Apesar de ter o número de prefeitas eleitas nos municípios aumentado, a participação das mulheres ainda representa uma porcentagem muito baixa em relação aos homens eleitos para as prefeituras. Elas não chegam a representar 12% do total das prefeituras do Brasil.
Além da baixíssima representatividade, temos que a maioria dessas prefeitas eleitas no pleito de 2020 são candidatas de partidos da direita ou da extrema direita, como PSDB, PSD, Patriota, PSL etc.
O atual quadro indica que as mulheres não estão apenas sub-representadas em termos numéricos nas prefeituras, uma vez que o percentual de 12% corresponde a menos da metade do percentual de mulheres no país que atualmente ultrapassa os 50%; mas a sub-representatividade é mais expressiva ainda se levarmos em conta o fato de que os partidos aos quais a maioria da prefeitas eleitas em 2020 são filiadas serem do campo da direita, seja moderada ou extremada.
Isso significa que, assim como seus partidos, a maioria dessas prefeitas não possuem compromisso e nem mesmo identidade com a luta pela emancipação feminina. Muito pelo contrário, seu compromisso é com pautas conservadoras que representam um retrocesso na luta das mulheres e na garantia de seus direitos já conquistados.
Quando muito, as pautas referentes às questões femininas são tão somente demagógicas e de caráter formal, geralmente centradas no simples aumento da quantidade de mulheres nas secretarias municipais e em cargos de maior proeminência, nunca, no entanto, se equiparando ao quantitativo de homens.
A direita, seja ela representada por homens ou por mulheres, é particularmente sensível às questões do gênero feminino quando isso promove o caráter repressivo do estado, tratando da violência contra as mulheres de forma a se aumentar as medidas repressivas contra a população através de medidas como aumento no contigente e armamento das guardas municipais.
Seria importante que prefeitas e prefeitos do campo da esquerda promovessem o desenvolvimento da luta das mulheres de forma independente, promovendo grupos de trabalho e de discussão sobre os direitos das mulheres, mesmos os mais polêmicos, como em relação à legalização do aborto.
A construção de comitês de defesa formados por mulheres para o enfrentamento da violência contra as mulheres de um modo geral, contra a violência doméstica, a violência sexual. assédio profissional etc. é um exemplo de medidas democráticas perfeitamente cabíveis de serem fomentadas dentro de uma prefeitura, mesmo nos moldes de um estado burguês, capitalista.
Dificilmente veremos essas prefeitas eleitas tomarem medidas que efetivamente sejam capazes de fazer avançar a luta pelos direitos das mulheres, a não ser, por óbvio, aquelas de caráter estritamente demagógico ou que impliquem em maior poder de repressão por parte do estado.
Ou seja, no final das contas, não é tão somente o número, a quantidade de mulheres na política o que realmente interessa para a luta das mulheres, mas o resultado dessa luta no sistema político, no aumento do peso político e social das mulheres.