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Eduardo Vasco

Militante do PCO e jornalista. Materiais publicados em dezenas de sites, jornais, rádios e TVs do Brasil e do exterior. Editor e colunista do Diário Causa Operária.

Bolsonaro deixa o povo morrer

A esquerda é a vanguarda do povo, não pode ficar de braços cruzados

As organizações de esquerda são a força mais avançada da classe trabalhadora, não pode se esconder embaixo da cama enquanto Bolsonaro deixa o povo morrer

Por Eduardo Vasco

A quase totalidade da esquerda nacional encontrou a desculpa perfeita para não mobilizar o povo. A pandemia do coronavírus, que, ao que tudo indica, irá matar talvez até centenas de milhares de brasileiros, amplificou a crise do regime político, econômico e social já altamente desgastado pelos golpistas.

Bolsonaro e seu governo de extrema-direita, com uma política nula de saúde pública, se preocupa apenas em salvar os lucros de seus financiadores, os grandes capitalistas. Para isso, não se importa de destruir os serviços públicos, particularmente os tão necessários serviços de saúde. Assim, a única “solução” que pode dar ao povo é que permaneça confinado em casa. Essa é a propaganda martelada 24 horas por dia pela imprensa burguesa.

Natural, por parte da burguesia fascista. O estarrecedor é a esquerda estar reproduzindo com todas as letras a propaganda da direita. “Fique em casa” – esse é o grande programa da esquerda para enfrentar a crise. Foi uma traição o cancelamento dos atos do dia 14 e do dia 18 de março, que prometiam ser atos massivos contra a direita e diretamente pelo Fora Bolsonaro, em um momento no qual essa palavra de ordem se impôs definitivamente na boca do povo, o que ficou claro no 8 de Março.

Ou seja, no momento em que estava mais favorável a agitação e a mobilização para derrubar o governo ilegítimo, a esquerda recuou e desmobilizou as massas, seguindo acriticamente a propaganda da burguesia.

O argumento para ter adotado essa política suicida é a “responsabilidade” para com a saúde da população. Afinal, aglomerações devem ser evitadas, a fim de que o coronavírus não se propague. No entanto, é uma minoria da população que tem condições de ficar em casa sem trabalhar ou de trabalhar em casa. A maioria precisa sair de casa, pegar ônibus e metrô lotados, se amontoar em seu local de trabalho, para ganhar o pão de cada dia. Isso a esquerda não leva em consideração, talvez por seu distanciamento das massas, que não têm os mesmos privilégios de professores universitários ou parlamentares.

O governo dos capitalistas, encabeçado por Bolsonaro, obriga os trabalhadores a se exporem ao vírus. Não trata de dispensar grandes somas do dinheiro público para a prevenção e o combate à doença, como a disponibilização dos testes gratuitos ou da distribuição de material fundamental para a proteção, como máscaras e álcool-gel. Pelo contrário, libera milhões de reais para os planos de saúde privados e ameaça diminuir o salário dos trabalhadores. Para um governo que se diz cristão, o mais sagrado é o lucro dos patrões. Para um presidente que se diz patriota, o interesse dos capitalistas estrangeiros vem antes do interesse do povo brasileiro.

Contra toda essa política carniceira, o que a esquerda propõe é que o povo fique em casa e bata panelas. Como não foi organizado para sair às ruas, o povo realmente bateu panelas. Mas não pelas mil e uma reivindicações divisionistas que a esquerda aprogoa, e sim por uma reivindicação que sintetiza todas as principais exigências populares: o Fora Bolsonaro. O barulho das panelas, por todo o Brasil, tem sido acompanhado de gritos como “Fora Bolsonaro”, “Fora fascista” e “Fora miliciano”. Isso mostra que, se a esquerda não houvesse desistido dos atos, eles seriam enormes e radicalizados, tremendas manifestações da ira popular e da força do povo organizado contra um regime cada vez mais ditatorial.

Mas não. A esquerda “responsável” e acrítica abandonou o povo à sua própria sorte. Digamos que o confinamento realmente seja adotado. Ele não garante proteção alguma contra o vírus. Em algum momento, alguém da família que está presa em casa terá de sair para comprar os mantimentos básicos e poderá contrair a doença e infectar todos os outros, afinal, principalmente nas moradias da classe trabalhadora, as famílias costumam ser grandes e os locais, apertados.

Reportagens da imprensa burguesa registram o sofrimento dos pobres com o confinamento, como nas favelas do Rio de Janeiro, onde o povo não tem água e as famílias são obrigadas a se amontoarem nos casebres.

O confinamento é inviável, não pode ser aplicado a todos porque a sociedade simplesmente não funcionaria. A esmagadora maioria das pessoas continua trabalhando, não tem por onde fugir. Mas, no conto de fadas da esquerda, mensagens nas redes sociais mudam o mundo, ações individuais mudam o mundo, aliança com a direita muda o mundo, e todo o mundo está tranquilo em casa, protegido do vírus mortal.

Enquanto isso, Bolsonaro aplica sua política de destruição de qualquer tipo de direito a todo o vapor. Bilhões são injetados na economia para salvar os bancos e as grandes empresas, projetos de privatização são enviados ao Congresso, e nem um centavo para o cuidado da saúde pública. Nem mesmo as doenças, como a pandemia atual, são democráticas. Os ricos se safam, se protegem e aumentam sua fortuna, com raras exceções. Os pobres morrem aos montes, se não infectados, famintos.

Como ficam os centenas de milhares de moradores de rua e de presidiários? Os primeiros não têm onde se abrigar. Os segundos já estão confinados e assim irão morrer – ou do coronavírus, ou de outra doença qualquer, ou de alguma outra forma cruel. A esquerda terá a audácia de chegar para um mendigo ou para uma pessoa que tem um familiar vivendo nas masmorras que são os presídios brasileiros e pedir para “ficar em casa”? O pior de tudo é o apoio criminoso às medidas nazistas dos governos municipais, estaduais e federal, de proibir na base da detenção que as pessoas saiam às ruas. Isto é, a naturalização da situação de moradores de rua (que não têm onde ficar) e de presidiários (que não têm para onde correr).

Os trabalhadores de call center de Goiânia e São Paulo demonstraram, na semana passada, a disposição de luta e a coragem da classe operária, mesmo diante de uma situação tão complicada. Saíram às ruas, em pequenas aglomerações, para protestar contra as condições subumanas a que são submetidos. Não seguiram as instruções “sensatas” da esquerda, até porque não podem ficar em casa, se não perdem o emprego. Se mobilizaram, porque sabem que essa é a única forma de se conseguir alguma coisa. Petroleiros e metalúrgicos também ameaçam entrar em greve diante de tal crise. E os gritos de Fora Bolsonaro ouvidos das janelas por todo o Brasil também se inserem nessa questão: o povo está disposto a se mobilizar para garantir sua sobrevivência, tomando para si a iniciativa para resolver a crise – ao contrário do que acredita a esquerda, que joga nas mãos de Bolsonaro todo o poder sobre o destino dos trabalhadores.

Se estivéssemos em uma guerra civil, na qual o governo dos fascistas estivesse bombardeando cidades inteiras e, especialmente, os bairros populares, a esquerda adotaria a mesma postura covarde? Pediria para o povo ficar em casa? Afinal, se saísse às ruas poderia ser atingido. Mas, ficando em casa, as bombas também poderiam cair sobre suas cabeças. O povo não teria para onde escapar, assim como agora. A única solução seria mobilizar e organizar o povo para vencer a guerra e derrubar o governo.

A luta contra o coronavírus também é uma guerra. A mesma guerra que aquela contra o governo Bolsonaro. E o povo está disposto a travá-la. Assim como em uma eventual guerra civil do povo contra os fascistas seria necessário organizar a luta armada, hoje a esquerda precisa se portar como a vanguarda da população e organizar a luta contra Bolsonaro.

A vanguarda é aquela que está à frente nas lutas. Aquela que toma para si a responsabilidade de liderar o enfrentamento contra o inimigo. O setor mais avançado das classes populares, e que por isso tem as maiores responsabilidades. E, como tal, não deve se acovardar. Deve assumir a dianteira e, se for preciso, enfrentar os perigos de sua atividade. A mobilização popular é uma necessidade, ou seja, uma inevitabilidade. Se não se comportar como a vanguarda da população, chegará uma hora que esta simplesmente irá passar por cima da esquerda e se levantará, ela mesma, para lutar contra as dificuldades e derrotar as adversidades.

Porque a realidade se impõe e o povo sabe o que sofre na pele. As crises, sejam elas políticas, econômicas ou sociais, são revolucionárias. Quando faltar o pão e o leite, ai de quem pedir para a mãe ou o pai de família ficar em casa.

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