Enquanto a população trabalhadora está recebendo migalhas do Estado para enfrentar a crise do coronavirus, grandes empresas que alegam não terem condições de suspenderem suas atividades durante a pandemia por medo de falência estão recebendo quantidades altíssimas de dinheiro do governo para se manterem em pé. A situação já é absurda, priorizar a Economia do que a vida de todos os trabalhadores que correm o risco de ficarem sem salários, fora aqueles que já não têm renda fixa como os desempregados e também os trabalhadores informais. Mas a situação fica ainda mais inaceitável se pegarmos os dados da receita das grandes empresas que tem ações vendidas na bolsa.
Segundo dados levantados pelo Valor Data, 85% destas empresas teriam dinheiro suficiente para pagar seus funcionários por até 12 meses, até mesmo com atividades paradas, sem gastos ou lucros. Além disso, metade das 15% restantes teriam condições de arcar com as despesas por até seis meses. A outra metade, as empresas que não teriam tantas condições assim de arcar com os gastos seriam aquelas menos afetadas no momento de crise, como empresas farmacêuticas, serviços públicos e alimentícios. Os dados referem-se a 97 empresas não financeiras que fazem parte da Ibovespa e Small Caps, com base em dados divulgados relacionados ao fechamento do ano de 2019. Empresas financeiras como grandes bancos, com certeza também tem plenas condições de arcar com o salário dos funcionários, se esta fosse a prioridade das grandes empresas capitalistas.
A farsa capitalista fica escancarada se considerarmos ainda que vivemos um momento atípico, onde até mesmo fornecedores de grandes empresas já declararam que abririam mão de receber seus pagamentos durante a crise, sendo que estas são geralmente pequenas empresas, aquelas que realmente precisariam de um apoio do Estado.
Ao contrário do que se divulga, as grandes empresas capitalistas do país não estão a beira do colapso, mas mesmo assim bancos e grandes empresas estão recebendo dinheiro do governo Bolsonaro para aumentarem seus lucros até mesmo diante da crise. Na última terça-feira (24), o governo anunciou a liberação de R$1,2 trilhão aos bancos, enquanto o projeto inicial do governo para os trabalhadores era de uma ajuda de apenas R$200,00 por apenas três meses.
Se considerarmos todos estes dados, a renda básica emergencial aprovada pela câmara ontem (26) de R$600 á R$1,200 vira uma verdadeira esmola aos trabalhadores, pois enquanto os gastos com a renda básica somariam o aproximado de R$14,4 bilhões, os bancos recebem ajuda na casa dos trilhões, proporcionando crédito para endividar ainda mais os trabalhadores num momento de desespero, além de estarem enchendo ainda mais os seus cofres, com a desculpa do governo de “estimular a economia”. Ainda sobre a renda básica, ela não vai abranger todos os trabalhadores, os trabalhadores formais ainda estão contando com a “sorte” e a “bondade” dos seus patroes para decidirem os rumos dos seus salários.
Essa situação só nos mostra o caráter econômico do governo de Bolsonaro, “salvar” grandes empresas, bancos, e as enriquecer até mesmo num momento de crise de saúde e econômica, os trabalhadores precisam contar com a sorte e depender de esmolas do governo para ter o mínimo dentro de casa. Fora as questões econômicas, o trabalhador ainda precisa lidar com a situação de não ter um sistema de saúde eficiente para a crise do coronavírus, não ter testes para todos, não ter leitos de uti suficientes, não ter materiais de higiene básica, e ainda é obrigado a aguentar discursos completamente genocidas de Bolsonaro onde o mesmo defende mais a economia do que a vida de todos os trabalhadores.
O trabalhador mais uma vez está á margem da sociedade capitalista, e vê o governo colocando como prioridade os grandes capitalistas e fazendo com que ele tenha que pagar da forma mais violenta possível uma crise que ele mesmo criou, afinal a crise capitalista está instaurada há tempos. Os trabalhadores precisam se organizar para a derrubada do governo Bolsonaro, não se pode mais viver de migalhas enquanto uma parcela mínima da população enriquece diante do sofrimento do povo.