A Bolívia vive um princípio de guerra civil. Após o golpe de Estado que derrubou o presidente Evo Morales, tanto a extrema-direita, quanto o povo saíram às ruas e entraram em uma política de enfrentamento. A polícia, obviamente, sendo um ninho de fascistas, colocou-se ao lado da extrema-direita contra a população que está nas ruas protestando contra o golpe de Estado, pedindo a renúncia da presidente golpista autoproclamada, Jeanine Áñez, eleita em uma situação totalmente ilegal.
Na sexta-feira (15), mais de dez manifestantes contra o golpe foram assassinados pela polícia e mais de cem foram feridos, além do que outra centena foi detida pela polícia. Instaurou-se, por parte da direita golpista, uma verdadeira ditadura no país. Policiais e militares reprimiram brutalmente o povo que estava nas ruas contra a direita na cidade de Cochabamba.
A repressão começou em uma ponte que une município de Sacaba a Cochabamba, assim que um grupo de produtores cocaleiros estavam adentrando na cidade. A repressão foi tamanha que até a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) denunciou o uso desproporcional de força militar e policial na cidade.
A repressão teve reação. Relatos detalham, inclusive, que os camponeses que iam em direção à cidade reagiram com dinamite. Mas mesmo assim é uma luta desproporcional. Enquanto a polícia e os militares estão fortemente armados, o povo continua desarmado.
Isso ocorre por conta de uma política totalmente errada por parte das direções do movimento operário e popular, que é contra o armamento da população. Por conta de supostas conveniências, como a famosa desculpa da briga no trânsito, e com o argumento de que o armamento do povo levaria a uma escalada da violência social, a esquerda coloca-se totalmente a favor do monopólio das armas pelo Estado burguês, inimigo do povo.
Este argumento é totalmente fajuto. Primeiro porque o problema da violência é um problema social. Se há muita violência, é por conta das contradições sociais geradas pelo sistema capitalista. Segundo, pois trata a população como verdadeiros animais, que sairiam às ruas matando gente descontroladamente. Ou seja, uma concepção totalmente pequeno-burguesa, que coloca o povo como seres inferiores, incapazes de manusear armas de fogo – ao contrário da polícia, que mata descontroladamente a população, como estão fazendo na Bolívia.
Mas o problema principal não é esse. Fato é que os revolucionários defendem o armamento da população justamente para se previnir, sabendo que o acirramento da luta entre as classes sociais é inevitável. Portanto, se o povo estiver desarmado, chegaremos a uma situação parecida com a da Bolívia, em que existe um conflito intenso entre a classe trabalhadora e a burguesia, sendo que os primeiros estão desarmados e os últimos armados, por meio do Estado (polícia, militares, etc.) e de seus seguranças e bandos privados.
Se o povo não tem o direito de se armar, a direita consegue controlá-lo com mais facilidade. Não por nada, as reivindicações das Revoluções Burguesas tinham como princípio fundamental o direito ao armamento para se proteger dos abusos do Estado e garantir, através da força, suas reivindicações e seus direitos. Deste modo, a esquerda anti-armamentista retrocedeu séculos neste quesito.
Por isso, é preciso defender que o povo boliviano se arme. Justamente para evitar massacres como o que ocorreu em Cochabamba. Apenas armados, a população poderá enfrentar a polícia, os militares e os bandos fascistas, todos eles altamente armados.