O ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro, general Eduardo Pazuello, não foi punido pelo Exército por participar de manifestação ao lado do presidente fascista.
Paulo Sérgio Nogueira, general do Exército, junto ao Alto Comando, decidiu arquivar a apuração do processo disciplinar. Pazuello está safo.
Fica evidente a influência de Bolsonaro sobre o Exército. Ele não permitiu a punição de Pazuello. Os generais estão junto com o presidente da República e essa é mais uma comprovação desse fato.
A burguesia, através de sua imprensa, fez uma campanha para tentar pressionar os generais a punir Pazuello, em seu esforço para desgastar Bolsonaro. A direita tradicional tentou dobrar o Exército, tentou ganhar no braço de ferro.
No entanto, perdeu. Isso porque, desde o início, sabia que não tinha força suficiente para tal. Tanto é que sua campanha não foi de ataques, mas sim de tentativa de atrair o Exército para que punisse Pazuello, atacando Bolsonaro por tabela. Mas a burguesia nunca teve meios para pressionar as Forças Armadas.
A direita tenta desgastar Bolsonaro, ao invés de fazer uma campanha feroz para derrubá-lo, como foi com a ex-presidenta Dilma Rousseff entre 2014 e 2016.
Isso porque sabe que pode acabar tendo de apoiar Bolsonaro nas eleições de 2022. Não conseguindo uma “terceira via” do centrão que se destaque na CPI da Covid para se candidatar contra Bolsonaro e Lula, a burguesia deverá fazer um acordo com Bolsonaro e os militares.
Medo do exemplo de Pazuello
A direita golpista, a burguesia e, até mesmo, o Alto Escalão do Exército não viram com bons olhos a participação de Pazuello no ato bolsonarista também por um outro motivo.
Reportagem de ontem (04) do jornal O Estado de S. Paulo indica o motivo da preocupação dos generais. “O colegiado queria uma punição, ainda que limitada a mera advertência verbal. Não funcionou. A desaprovação do presidente Jair Bolsonaro não admitiu concessões. O Exército foi enquadrado”, diz a matéria, que cita um oficial da reserva anônimo: “Bolsonaro está bem perto de conseguir o que sempre quis, o Exército dele.”
O general Paulo Chagas, até há pouco um dos mais ferozes defensores do fascismo bolsonarista, foi ainda mais claro: “lamento a decisão. Está aberto o precedente para que a política entre nos quartéis. A disciplina está ameaçada.”
Eis o grande temor dos generais, e da própria burguesia: se um general pode subir no palanque e fazer política, os soldados rasos irão querer fazer o mesmo. E o baixo escalão constitui a maioria das Forças Armadas. Eles estão em uma posição de contradição com o alto escalão, visto corretamente como extremamente privilegiado e opressor dos soldados.
Ainda, diante da polarização política crescente, os soldados podem se insurgir, como já ocorreu diversas vezes na história do País. Em um primeiro momento, podem ser tomados pelo bolsonarismo – e é o que Bolsonaro quer. No entanto, pelo fato de a grande maioria dos militares de baixo escalão ser proveniente da classe operária, a correlação de forças se dirigindo à esquerda poderá até mesmo levar à conscientização política desses militares. Esse seria o pior pesadelo dos generais e da burguesia. Essa é a raiz de todas as preocupações na politização das Forças Armadas.