Desde maio, o petista Fernando Haddad, que concorreu às eleições presidenciais de 2018, vem escrevendo semanalmente para o jornal golpista Folha de S. Paulo. No último sábado (12), foi publicada sua mais nova coluna, intitulada “Economia”. No texto, Haddad procura analisar a situação econômica brasileira, creditando à política econômica do governo Dilma Rousseff a responsabilidade por ter afundado o país em uma grave crise.
Fernando Haddad inicia assim sua análise:
Em 1998, diante da crise cambial brasileira, o FMI, em troca de um empréstimo de US$ 41,5 bilhões, impôs ao país uma mudança drástica da política econômica então vigente, qual seja, a adoção do chamado tripé macroeconômico: câmbio flutuante, superávit primário e meta de inflação. De lá para cá, cada governante lidou com esse tripé a sua maneira. FHC gerou superávit pelo aumento da carga tributária, mas não logrou cumprir as metas de inflação. Lula procurou compensar a valorização do real, acumulando reservas cambiais. Dilma, diante da perspectiva de desaceleração econômica, enfraqueceu a base fiscal.
Ao falar dos anos em que Dilma Rousseff esteve à frente da presidência da República, Haddad aponta que:
Em 2015, uma tempestade perfeita promoveu o colapso da economia. Em primeiro lugar, cumpre notar o desacerto da agenda adotada para estimular a economia. Fortemente influenciadas pela Fiesp, as desonerações fiscais, o Supersimples, a campanha pela redução artificial dos custos de energia etc. revelaram-se equivocadas.
Ao indicar que a política levada por Dilma Rousseff era a política da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), Fernando Haddad dá a entender que essa seria uma política impopular – isto é, a política da burguesia, contrária aos interesses dos trabalhadores. No entanto, a questão não é tão simples: a política do governo Dilma Rousseff buscava atender os interesses de setores que se contrapunham aos interesses do imperialismo – ou seja, era uma política que não seguia a “cartilha” do FMI. Essa política, por sinal, não contrasta com os governos petistas, que sempre buscaram formar alianças com setores minoritários da burguesia nacional, em geral alocados em partidos como o PP, o PR e o MDB.
A crítica de Haddad ao governo Dilma Rousseff é, portanto, uma defesa da política neoliberal. Afinal, conforme dito pelo próprio petista, o que ele defende é a política do FMI – a política fiscal do imperialismo, que tem como objetivo destruir a indústria nacional, causar mais desemprego e largar milhões de trabalhadores na miséria. Foi a política do governo Fernando Henrique Cardoso e é a mesma política do governo Macri, na Argentina, do governo Macron, na França, e a mesma política que os bancos estão tentando implementar por meio do governo Bolsonaro.
O texto de Fernando Haddad, defendendo a política neoliberal e criticando Dilma Rousseff, vítima de um golpe de Estado, mostra que a pressão da burguesia golpista está empurrando setores da esquerda nacional para a direita. Na medida em que o golpe de Estado se aprofunda, a burguesia procura pressionar os setores que compõem a oposição para que capitulem diante de seus interesses, sob pena de serem devorados por um regime político cada vez mais antidemocrático.
A reação da esquerda perante as pressões impostas pelo regime político golpista, no entanto, não podem ser a da capitulação, da adaptação e da subordinação aos interesses do imperialismo. Na medida em que o regime evolui para uma ditadura explícita contra a população, é preciso intensificar a mobilização dos trabalhadores contra a direita. Fora Bolsonaro e todos os golpistas! Liberdade para Lula!