Há 15 dias das eleições municipais de 2020, a disputa se intensifica, o sistema eleitoral, com o Judiciário e a imprensa, fecha o cerco contra a esquerda. No entanto, mesmo apesar da negação do registro do candidato a prefeito do PCO (Maceió-AL), da cassação de centenas de candidaturas da esquerda e da proibição da campanha na rua (Recife-PE), um setor da esquerda comemora os resultados de pesquisas eleitorais como sendo uma vitória, ignorando os dados concret
os e induzindo os trabalhadores a reconhecerem um regime golpista como democrático.
É o caso da candidata do PCdoB à prefeitura de Porto Alegre (RS), Manuela D’ávila. Na última pesquisa do Ibope, ela aparece com 27% das intenções de voto, liderando isoladamente no 1º turno. Sem considerar os dados concretos da disputa, setores da esquerda dão como certa a eleição da pcdobista.
No entanto. Toda esta euforia, uma espécie de crack eleitoral, desconsidera as informações das próprias pesquisas de que a esquerda usa como base para falar na vitória. Isto porque na configuração atual, mesmo com a vantagem, a candidatura de Manuela D’ávila (PCdoB), que se dá sobre a base de várias candidaturas de direita divididas, enfrentará no 2º turno uma direita unificada numa só candidatura.
Considerando um possível cenário de para qual bloco pode se deslocar cada eleitorado, chegamos na seguinte situação:
Este é apenas um dos cenários, não se sabe se o eleitorado do PDT votará no PCdoB num 2º turno. Vale lembrar que o pedetista abutre mor, Ciro Gomes, fugiu para a Europa durante o 2º turno de 2018 e que, com tantos ataques ao PT, serviu como cabo eleitoral do Bolsonaro,
Mas o PCdoB não é o único partido que semeia estas ilusões eleitorais no regime golpista. O auge dessa anestesia eleitoral tem se destacado na maior cidade do País, na candidatura de Guilherme Boulos (PSOL), O lema da campanha é “viraSP”. Boulos, que tem recebido amplo apoio e cobertura da imprensa burguesa (Folha, Estadão, e até da Veja), propaga a ideia de que vai derrotar o candidato a reeleição, Bruno Covas (PSDB).
Em ambos os casos, a ideia que se procura passar é que é possível reverter um golpe de Estado, que tem o apoio e tutela dos militares, através de eleições num regime golpista controlado por eles. A direita dá o golpe, cassa o voto de dezenas de milhões de brasileiros, mas agora bastaria votar no candidato A, B ou C da esquerda, que tudo se resolveria. É como se o voto tivesse algum poder mágico, acima da luta das classes, que é absolutamente concreta.
Mas não passa de uma grande ilusão eleitoral, que esses setores de esquerda acreditam e querem que a população acredite também. É como nos casos recentes na América latina. No Chile, após um ano de mobilizações constantes, que quase derrubaram o regime golpista de Sebástian Piñera, sem um liderança clara da esquerda, que entrou em acordo com o governo, Piñera conseguiu sobreviver e estrangular a mobilização popular.
Já Bolívia, após um golpe militar da extrema direita e da direita, e uma reação popular gigantesca, com greves gerais e bloqueios em todo o País, a burguesia teve que retirar a pressão e aceitar um acordo com o setor mais moderado do MAS (partido de Evo), permitindo que Luis Arce, diferente de Evo Morales, vencesse as eleições. No entanto, nada do ex-presidente participar do governo, muito menos dos golpistas serem punidos.
Isso acontece porque a esquerda, ao invés de denunciar que as eleições são fraudulentas e que direita vai fazer tudo para ganhar da esquerda, fica dando credibilidade ao Judiciário, à imprensa e ao sistema eleitoral. O que vai ocorrer é a esquerda se tornar cada vez mais direitista para atrair votos de um espectro cada vez mais amplo da classe média (incluindo a direita liberal) para no fim ser derrotada pela fraude, como em 2018.