequeno-burguesa. A parte dos trabalhadores na crise, para a burguesia e a pequena-burguesia, é continuar mantendo o lucro dos capitalistas e o bem-estar da burguesia e o relativo conforto da pequena-burguesia.
O partido, cuja estratégia política é puramente parlamentar – assim como o Podemos e o Syriza, ao contrário do que podem vir a afirmar os seus membros -, pede apenas que o governo “requisite” os hospitais privados, contando com a boa vontade dos vampiros do sistema de saúde privado.
Assim como o BE, o PCP também prefere pedir que o direitista António Costa e o PS façam alguma coisa em vez de mobilizar o povo para fazê-lo. Sua atuação dá-se basicamente no parlamento, com proposições de medidas governamentais, e, na mesma instância europeia, para que a UE faça alguma coisa (!).
Trata-se de uma esquerda com profundas crenças na conciliação com a burguesia, particularmente com a ala supostamente democrática da burguesia. Para executar uma política que realmente tenha capilaridade entre as massas exploradas, a esquerda portuguesa terá de romper com essas ilusões pequeno-burguesas.
O 1º de Maio na Alameda D. Afonso Henriques foi exemplar para a maior parte da esquerda mundial, inclusive a brasileira. A CGTP demonstrou que pode mobilizar os trabalhadores mesmo em uma crise gravíssima de saúde como a atual. Por que não organizar a mobilização de massas contra o saque que os banqueiros parasitários estão realizando neste momento contra os portugueses?
É preciso que a CGTP impulsione a mobilização de massas, com a participação intensa dos sindicatos e dos militantes de esquerda para intervir nesta crise. Os trabalhadores pagam com a vida pela crise que os capitalistas geraram. E quem o governo e a UE salvam? Os grande bancos e as multinacionais. A crise econômica capitalista só tende a se agravar, e a cada aprofundamento o buraco é maior para os trabalhadores, com a pá da UE cavando para retirar a terra em proveito dos capitalistas. Algo precisa ser feito, e os trabalhadores começarão a exigir que seja feito. É hora de agir, de dizer basta à exploração capitalista da “união nacional” e à total espoliação de Portugal pelos bancos europeus.
É preciso radicalizar a política da CGTP, organizar a rebelião dos trabalhadores portugueses, romper qualquer tipo de aliança com a burguesia e dizer: nenhum dinheiro para os capitalistas, estatização dos bancos e do sistema financeiro, abaixo à política de estrangulamento econômico da União Europeia! Por um governo dos trabalhadores, a construção de um estado operário e pela revolução socialista!