Logo após o resultado eleitoral das primárias argentinas, diante da derrota acachapante para Alberto Fernández, o presidente Maurício Macri anunciou medidas desesperadas e demagógicas como o aumento do salário mínimo e o congelamento dos preços dos combustíveis. Com 32% dos votos contra 47% do candidato kirchnerista, Macri tenta ganhar alguma popularidade para ser reeleito em outubro, e assim esses anúncios serviriam como justificativa para o eventual aumento do percentual de votação do presidente – obviamente, com uma grande manobra da burguesia para emplacar um segundo mandato do político neoliberal, que desde 2016 está entregando a economia argentina para os grandes monopólios imperialistas, sendo um fantoche do capital financeiro internacional.
Por sua vez, a burguesia imperialista sinalizou que não quer uma vitória peronista nas eleições ao despencar o valor do peso em comparação com o dólar em 30%. Além disso, o Banco Central elevou os juros em 74% e a bolsa de valores chegou a cair 30%. Um recado muito claro aos argentinos: se o kirchnerismo voltar ao governo, não haverá mais investimentos no país e a população vai sofrer ainda mais com as mazelas econômicas. Jorge Piedrahita, presidente de uma consultora financeira de Wall Street, declarou ao jornal golpista Clarín: “o peronismo deveria imediatamente dar sinais de moderação e pró-mercado para acalmar os ânimos [dos especuladores].”
E Fernández entendeu o recado. No dia seguinte, demonstrou um nítido recuo na política de campanha peronista, cuja propaganda vem enfatizando o caos que tem sido o governo Macri (com uma inflação beirando os 50% e milhões de argentinos jogados na pobreza) e a necessidade de combater as medidas neoliberais. Perante as pressões, ele afirmou que o povo apoiou as propostas da Frente de Todos, que não contemplam “nem a inadimplência nem o risco de não pagar dívidas”. Ou seja, Fernández fez uma declaração dirigida diretamente à burguesia especuladora: vai continuar honrando os compromissos assumidos por Macri, de pagar as dívidas contraídas devido às imposições do FMI para a “reestruturação econômica” da Argentina sob as bases da privatização de empresas estatais e desmonte da máquina pública para que os grandes capitalistas tomem conta da economia do país.
Outra declaração para provar que é um esquerdista extremamente moderado e que não vai mexer com os interesses do imperialismo foi sobre a Venezuela. “É preciso recompor a institucionalidade na Venezuela e Maduro não a garante”, disse. Ele também afirmou que o governo venezuelano “é um regime autoritário, o que torna muito difícil a sua defesa”.
Assim, Fernández distancia-se ainda mais da política levada a cabo pelos governos peronistas de Néstor e Cristina Kirchner, que ficaram marcados por um relativo enfrentamento ao capital imperialista ao se aliarem ao chavismo e estatizarem alguns setores antes privatizados pelos sucessivos governos neoliberais que os antecederam.
Sempre é preciso lembrar que Alberto Fernández sempre esteve à direita dos Kirchner. Por isso mesmo foi colocado na chapa de Cristina nessas eleições, por uma imposição da burguesia. Pressionando ainda mais, a burguesia argentina conseguiu levar Kirchner à capitulação quando ela abandonou a cabeça da chapa para dar lugar a Fernández. Assim, a burguesia visa garantir que, mesmo que saia vencedor, o peronismo não implemente uma política de confronto, e sim de total conciliação com os interesses imperialistas.