Diante da impossibilidade de simplesmente esconder o recente massacre no Jacarezinho, a imprensa burguesa apresenta uma interpretação muito parcial dos fatos. Há algumas décadas, o fato ganharia no máximo uma nota de rodapé nos grandes jornais, mas hoje a brutalidade policial é registrada por milhares de smartphones e divulgada na internet, como ocorreu agora com algumas das execuções sumárias realizadas pelos policiais civis na favela carioca.
Ao mesmo tempo em que se torna cada vez mais óbvio, até para quem não conhece a realidade dos bairros populares, que as polícias existem justamente para reprimir e impor o terror sobre a população pobre, essa imprensa cínica insiste em atribuir as atrocidades que ganham repercussão como erros pontuais ou casos isolados. Enquanto encenam uma abordagem crítica, praticam um verdadeiro malabarismo lógico para desviar do que se impõe como central no problema da violência policial.
Uma das estratégias tradicionais é destacar os “erros” individuais, seja dos policiais assassinos, dos delegados responsáveis ou até de alguma assessoria de imprensa da polícia. Abordar o problema do ponto de vista individual é bastante útil para esconder a atuação sistemática das polícias ao longo da história, o problema não estaria nas polícias em si mesmas, mas em indivíduos descontrolados ou extremistas, que apenas por acaso estariam nessas corporações.
Eventualmente um ou outro policial são julgados. Dependendo da pressão popular, algum deles é condenado e, em geral, transferido para funções administrativas na própria polícia. Mas o que isso muda na atuação sistemática da polícia? Absolutamente nada. Esse é um fato incontestável e, dada a quantidade absurda de chacinas operadas pela polícia, facilmente verificável na nossa história recente.
Slogans como “servir e proteger” não passam de mera propaganda ilusionista, não encontram base na realidade concreta da atuação das polícias militar ou civil. A função básica das polícias não é proteger a população, é proteger a propriedade privada. E como a concentração de renda é um fator fundamental do capitalismo, essa proteção à propriedade privada pode ser traduzida como proteção à burguesia e, consequentemente, guerra contra o povo.
Massacres como o do Jacarezinho, junto com outras violências cotidianas, são o funcionamento normal das polícias. Longe de ser a exceção, representam a regra. A imposição dessa violência assustadora é justamente a função que a polícia exerce na sociedade. Por isso, campanhas pela “desmilitarização” ou qualquer outra reforma cosmética nos aparatos de repressão são inúteis e atrapalham o desenvolvimento da luta em defesa dos direitos democráticos da população.
Assim como setores da esquerda, a imprensa burguesa algumas vezes usa a carta da “reforma da polícia” para mascarar seu objetivo de manter tudo do jeito que está. Ao contrário dessa esquerda, a burguesia sabe muito bem que discutir a reformulação de pontos específicos dessas instituições é mera perfumaria. Dá a impressão de que alguma coisa está, ou estará, sendo feita. Enquanto isso, o papel das polícias segue sendo desempenhado com toda a violência que for necessária.
A esquerda abraçar qualquer dessas estratégias, a da individualização ou da reforma da polícia, é um desserviço para a luta popular. Serve para iludir e confundir aqueles que seguem na mira das polícias. Para acabar com a violência policial é necessário dissolver essas máquinas de guerra contra o povo. A reivindicação de dissolução de todas as polícias se impõe então como uma resposta consequente a mais um banho de sangue patrocinado pelo estado.
Não basta desmilitarizar ou punir um ou outro policial, é preciso dissolver todas as polícias. Fim da PM! Fim das polícias! Pela formação dos Comitês de Autodefesa nos bairros populares e organizações do povo!