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Grande mestre do blues

Aniversário de John Lee Hooker, o rei do boogie

Se vivo estaria fazendo 103 anos de idade. John Lee Hooker foi um dos grandes dos blues e uma das maiores influências dos músicos de rock.

John Lee Hooker nasceu em Tutwiler, Tallahatchie County no Mississippi, Estados Unidos em 22 de agosto de 1917. Hooker se tornou uma das grandes influências para os músicos de rock’n’roll, sendo regravado por artistas como os Doors (“Crawling King Snake”, “Money”), Jeff Beck (“Hobo Blues”), Nick Cave (“I’m Gonna Kill That Woman”) e Cowboy Junkies (“Forgive Me”), entre muitos outros, além de ser perceptível sua influência nos discos dos Rolling Stones, Tom Petty e ZZ Top.

Dos fãs recebeu o apelido de “King of the Boogie”, o rei do boogie, uma referência a seu estilo fortemente rítmico e dançante, mas bem diferente do mais conhecido boogie-woogie, um estilo dos anos 1920 caracteristicamente tocado ao piano. O boogie de John Lee Hooker era o seu estilo próprio, uma música para a guitarra e sua voz rascante de barítono, do contador de histórias do povo negro. Apesar da música de John Lee Hooker ser baseada no blues ela não era triste. Era vigorosa, era vibrante e convocava as pessoas a se divertirem.

John Lee Hooker teve uma carreira repleta de altos e baixos. Sua estreia em 1948 foi extremamente bem-sucedida. Seu primeiro disco, “Boogie Chillen”, chegou a vender um milhão de exemplares. Com a mudança no gosto do público foi se adaptando aos novos tempos, incorporando elementos do r&b, depois se aproveitando da onda do ressurgimento da música folk e em seguida se juntando à nova onda do rock. Após um período de esquecimento no final dos anos 70 volta triunfantemente ao sucesso em 1989 com seu álbum “The Healer”, que traz, afinal, o reconhecimento universal da importância da sua obra.

A infância

John foi o filho mais novo das 11 crianças do Reverendo William Hooker, um plantador meeiro e pregador batista e Minnie Ramsey. Na infância sua primeira experiência com a música, assim como a da maioria dos negros da época, foram os spirituals que ele ouvia na igreja.

Os pais se separaram em 1921 e no ano seguinte a mãe Minnie se casou com William Moore, um cantor de blues, que ensinou John Lee a tocar violão. William Moore era um cantor e violonista de blues nascido em Shreveport, cidade da Louisiana. Ele tinha um estilo distinto de tocar blues de um único acorde, marcadamente diferente do estilo do Delta Blues da época. Moore tocava frequentemente com outros luminares do estilo como Son House, Blind Lemon Jefferson e Charlie Patton.

Outra influência significativa em John nesta época foi Tony Hollins, que era namorado de sua irmã Alice. Ele também ensinou John Lee a tocar violão e deu a ele o seu primeiro instrumento. Por toda sua vida John Lee sempre declarou que Hollins foi uma influência importante em seu estilo de tocar e para sua carreira como músico. Dentre as músicas que Hollins ensinou a Hooker estão versões de “Crawlin’ King Snake” e “Catfish Blues”, que viria a gravar no futuro.

Aos 14 anos de idade John fugiu de casa e nunca mais viu sua mãe ou seu padrasto outra vez. Não foi só uma fuga dos pais e de sua casa. Foi uma fuga de uma região extremamente pobre e de racismo intolerável, exacerbado pelo sofrimento trazido pela Grande Depressão.

Em meados dos anos 1930 ele morou em Memphis, Tennessee onde ele se apresentava na Beale Street, no New Daisy Theatre e ocasionalmente em festas particulares. Trabalhou também em fábricas durante a Segunda Guerra Mundial, eventualmente conseguindo um emprego na fábrica Ford em Detroit em 1943. Era um frequentador assíduo dos bares e clubes de blues em Detroit onde os músicos predominantes eram os pianistas e os guitarristas eram raros. A popularidade de John cresceu rapidamente e procurando por um instrumento com mais volume que o seu violão para conseguir ser ouvido nos barulhentos clubes onde tocava ele acabou comprando sua primeira guitarra. Um dos admiradores de John na época era Elmer Barbee, dono de uma loja de discos. Barbee ficou tão impressionado com o cantor que resolveu financiar a gravação de uma demo com ele.

Detroit e as primeiras gravações

John Lee Hooker trabalhava como faxineiro em uma fábrica em Detroit quando começou a lançar seus discos em 1948. Seu primeiro disco foi um disco 78 rpm com a música “Boogie Chillen”. Essa música era uma performance solo de John, com sua voz, guitarra e seu pé batendo o ritmo. Foi um sucesso enorme, chegando ao topo da parada dos “race records”, ou seja, dos discos de artistas negros.

“Boogie Chillen” foi gravada pelo produtor Bernard Besman em setembro de 1948 no estúdio United Sound em Detroit. Várias canções foram registradas nessas sessões, sempre com John Lee tocando solo. A percussão ouvida no disco é o pé de Hooker marcando o tempo no piso de madeira, microfonado e passado por um efeito primitivo de eco, o que produziu um som massivo. O produtor preferiu manter um som bem cru, sem a presença de outros instrumentistas para realçar o som da voz e da guitarra altamente amplificada de Hooker. Ele raramente tocava em um ritmo padrão. Ele costumava mudar os tempos e compassos de suas músicas para se adaptar às necessidades de suas canções, o que fazia com que fosse difícil usar músicos de apoio que não tivessem familiaridade com o estilo do guitarrista.

O impacto de “Boogie Chillen” foi tão grande que inspirou gerações de novos guitarristas e é considerada um dos precursores do rock’n’roll. O jovem B.B. King em seu começo de carreira trabalhou como DJ na rádio WDIA em Memphis disse que tocava regularmente a canção e que na época não havia nenhum músico que não soubesse tocasse a música. Quem não a conhecesse era visto com desconfiança.

A despeito do fato de que John Lee Hooker teve pouca educação formal, ele foi um letrista prolífico, escrevendo muitas canções originais, além de adaptar letras de blues tradicionais para o seu uso.

Embora “Boogie Chillen” tivesse sido um sucesso Hooker, assim como outros artistas negros, fez muito pouco dinheiro com as vendas de seus discos. Entre 1949 e 1955 ele gravava discos em qualquer gravadora que lhe desse dinheiro adiantado porque ele preferia dinheiro vivo ao invés da promessa de recebimento dos direitos autorais, algo compreensível já que na época as gravadoras em geral não se sentiam obrigadas a distribuir dinheiro a seus artistas. Para evitar conflitos contratuais Hooker exigia que esses discos saíssem sob um de seus vários pseudônimos como John Lee, John Lee Cooker, Texas Slim, Delta John, Birmingham Sam and his Magic Guitar, Johnny Williams e The Boogie Man.

Nestes primeiros anos de carreira as gravações de Hooker eram quase todas performances solo. Algumas eram duetos com Eddie Kirkland ou outro guitarrista e apenas uma ou duas com uma banda. Mas essas gravações não eram representativas do trabalho nos shows do guitarrista, que geralmente eram com uma banda que incluía guitarra, piano e bateria.

Público folk

John Lee lançou dezenas de discos com clássicos como “Crawling King Snake” (1949), “I’m In The Mood” (1951) e “Huckle Up, Baby” (1950). A partir de 1955 ele começou a lançar discos pela gravadora Vee Jay Records. Por esta época Hooker começou a fazer uso total de uma banda de apoio. Mais discos de sucessos vieram pela Vee Jay como “Dimples” (1964), “No Shoes” (1960) e “Boom Boom” (1962).

Em 1959 é lançado o seu primeiro LP, “I’m John Lee Hooker”, que saiu pela Vee Jay Records, que na verdade é uma reunião de faixas que ele lançou em singles entre 1955 e 1959 como “Dimples” e mais cinco novas gravações como “Maudie” e “Hobo Blues”.

Por esta época o mercado para discos de r&b e blues já tinha diminuído muito, mas novas portas começaram a se abrir para Hooker, que começou a ser convidado a se apresentar em festivais de folk e nos clubes de folk, atraindo uma plateia principalmente de jovens brancos.

No mesmo ano de 1959 saiu o LP “The Country Blues Of John Lee Hooker” pela gravadora Riverside Records que trazia canções de aspecto mais rural com Hooker tocando o violão, um repertório mais direcionado a essas plateias brancas de folk, com canções como “Bundle Up And Go” e “Pea Vine Special”.

A década de 1960 trouxe o reconhecimento da influência de Hooker pelas novas gerações de músicos, especialmente do rock, de bandas como os Rolling Stones, The Doors, Canned Heat, Groundhogs, Steve Miller Band, Van Morrison, Santana e muitos outros. Hooker inclusive gravou um disco em conjunto com o grupo blues rock americano Canned Heat, o LP “Hooker ‘N Heat” em 1970.

Outros discos colaborativos de Hooker são “Endless Boogie” (1971, com a presença de Steve Miller, Jesse Ed Davis e Carl Radle) e “Never Get Out Of These Blues Alive” (1972, com Charlie Musselwhite, Steve Miller, Elvin Bishop, Van Morrison e o primo de John Lee, Earl Hooker). Com o fim do interesse pelo folk John se reinventou, mais uma vez, explorando uma mistura do blues com o jazz e o rock. Mas no final dos anos 1970 sua popularidade diminuiu muito por causa da rápida evolução do rock, com uma enorme gama de estilos que incluíam o hard rock, rock progressivo, punk rock, glam rock, etc. e ele acabou praticamente esquecido e quase aposentado.

Em 1980 ele apareceu no filme “The Blues Brothers” tocando “Boom Boom” como um músico de rua. Finalmente em meados dos anos 80 Mike Kappus se tornou seu empresário. Ele acreditava que Hooker ainda tinha muito a oferecer ao mundo da música. Seus esforços foram recompensados em 1989 quando Hooker lançou um de seus discos de maior sucesso, “The Healer”, com a participação de seus admiradores Carlos Santana, Los Lobos e Bonnie Raitt, entre outros. Após tantos anos Hooker finalmente viu a cor do dinheiro.

Em entrevista em 1989 John Lee mostrou que ele nunca perdeu seu contato com o povo de sua terra: “sou um ser humano, bebo com você, danço contigo, saio, vou para as festas. Eu adoro o povo, adoro ser parte do povo. Sou humano, assim como você”.

Em 1997 Hooker abriu o seu próprio clube de blues, o John Lee Hooker’s Boom Boom Room em São Francisco.

Em 2000 Hooker ganhou um prêmio Grammy pela sua vida dedicada à música. Pouco tempo depois, em 21 de junho de 2001 veio a falecer, enquanto dormia. Deixou oito filhos e 19 netos e uma enorme discografia com dezenas de LPs e centenas de singles e incontáveis coletâneas.

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