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A crise política e os conflitos de classe

Em recente pesquisa sobre o índice de polarização política realizado pelo Ipsos, no ranking de 30 países, o Brasil ficou com a terceira posição, ficando atrás apenas da África do Sul e da Índia.  Essa classificação e as posições entre os diferentes países  geram controvérsias, mas de qualquer forma, é indicativo de que longe de ser resolvida a crise política, tendo a ser acirrada, aumentando a polarização política no país.

Apesar de todas as manipulações, fraudes e manobras políticas que os golpistas realizaram nas eleições de 2018, a burguesia não conseguiu estabilizar a situação política. Os desdobramentos políticos do governo Bolsonaro, ainda nos seus primeiros meses, indica que a tendência é um aprofundamento da crise , com o aumento da polarização política.

Uma parcela significativa dos analistas políticos buscam mascarar o conteúdo da crise , atribuindo o crescimento da polarização a conceitos abstratos como o  “ aumento da intolerância política”  e ao “ ódio político” . Para o  entendimento desse processo político é necessário relacionar seu desenvolvimento com os conflitos de classes, ou seja analisar a conexão entre os fatores econômicos e sociais com a esfera política.

Em Reforma e crise política no Brasil. Os conflitos de classe nos governos do PT, o professor da Unicamp, Armando Boito Jr discorre sobre a crise política brasileira.  O livro publicado em 2018 pela Editora da Unicamp é constituído por textos escritos em diferentes épocas, e ao tratar a crise a partir da luta de classes se afasta  da orientação dominante na ciência política – institucionalismo.

“ a política é um conflito duro de interesses e de valores, vinculados uns aos outros e, ambos, enraizados em classes, frações de classe e camadas sociais”. (BOITO, JR. Armando. Reforma e crise politica no Brasil,p.15, 2018)

Na primeira parte do livro,  variados aspectos dos governos do PT, em especial o governo Lula são abordados:

“ o bloco no poder, sua composição e fração burguesa hegemônica; as dimensões econômica e social da política que denominamos neodesenvolvimentista; as bases populares contidas por esses governos do PT com os trabalhadores da massa marginal; a politica externa Sul-Sul como expressão dos interesses da grande burguesia interna e recuperação do movimento sindical brasileiro da crise.” (BOITO, JR. Armando. Reforma e crise politica no Brasil, 2018)

Na segunda parte, o tema é a analise da crise política que levara a retirada forçada do PT do Executivo Federal

“ o caráter da crise politica que qualificamos como resultante, no fundamental, de uma ofensiva restauradora do capital internacional e da fração da burguesia brasileira a ela associada; a situação de instabilidade na qual ingressa a democracia no Brasil; a divisão da classe média na crise política; os conflitos entre instituições do Estado que funcionavam como centros de poder de frações burguesas rivais e da alta classe média: a Operação Lava jato como partido da alta classe média apoiado pelos interesses do capital internacional; a dinâmica da crise política, seu resultado e as polêmicas bibliográficas a respeito do fenômeno; a fragilidade da resistência ao golpe parlamentar de agosto de 2016.”( BOITO, idem).

Armando Boito analisa os governos do PT a partir da noção de bloco de poder e de conceito de burguesia interna de Nicos Poulantzas. Identifica a natureza do processo político que levou ao impeachment é a constituição de um novo bloco de poder, a partir da ação incisiva das forças conservadoras contra as reformas pautas pelos governos do PT.

As classes e o bloco de poder no governo Lula

Nos primeiros capítulos, Boito caracteriza as forças políticas e grupos sociais que constituem o governo Lula. Segundo o autor o governo Lula representou a “ascensão política da grande burguesia interna industrial e do agronegócio, principalmente dos setores voltados para o comércio de exportação.”

Por outro lado, acontece o acesso político de setores vinculados aos trabalhadores que estavam fora dos arranjos tradicionais dos governos no Brasil. Assim, uma camada oriunda do setor do trabalho representado pelos trabalhadores qualificados da indústria automotiva, do setor petroleiro, entre outros expresso na burocracia sindical consegue uma participação no bloco de poder uma “ascensão política sem a conquista da hegemonia”.

Nos governos do PT, de uma maneira mais clara a partir do segundo mandato presidencial de Lula, a  política econômica representou um deslocamento em relação ao neoliberalismo, com a formação do que se denominou “ neodesenvolvimentismo” com um “estimulo da produção nos limites permitidos pelos interesses fundamentais do grande capital financeiro”.

Os Governos Lula: a nova “ burguesia nacional “ no poder será o titulo do capitulo 2, em que é apresentada a tentativa de um contraponto da “ burguesia interna” diante da nova onda de internacionalização da economia capitalista.

“Nova burguesia – interna rápida caracterização do neodesenvolvimentismo como uma proposta de política econômica que representa os interesses de classe da grande burguesia interna.”( BOITO, idem)

O novo desenvolvimentismo apresenta-se como o  “desenvolvimento possível dentro do modelo capitalismo neoliberal periférico”. A base seria o intento da burguesia interna em estabelecer uma forma de integração na mundialização buscando novos mercados . A atuação da   Odebrecht  seria um exemplo desse processo.

Os aspectos políticos dos governos do PT são discutidos no Capitulo 4, O lulismo, o populismo e o bonapartista. Neste capitulo é retomado um tema do Lulismo. Afirmando que o “Lulismo é um dos fenômenos políticos mais importantes do Brasil do século XXI.” É feita uma comparação com o Varguismo, em que é ressaltado que tanto o Lulismo quanto o Varguismo tem uma ampla base popular; estabelece uma política de intervenção do Estado na economia, não havendo entretanto um estimulo a  organização política independente dos setores populares. Ao tratar do Lulismo, Boito estabelece uma polêmica com André Singer, em torno da caracterização do Lulismo como uma  variante do bonapartismo.

A análise de Singer aponta para o surgimento do  “Lulismo” em 2006, a partir da ascendência da figura de Lula com a população de baixa renda e com subproletariado, retirando estas amplas camadas da população da influência da burguesia.

Em contraposição, Boito retoma o debate sobre o populismo, tentando reconstruir um conceito, retirando a carga preconceituosa do seu uso pela imprensa e por setores acadêmicos.  Assim, “ nós definimos o populismo, de maneira sintética, como o fetiche do Estado protetor” .  “ o culto da figura do líder indica aqui o culto das instituições Estado”.  A tese de que o Lulismo seria uma variante do populismo – “ ele não organizou politicamente a sua base social. Manteve-se politicamente dispersa e na condição de jazida de votos para os candidatos presidenciais do PT” ( BOITO, idem,p. 133).

Na segunda parte do livro são abordados os desdobramentos da crise política como “ ela foi provocada, fundamentalmente, pelo forte ofensiva restauradora do campo neoliberal ortodoxo que pretende iniciar uma nova onda de reformas neoliberais no Brasil” (BOITO, idem,p. 211). Este será o tema da segunda parte da nossa resenha.

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