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Eduardo Vasco

Militante do PCO e jornalista. Materiais publicados em dezenas de sites, jornais, rádios e TVs do Brasil e do exterior. Editor e colunista do Diário Causa Operária.

Autodestruição do capitalismo

A decomposição da democracia é algo totalmente natural

Ao longo da história, as grandes crises e revoluções foram precedidas de uma intensa insatisfação popular em relação ao regime político-social de cada época

Por Eduardo Vasco

Relatório publicado pela Universidade de Cambridge no último dia 29 apontou que menos de 20% dos brasileiros estão satisfeitos com o nosso sistema democrático, enquanto que, a escala global, o índice não é muito mais animador: 42,5% estão satisfeitos, isto é, menos da metade da população mundial.

Por um lado, a esquerda pequeno-burguesa nacional seguiu mais uma vez o discurso da burguesia que finge ser democrática e atribuiu essa insatisfação à corrupção, à violência e à falta de confiança na política, ao mesmo tempo que aproveitou para fazer campanha contra a polarização, da qual as expressões de ódio de classe seriam resultado de sentimentos individuais das pessoas, e não que esses sentimentos sejam reflexo exatamente da crise democrática.

Do outro lado, a nível internacional, o relatório – cujos dados não podem ser levados muito a sério – tem um forte apelo propagandístico contra países dos quais os governos estão em contradição com o imperialismo. Afirma, por exemplo, que Venezuela, Rússia e Belarus são países “que experimentaram uma erosão democrática” no século XXI, “geralmente com homens-fortes que, uma vez no cargo, começaram a minar direitos civis e liberdades”.

O relatório da Universidade de Cambridge abrange o período que começou no ano de 1995 e apresenta um aumento significativo da descrença na democracia a partir da segunda metade da década de 2000. Essa observação ajuda a entender melhor a causa da insatisfação com a democracia, e não as besteiras propagadas pelo imperialismo e pela esquerda desorientada.

Foi justamente nesse período, particularmente em 2008, que a democracia entrou na sua mais nova crise – como parte de uma crise geral iniciada em 1974. Aqui, entende-se democracia pelo seu aspecto econômico, que é, de fato, o motor de todos os processos sociais.

A crise da democracia é a crise do capitalismo. Em 2005, eram “apenas” 38,7% os cidadãos que estavam insatisfeitos com a democracia. Esse percentual aumentou quase 20 pontos em quinze anos.

O próprio relatório admite que, dentre os motivos para a elevação acelerada e exponencial da descrença na democracia estão a crise financeira de 2008 e a crise do euro de 2009, que foi gerada por aquela. O colapso do gigante Lehman Brothers, em outubro de 2008, fez aumentar em 6,5% a insatisfação com esse regime.

Quando a economia vai mal, a sociedade vai mal. Essa é a regra histórica. E a economia vai mal quando os que a controlam já não conseguem mais exercer esse controle, por motivos inerentes ao funcionamento das sociedades divididas em classes.

Ao longo da história, as grandes crises e revoluções foram precedidas de uma intensa insatisfação popular em relação ao regime político-social de cada época. Simplesmente porque esses regimes não se sustentavam, uma vez que não conseguiam atender aos anseios das classes inferiores, que alcançavam o ápice de seu desenvolvimento e organização e que, assim, viam a necessidade e a possibilidade de se livrar da opressão das classes superiores.

As sociedades foram derrubadas, e novas erguidas, no momento em que as classes mais exploradas não aguentavam mais tamanha opressão e desigualdade política, social e econômica (mesmo que elas não tenham liderado as revoluções e conquistado o poder, como foi o caso da Revolução Francesa, uma revolução que levou a burguesia, e não o povo, ao poder).

A democracia moderna é o regime político por excelência do sistema capitalista. Ela chegou ao seu auge na metade do século XIX, quando o parlamentarismo foi a forma política do liberalismo econômico nos países capitalistas. No entanto, tudo o que chega ao auge começa a derrocar, e já faz mais de 150 anos que o capitalismo – e a democracia – estão em derrocada. Desde então, o capitalismo atingiu sua fase superior, o imperialismo, que levou ao estabelecimento dos monopólios e de seu domínio sobre a economia mundial, gerando duas guerras mundiais, o fascismo, ditaduras sanguinárias no mundo inteiro e o neoliberalismo.

Cada etapa política acompanhou um desmoronamento da economia capitalista, como a crise de 1929, a crise de 1974, as crises do final dos anos 1990 e a crise de 2008. Cada crise econômica é uma machadada no tronco (já podre) da árvore do capitalismo, que uma vez, num passado remoto, chegou a florescer e levou o progresso à humanidade.

A atual crise política no mundo inteiro, com golpes de Estado, conflitos diplomáticos, guerras civis e imperialistas e implementação de ditaduras, é o reflexo natural da crise capitalista. Mais natural ainda é o acirramento da luta de classes, com a polarização política entre esquerda (trabalhadores) e direita (burgueses) em todos os cantos do planeta.

O papel das organizações de esquerda, portanto, não é lamentar ou tentar evitar esse acirramento da luta de classes, essa polarização, essas demonstrações de ódio. A direita continuará expressando seu ódio pelo povo, e de maneira concreta, alimentando o crescimento do fascismo. Se a esquerda tentar abortar essa luta ou quiser combater esse ódio com amor, apenas afetará os trabalhadores, que serão esmagados pelo fascismo.

Em toda a história, quando a luta de classes se acirrou – seja nas revoluções ou nas contrarrevoluções –, o povo demonstrou seu ódio, sua fúria, sua cólera, contra os seus opressores, a ponto de cometer brutais atrocidades para se vingar da feroz exploração a que era submetido. O ápice desse confronto de classes significou a corrosão completa do sistema político e social existente.

Com a democracia burguesa não será diferente. Trata-se de um regime em frangalhos que já não consegue se sustentar. A democracia atual, se comparada com a democracia do auge do capitalismo, é na verdade uma ditadura. Tal como o capitalismo não é mais um sistema de livre-concorrência, e sim, cada vez mais, de concentração do mercado por um punhado de especuladores. E esse monopólio da economia significa também concentração de renda.

Foi em janeiro também que a ONG Oxfam divulgou um levantamento no qual informa que as 2 mil pessoas mais ricas do mundo têm mais dinheiro do que 4,6 bilhões, somados. Ou seja, é possível colocar esses dois mil capitalistas sentadinhos nas arquibancadas da Rua Javari – e ainda vai sobrar metade do estádio vazia – e ver que esse grupo de exploradores tem uma fortuna maior do que mais da metade de toda a raça humana.

É a completa degeneração do sistema econômico capitalista. Não é de se impressionar que tanta gente no mundo esteja insatisfeita com esse regime desumano.

Chegará uma hora – mais cedo do que tarde – que os bilhões de explorados de todo o mundo se levantarão contra essa situação. Já é possível ver os sintomas nas greves e insurreições por toda a América Latina, Oriente Médio e na Europa. A esquerda deve organizar esse movimento em um sentido revolucionário, porque a burguesia já está organizando a direita em um sentido contrarrevolucionário, sabendo que nunca mais haverá democracia.

O que haverá depois disso será a ditadura. Ou o fascismo, ou a ditadura do proletariado. Mas mesmo que o fascismo vença, em um primeiro momento – e é preciso impedir isso porque as experiências do século XX mostraram o quão atroz e maléfico ele pode ser –, o único sistema que realmente pode substituir a democracia burguesa (o capitalismo), e que, efetivamente, vai substituí-la algum dia, é a ditadura do proletariado (o socialismo).

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