No último dia 2, renunciou o presidente da Argélia, Abdelaziz Bouteflika. O octogenário governava o país há 20 anos, seu quarto mandato terminava dia 28 de Abril, e já havia desistido da ideia de ir para o quinto mandato. As manifestações argelinas estava pressionando o governo, e acabaram resultando na sua renuncia.
Para entendermos o que está acontecendo na Argélia precisamos olhar minimamente para o seu passado. Sua independência data de 1962, quando após uma guerra longa e sangrenta contra os francesa, a FLN (Frente de Libertação Nacional Argelina), através de um plebiscito decretou a independência do país.
A frente representava os setores populares anti-imperialistas na época, e acabou ligando-se à União Soviética. Sua política nacionalista porém nunca chegou aos fins principais; nunca expropriou a burguesia e desfez a importante reforma agrária que ela mesma havia realizado pouco tempo depois da independência do país.
A crise econômica da década de 80 e 90 assolou fortemente a Argélia, A burguesia local viu como solução uma abertura maior ao regime capitalista. A medida teve uma forte repercussão na população. Em aproximadamente uma década a pobreza absoluta e o desemprego praticamente dobraram de tamanho.
Bouteflika foi o primeiro governante civil desde a independência argelina, assumiu em 1999 em meio a uma guerra civil. A guerra era oriunda da crise econômica, setores radicais islamistas estavam em conflito contra o governo, só foi resolvida em 2005, quando Abdelaziz adotou um posição apaziguadora.
Até agora, o governo argelino tinha um posicionamento favorável à burguesia nacional. O país possui importante reservas de petróleo e gás xisto. Essas reservas abastecem boa parte da Europa e sobretudo a França. Dois importantes parceiros econômicos da Argélia são a Rússia e a China, fator conflitante com os interesses do imperialismo europeu e, principalmente, americano. Seria de interesse dos EUA tomar o mercado de abastecimento europeu com gás natural líquido, mercado em que o argelinos estão muito presentes, e também diminuir os acordos econômicos do bloco Rússia e China na África e no mundo árabe – lembrando que a Argélia mantinha posições pró-Síria, país importante para a dominação norte-americana no oriente médio.
A atual crise político-econômica que assola o mundo capitalista, baixou consideravelmente a qualidade de vida da pequeno-burguesia e os rendimentos de um setor da burguesia argelina. Esses setores saíram as ruas fomentados por um jornal argelino, El Watan – publicado em francês, língua da elite argelina. A população mais humilde fala árabe -. Essa pressão sobre o governo botou a ala nacionalista na defensiva em proveito dos setores ligados ao imperialismo, levando à renuncia de Boutaflika.
Com a saída do presidente uma comissão provisória, ligada aos militares, vai governar o país indeterminadamente.
O presidente impopular da França, eleito através da fraude eleitoral, Emmanuel Macron se posicionou favorável às manifestações, manifestando a satisfação do imperialismo francês com a crise política argelina. As empresas petrolíferas americanas, Shell, Exxon Mobil etc. estão na espera que a nova comissão facilite suas atividades de exploração na região.