O candidato apoiado pela ex-presidente Cristina Kirchner, Alberto Fernández, venceu as eleições presidenciais na Argentina em primeiro turno no último domingo (27). Com 48,1% dos votos, Fernández derrotou Mauricio Macri, que conseguiu 40,4% dos votos. O candidato da direita reconheceu a derrota ainda no domingo, quando as pesquisas de boca de urna confirmavam a vitória de Fernández, teoricamente esperada desde a realização das eleições primárias argentinas, quando Fernández teve mais de 15 pontos de vantagem sobre Macri.
Deslocamento à direita
Por ocasião das eleições primárias em agosto, houve uma queda vertiginosa do peso argentino diante do dólar e uma queda nas bolsas. Um movimento especulativo em grande medida voluntário da parte de grandes capitalistas, que mandaram assim seu recado para o possível novo governo. Fernández, de sua parte, correu para a imprensa para fazer declarações que pudessem tranquilizar o chamado “mercado” – isto é, os capitalistas -, como, por exemplo, prometer que a Argentina não dará um calote na dívida pública. Ontem (28) Fernández já se reuniu com Macri para iniciar uma transição até o dia 10 de dezembro, quando toma posse.
Dentro do peronismo, Alberto Fernández já representava, antes dos acenos que fez à direita nos últimos meses, uma ala mais direitista do que o de sua ilustre candidata à vice-presidente, Cristina Kirchner, que puxou boa parte dos votos para o vencedor. Sob pressão da direita, houve um deslocamento ainda maior, o que leva a comparações com o equatoriano Lenín Moreno. Ainda é preciso observar o que acontecerá, mas em qualquer caso a direita não está disposta a entregar facilmente os rumos da política nas mãos de governos nacionalistas burgueses ao estilo dos governos Kirchner.
A votação de Macri
Mesmo controlando as eleições e um aparato gigantesco de comunicações, a direita não conseguiu vencer as eleições. Mas votação de Macri demonstra que a direita ficou longe de simplesmente entregar os pontos. A diferença diminuiu de 15% para menos de 8% em relação às primárias. Na Argentina, mais de 45% dos votos bastam para vencer no primeiro turno, como a votação de Fernández já tinha sido muito alta, a direita não conseguiu reverter a tempo essa tendência. Mas o resultado eleitoral mostra que mesmo por meio das eleições houve um esforço grande para derrotar a esquerda.
A direita não vai abandonar o poder
Esse esforço, no entanto, não é o único e sequer é o principal. Em todo o continente, a direita é golpista. Estimulada e guiada pelo imperialismo os direitistas adotam a mesma política em toda a América Latina. De modo que, na Argentina há muitas possibilidades da volta da direita ao poder muito antes da próxima eleição. Uma delas é que Fernández seja de fato um Lenín Moreno. Outra possibilidade é pura e simplesmente um golpe aberto, possibilidade que assoma cada vez mais acintosamente na América Latina.
Portanto, seja na Argentina ou no Brasil, as eleições não vão contornar a necessidade de mobilização popular para derrotar a direita. Para derrotar o imperialismo e a política neoliberal, a única possibilidade é mobilizar os trabalhadores em torno desse problema, mobilizar a população contra o imperialismo e os golpistas.