Na última semana, o Partido dos Trabalhadores (PT), principal partido de esquerda do País, decidiu a sua política para as eleições na Câmara dos Deputados. Em meio a uma disputa bastante acirrada, a maioria da bancada petista resolveu apoiar o golpista Baleia Rossi (MDB) à presidência da Câmara. Com isso, o PT rompeu com sua política anterior, de não apoiar a candidatura da direita golpista, e acabou seguindo o mesmo caminho de capitulação do PCdoB.
O PT possui 52 deputados federais — a maior bancada na Câmara dos Deputados. Desses, 27 votaram a favor do apoio a Baleia Rossi: Airton Faleiro, Alencar Santana Braga, Alexandre Padilha, Benedita da Silva, Beto Faro, Carlos Veras, Carlos Zaratini, Enio Verri, Erika Kokai, Gleisi Hoffmann, João Daniel, José Airton Félix Cirilo, José Guimarães, Leo de Brito, Leonardo Monteiro, Marília Arraes, Merlong Solano, Nilto Tatto, Patrus Ananias, Paulão, Paulo Guedes, Paulo Pimenta, Professora Rosa Neide, Rejane Dias, Rubens Otoni, Valmir Assunção e Vicentinho. E 23 votaram contra: Afonso Florense, Arlindo Chinaglia, Bohn Gass, Célio Moura, Frei Anastacio Ribeiro, Helder Salomão, Henrique Fontana, Jorge Solla, José Ricardo, Joseildo Ramos, Marcon, Maria do Rosári,o Natália Bonavides, Odair Cunha, Padre João, Paulo Teixeira, Pedro Uczai, Reginaldo Lopes, Rogério Correia, Rui Falcão, Waldenor Pereira, Zé Carlos e Zeca Dirceu.
Embora a maioria dos deputados tenha votado a favor, tratou-se de uma eleição bastante antidemocrática. Afinal, os parlamentares representam, via de regra, a ala mais direitista do partido, pois é a ala mais ligada diretamente aos privilégios da burguesia. Se tantos deputados chegaram a votar contra a decisão, é porque havia uma pressão muito grande da base do partido contra o apoio a Baleia Rossi. Dito de outro modo: o apoio a Baleia Rossi é muito impopular dentro do PT.
Nada seria mais natural. Afinal de contas, Baleia Rossi foi um dos mais de 300 deputados golpistas que votaram a favor do impeachment de Dilma Rousseff. É, portanto, um golpista. Rossi, inclusive, é do MDB, mesmo partido de Michel Temer, que articulou o golpe por dentro do próprio governo. Para tomar uma decisão absurda e contraditória como essa, seria de se esperar que qualquer partido consultasse suas bases. Mas não: mais uma vez, como no caso da desistência da candidatura de Lula em 2018, a ala direita do PT correu para a imprensa para “explicar”, com sua “sabedoria”, o porquê de apoiar um golpista seria a melhor política e articulou para que a decisão acontecesse nos bastidores.
Esse tipo de política profundamente antidemocrática é a prática comum de todos os partidos burgueses. Embora o PT não seja um partido propriamente burguês, a sua burocracia direitista e pequeno-burguesa acaba reproduzindo todos os vícios de um partido desse tipo. É impossível, com isso, construir propriamente um partido de trabalhadores: um partido só pode representar a classe operária se sua política for decidida democraticamente por ela. Sem a pressão das massas, qualquer partido acaba capitulando para a política da burguesia. Assim como fez o stalinismo no século XX: ao se mostrar incapaz de defender os interesses do proletariado, acabou indo para a política do imperialismo.
A deputada Natália Bonavides denunciou a política da ala direita do PT nas eleições da Câmara. Disse ela, acertadamente:
“Por uma maioria de 4 votos na bancada do PT, foi aprovado o apoio a Baleia Rossi nas eleições da Câmara. Considero uma decisão muito ruim! Ela fortalece um setor da direita que foi articuladora do golpe e é cúmplice da eleição de Bolsonaro. Precisamos de outra linha política!”
De fato, é preciso ter outra linha política. É preciso mobilizar os trabalhadores pelo Fora Bolsonaro, pela candidatura de Lula e denunciar a frente ampla com os golpistas.