O dirigente da corrrente Resistência do Psol, ex-PSTU, Valério Arcary, publicou coluna no sítio Brasil 247 intitulada “Construir nas ruas em março uma muralha para deter a escalada neofascista” sobre as manifestações que estão marcadas para março.
Em seu texto, Arcary desenvolve toda uma fraseologia sobre o momento atual. Não se sabe onde exatamente ele quer chegar com sua argumentação, até que se descobre que ele na realidade só queria mesmo era mostrar o óbvio: “É preciso ir às ruas porque só nas ruas é possível vencer”. A grande pergunta seria: nas ruas com qual política? Isso, Arcary não nos explica.
Pelo contrário, seu argumento central – se é que podemos chamar de argumento – é o de que “podemos vencer” e de “temos que chamar às ruas com vontade de vencer”.
Basta termos “vontade”, afirma o dirigente do Psol. O difícil é ter vontade com a política que tem apresentado a maior parte dos setores da esquerda, incluindo aí o próprio Psol de Arcary. O próprio artigo não se mostra muito encorajador: “A política envolve sempre a decisão de correr riscos”, afirma ele, “eles devem ser bem calculados, mas será fatal se não houver uma resposta à altura nas ruas dias 8, 14 e 18 de março.”
Com certeza é preciso vontade e coragem, mas qualquer um que conheça a política da esquerda para os atos citados tende a ficar bem desencorajado e portanto sem muita vontade.
A esquerda se recusa a colocar claramente a luta contra Bolsonaro e os golpista nesses atos, que na realidade tendem a se transformar em uma manifestação em defesa do regime golpista. Diante da ofensiva do bolsonarismo que convocaou atos no dia 15 contra o Congresso, a esquerda saiu em defesa do regime ao invés de procurar denunciar a política de Bolsonaro e pedir a queda do governo.
Valério Arcary, em seu artigo, não fala uma só palavra sobre o caminho para derrotar o bolsonarismo, embora constate sinistramente que Bolsonaro pode ser “fatal”. Diante disso, diante de toda o desenvolvimento da situação, diante do que aconteceu no carnaval, Arcary se recusa a dizer duas palavra simples: “Fora Bolsonaro”. Desse modo, se embloca com a política que ele mesmo finge se opor: “Existe crise na esquerda porque há uma acomodação política que se alimenta da ilusão de que as instituições do regime, Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal serão capazes de frear a fúria bonapartista.” Arcary mostra que está se alimentando da mesma ilusão.
Arcary, como a maior parte da esquerda pequeno-burguesa, não quer o fora Bolsonaro porque persegue a frente eleitoral que seu partido pretende compor com setores da direita que não querem derrubar Bolsonaro, mas querem sustentar o regime político.
Dessa maneira fica bem difícil ter “vontade de vencer”. Afinal, para vencer Bolsonaro é preciso vencer também a direita dita “democrática”.