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Depois eleições, só em 2022

Ano par, ano ímpar

Encerrada a campanha, contados os votos, distribuídos os cargos, a esquerda pequeno-burguesa prepara-se para novas lutas… num futuro muito, muito distante

Foi no movimento estudantil da USP, anos atrás, que ouvi a anedota: “a esquerda pequeno-burguesa só se mobiliza nos anos pares”. São os anos em que há eleições municipais e nacionais e a tal “mobilização” é – como corresponde ao caráter político dos partidos da esquerda pequeno-burguesa – mera campanha eleitoral. 

Desse modo é que não vejo com estranheza que palavras como “fascismo”, “atraso”, “obscurantismo”, “direita”, “extrema direita” só apareçam na boca dos candidatos desses partidos nos anos pares, ainda que com muitas ressalvas, floreios e idas e vindas. 

Exagero um pouco. Isso não ocorre durante a íntegra dos anos pares. Melhor seria dizer que se dá em um par de semanas no segundo semestre dos anos pares. A denúncia (se é que podemos chamar assim os discursos de campanha eleitoral) do que faz a direita e a extrema direita é sempre vaga, superficial e, no fim das contas, inócua. Justamente porque se trata disso, mera campanha eleitoral.

Na boca de candidatos e marqueteiros como os do PSOL de Boulos em S. Paulo, o fascismo – que é como vamos resumir a ação das polícias militares, dos partidos e políticos burgueses que tendem à extrema direita e do próprio presidente ilegítimo da República – é só um instrumento útil na campanha eleitoral. Adquiriu outro nome, “bolsonarismo”, e função. Serviu para justificar a chegada de Boulos ao segundo turno: “derrotamos o bolsonarismo [Russomanno]”, “obrigado pela votação”, disse. 

No que se aproxima o confronto final contra o tucano Covas, Boulos ficou desarmado. Não consegue denunciar o tucano protegido por “Bolsodória” por fascismo. Boulos entende e qualifica Covas como um democrata, um liberal. Boulos também é um democrata, o maior dos democratas. Aquele que vai governar com “responsabilidade fiscal” e “responsabilidade social” ao mesmo tempo. Dar aos pobres sem tirar dos ricos, dar aos ricos sem tirar dos pobres. 

Não há nenhuma palavra de Boulos sobre o conteúdo do que viria a ser um governo do PSDB. O candidato do PSOL é incapaz de denunciar o que, no fundo, une fascistas e democratas, contra a classe operária e o povo pobre e oprimido: a tentativa desesperada de salvar o capitalismo de sua crise irremediável, a política que lhes é comum. 

Assim o demonstrou o PSOL e Marcelo Freixo no Rio de Janeiro, chamando a população a votar em ninguém menos que o candidato do DEM, Eduardo Paes. Se votar no “democrático” herdeiro da ditadura militar é permitido, por que Boulos não chamaria voto no próprio Covas, tivesse Russomanno chegado em segundo lugar? Felizmente para Boulos e o PSOL, a maioria dos paulistanos não toma nota do que acontece no pleito da capital fluminense. 

Assim, com as eleições, vai se encerrando um ano par. Um ano em que o bolsonarismo é denunciado para colocar a esquerda pequeno-burguesa em evidência e estreitar seus laços com os partidos burgueses dominantes (PSDB, DEM etc.), os “pais” de Bolsonaro. 

Vem pela frente um ano ímpar. Nele, para PSOL e congêneres, não estará em questão o “fora Covas”, “fora Doria” e “fora Paes”, tanto quanto o “fora Bolsonaro” não esteve na ordem do dia desde 1º de janeiro de 2019 até aqui. Boulos só foi às ruas para impedir que um movimento de luta se levantasse.

As eleições de 2020 abriram o caminho para uma importante aliança – importante para os que comandam o Estado, para os partidos burgueses dominantes. Encontraram um esquerdista para chamar de seu. Alguém que pode “lutar” em seu lugar contra os políticos e partidos que tendem à extrema direita – porque é uma “luta” feita de palavras e declarações vazias – e que, no momento seguinte, pode receber docilmente o cabresto e servir de montaria para carregar verdadeiros e valentes democratas, liberais novamente ao poder.

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