Ninguém duvida, a direita é perita em acusar a esquerda dos crimes que ela mesma comete e cuja prática, domina. Isso aliado a uma completa falta de escrúpulos, produz fenômenos que um dia, quando a ameaça do fascismo não for mais do que a lembrança de uma estrutura política superada pela marcha da história, serão alvo de gargalhadas pela completa falta de senso de ridículo.
Contudo, nesse momento, a escatologia intelectual da direita deve ser vista não como uma piada mas como ela realmente é: o prenúncio de ataques que visam destruir o pouco de democracia operária que a classe trabalhadora brasileira conquistou com muita luta, sangue, mortes, desaparecimentos, torturas e toda sorte de sacrifícios e sofrimentos que marcam a saga histórica da classe trabalhadora brasileira. É exatamente assim que devemos encarar a mais recente onda de idiotices ditas do ministro da educação Weintraub, que indicam mais ataques contra os trabalhadores e estudantes do sistema público de ensino.
A ladainha é a mesma de sempre: aparelhamento, doutrinação, dogmatismo e daí por diante. No entanto, a demagogia esconde o fato de que, numa sociedade feita à imagem e semelhança de sua classe dominante, a burguesia, o sistema educacional inevitavelmente será um reflexo dessa dominação. Portanto, burguês. Nesse sentido, é verdade que existe uma doutrinação no sistema educacional brasileiro (e no mundo), porém, ela é de direita e não de esquerda. As próprias pautas identitárias, vendidas como de Esquerda e levantadas pelo ministro como exemplo dessa doutrinação, são, na realidade, criações do seleto conjunto de universidades americanas estreitamente ligadas ao imperialismo com objetivo claro de silenciar a luta de classes, trocá-la por uma luta cultural, de caráter teológico onde as disputas não ocorrem pela via dos interesses de cada classe em choque mas pelo difuso bem geral.
Contudo, a essência das falas de Weintraub (e quanto a isso precisamos ter clareza) não está numa disputa epistemológica que se realiza no abstrato campo das ideias. São, isto sim, uma cobertura para ataques organizados com dois objetivos principais definidos: incluir a rede federal de ensino superior nos tentáculos privatizadores do regime de Bolsonaro, negócio bilionário que desperta a cobiça da burguesia nacional, caso do Kroton, e de tubarões imperialistas como o Laureate. O outro é destruir a capacidade de mobilização dos estudantes brasileiros da rede federal de ensino superior, uma das mais importantes categorias da pequeno burguesia, com uma atuação histórica destacada na luta contra os assédios do fascismo no Brasil. Weintraub acaba por reforçar essa perspectiva ao afirmar que crianças de creche não fazem manifestações. Garantir que a população sofra toda sorte de ataques calada e sem reagir é exatamente o motivo que leva a burguesia a descambar para o fascismo.
Importante lembrar que um dos primeiros ataques do golpe, logo após a derrubada da presidenta Dilma, foi a tentativa de recriar a CPI da UNE, a exemplo da última ditadura militar, que, dessa forma, conseguiu jogar a entidade na clandestinidade e desarticular o movimento estudantil. Posteriormente, estes seriam uma das principais forças atuando na Guerrilha do Araguaia e anos depois, em 1977, dariam o pontapé inicial para a retomada das manifestações de rua contra a ditadura militar, um ano antes da greve histórica dos metalúrgicos do ABC dirigida pelo então líder sindical Lula, hoje preso político de uma nova ditadura que aos poucos vai buscando o caminho para se equilibrar politicamente e poder desferir ataques ainda mais violentos contra a população de conjunto.
Por tudo isso, é importante os estudantes se mobilizarem para somar forças junto aos trabalhadores e amplos movimentos sociais que se encontram igualmente na mira do fascismo, para enfrentar o regime de Bolsonaro e lutar até a derrubada do governo que não trará nada além de ataques contra a imensa maioria da população, para favorecer as burguesias decadentes do Brasil e das nações imperialistas.