As organizações de massas da esquerda entenderam a mensagem de suas bases e decidiram, finalmente, voltar às ruas após mais de um ano paralisadas.
Esse é um sinal extremamente positivo da tendência à mobilização por parte dos trabalhadores, sufocados com a fome, a inflação e os riscos de desemprego e morte pelo vírus.
A tarefa da esquerda, principalmente de sua vanguarda revolucionária, é organizar essa tendência. É hora de ir às fábricas, oficinas, usinas, em todos os locais de trabalho. É hora de ir aos bairros populares, às favelas, às estações de trem e metrô, aos terminais de ônibus. É hora de ir às ocupações urbanas, aos assentamentos e acampamentos.
Está na hora de uma grande agitação política com distribuição de centenas de milhares de panfletos, folhetos, adesivos, cartazes, boletins e jornais em defesa de um auxílio emergencial de ao menos um salário mínimo, de vacinação para todos com quebra das patentes, de redução da jornada para 35 horas semanais, por Fora Bolsonaro e Lula presidente, por um governo dos trabalhadores.
Esse é o momento propício para a expansão dos Comitês de Luta, órgãos de base dos explorados, suprapartidários, de agrupamento dos oprimidos para a ação prática contra os opressores.
É dever da militância revolucionária impulsionar a formação de centenas de Comitês, em todas as categorias de trabalhadores, em cada fábrica, em cada agência dos Correios, em cada usina, em cada instalação petrolífera, em cada ocupação, em cada escola, universidade, bairro, acampamento, assentamento, favela, comunidade, igreja etc.
É preciso formar dezenas Comitês de Luta dos Negros, aproveitando a onda de indignação com a chacina do Jacerezinho e contra a polícia. Formar Comitês de Luta das Mulheres, dos Artistas e Intelectuais, de estudantes secundaristas e universitários, de sem teto e sem terra.
A formação de amplos organismos de base é uma tarefa fundamental que segue a tradição do movimento operário e popular, a tradição revolucionária.
A concepção revolucionária, socialista e operária é de ampla participação popular. Difere-se da concepção sectária de grupos que sempre existiram ao longo da história, segundo a qual só uma vanguarda iluminada poderia organizar a revolução, uma concepção que influenciou os anarquistas de que ações terroristas, putschistas, foquistas, isoladas das massas, seriam a solução para a revolução.
Esses últimos nunca fizeram revolução nenhuma. Nem as revoluções burguesas nem as revoluções anteriores às revoluções burguesas foram feitas por esses iluminados, só ocorreram porque tiveram de recorrer à participação das massas.
Os bolcheviques compreenderam isso perfeitamente e sempre trabalharam para educar as massas e integrar os trabalhadores no movimento político. Finalmente, foram eles que fizeram a revolução – graças à mobilização popular, sem ela não teria havido a primeira nem nenhuma revolução proletária. Foram os principais impulsionadores dos sovietes, mesmo que na maior parte do tempo não os liderassem formalmente.
No mundo todo, os revolucionários seguiram o exemplo bolchevique e formaram núcleos de base dos trabalhadores, camponeses e da juventude. Foi assim nas revoluções abortadas pelo stalinismo na China, na Espanha, na França. Ou, quando da derrota do nazismo, na Itália, na Alemanha, na Áustria, na Bélgica, novamente na França, em grande parte da Europa – sabotados, uma vez mais, pelo stalinismo. Foi assim na Iugoslávia e na Albânia, revoluções vitoriosas, e também por todo o leste europeu. Foi assim na China, em 1949, e um pouco antes, na Coreia, em 1945 – os Conselhos Populares espalharam-se pela península, expulsaram os japoneses e tomaram o poder. Foi assim no Vietnã e em Cuba. Foi assim na Nicarágua e é assim hoje na Venezuela.
As amplas massas estão dispostas a lutar. O repúdio a Bolsonaro e a toda a direita golpista é enorme. A conjuntura internacional, tão polarizada pelo acirramento da luta de classes como no Brasil, apresenta indícios favoráveis, principalmente à nossa volta.
Em Honduras, Guatemala, Bolívia, Peru, Equador, Paraguai e Colômbia o povo saiu às ruas, raivoso, contra a direita golpista e o imperialismo.
No Chile, um turbilhão popular de características revolucionárias adere às organizações de esquerda, que, no entanto, não aproveitam esse impulso para derrubar o regime apodrecido, herdeiro de Pinochet.
A situação prepara-se para explodir, mais cedo ou mais tarde, também no Brasil. A vanguarda deve fazer jus a seu nome e estar à frente da luta. Isso só será possível organizando os trabalhadores, e para isso é preciso estar em seu seio, cotidianamente.
Os sectários, irracionais, derrotistas, foram ultrapassados politicamente há muito tempo pelo movimento operário. Agora é a vez daqueles que querem organizar os trabalhadores, daqueles que querem integrar as grandes massas ao trabalho da luta contra o golpe, contra Bolsonaro, contra a burguesia e o imperialismo. Ao trabalho revolucionário. É hora de ir às massas, sedentas para encontrar o caminho certo, sedentas para encontrar uma organização que as esclareça e oriente no sentido da luta pelo poder político, pelo governo dos trabalhadores.