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Recife

Amor de PSB e PCdoB à burguesia poderia ter causado uma chacina

Ato do dia 29 foi duramente reprimido pela Polícia Militar e seu batalhão de choque, que saíram atirando bala de borracha nos manifestantes

Para quem é um ser humano, tem coração, respira e fala, o dia de ontem foi de muita comemoração. Foi a primeira vez desde o início da pandemia em que o conjunto da esquerda nacional chamou atos em todos os estados do País. E foi um sucesso: milhares e milhares de pessoas participaram dos atos, expressando uma evolução muito significativa da luta dos trabalhadores desde o vitorioso ato de primeiro de maio. Aquilo que era o sonho para muitos, que lavou a alma de quem assistia aos protestos nos países vizinhos e estava com o grito engasgado na garganta, era, contudo, o pesadelo para outros. Um sonho para a esmagadora maioria da população e um pesadelo para a minoria de parasitas que controla o regime político.

As grandes manifestações de rua estavam suspensas no Brasil não por causa do coronavírus, mas sim por causa da pressão que a burguesia jogou sobre o colo das direções da esquerda nacional. A burguesia sabia muito bem que, enquanto a esquerda estivesse escondida debaixo da cama, pregando o “fique em casa” em vez de sair às ruas, os seus planos estariam resguardados. Isto é, que enquanto não houvesse uma grande mobilização, os golpistas poderiam seguir tranquilamente entregando todo o patrimônio público, destruindo os postos de trabalho e matando o povo de coronavírus. Vinha, portanto, deste interesse, de submeter a vida dos trabalhadores ao lucro, a pressão para que a esquerda ficasse em casa.

A pressão ainda é muito grande, mas os trabalhadores conseguiram derrubar o muro que havia sido erguido entre eles e as manifestações de rua. Conseguiram porque a necessidade de sair às ruas é tão grande que transformaram essa necessidade em revolta, e a revolta, por fim, se transformou em uma marreta tão poderosa que destruiu a fortaleza que a burocracia sindical construiu para si.

A burguesia, obviamente, está desconfortável com a situação. Acostumou-se a uma esquerda que, há um ano e meio fica em casa, abrindo o caminho para todas as suas canalhices. Agora, com o povo na rua, a situação se torna muito mais complicada: é preciso frear a fúria dos trabalhadores, antes que eles percam a paciência de vez e atirem pela janela os picaretas que hoje lhes nega vacina e emprego.

Uma das formas com a qual a burguesia tem trabalhado para impedir que a mobilização se transforme em um movimento incontrolável é o de implantar seus cavalos de Troia no interior da esquerda. Isto é, aqueles partidos vigaristas que, em vez de ajudarem a derrubar o muro, recolhem carinhosamente os tijolinhos da burguesia, na esperança de poder erguê-lo mais uma vez. Um desses partidos, naturalmente, é o PSB.

O PSB já demonstrou que é um partido da burguesia. Não tem qualquer base popular: não possui sindicatos, não está no movimento de moradia, não está nas fábricas, nem mesmo nos bairros operários. É um partido de indivíduos, e como todo partido de indivíduos, é um partido comprado pela burguesia, que não tem força alguma para ceder às pressões dos capitalistas. O PSB não tem programa, nem tem militância: tem o dinheiro das empreiteiras e das oligarquias, que compram os seus candidatos e mandam no partido. Uma sigla como essa só poderia ter uma única política em relação à pandemia: o “fique em casa” para sempre.

Tanto é assim que o PSB, apesar de ter feito parte da reunião que convocou o ato de ontem, votou contra as manifestações de rua. Junto ao surto do PSTU, o PSB foi o único partido que teve essa posição absurda. O único com tamanha insensibilidade para dizer que não se importava com as 450 mil mortes — afinal, os mortos são quase todos pobres mesmo. Que o que interessava era os seus deputados em casa, vendo pornografia em vez de prestar atenção às sessões do Congresso, e não os milhões de trabalhadores andando em ônibus lotados.

Só por isso, o PSB já merecia ser banido de qualquer lugar onde estivesse a esquerda. Sua política, neste caso, se assemelha até mesmo ao nazismo: “que morram os pobres, desde que meu dinheiro e minha saúde esteja garantida”. Mas não precisava chegar a tanto, pois o passado do PSB já o condena. O partido apoiou o golpe de 2016, lavou as mãos para a prisão de Lula, votou a favor da entrega da base de Alcântara ao imperialismo e roubou as eleições municipais de 2020 em Recife na maior cara de pau. É uma verdadeira quadrilha!

Os setores mais direitistas da esquerda nacional, como o senador Humberto Costa, avaliam que uma aliança com PSB seria importante porque a sigla teria “divergências” com o bolsonarismo. Só acredita, obviamente, quem quiser. De que vale fazer uma aliança com um traste como esse PSB se, no fim das contas, ele não serve para lutar contra o governo Bolsonaro? Se o PSB não vai às ruas para lutar contra o governo, por que seria antibolsonarista?

No ato de ontem, em Recife, o PSB mostrou que sua relação com o bolsonarismo é muito mais profunda com o que parece. Há muito tempo, o PSB procura chantagear a esquerda para que não façam qualquer protesto. E a chantagem funciona muito bem porque o PSB tem, no governo, o PCdoB e parte da ala direita do PT. Tanto é assim que, em maio de 2020, quando o Brasil inteiro estava saindo às ruas, um dirigente sindical falou, em reunião da Frente Brasil Popular, que o povo de São Paulo teria mais motivos para protestar que o de Pernambuco, e que, por isso, seria injustificável um protesto no estado.

Obviamente, como o PSB está contra os atos de rua, o partido tentou, onde ainda é forte, influir no curso das manifestações. Em João Pessoa, os setores da esquerda mais ligados ao PSB simplesmente decidiram sabotar o ato e organizaram uma carreata no mesmo horário. No Recife, o PSB pressionou para que o ato não saísse em passeata. A princípio, parte das organizações concordaram. No entanto, outro setor, mais radicalizado, não acatou a decisão.

Na véspera do ato, o PSB “mexeu seus pauzinhos” e fez com que o Ministério Público “recomendasse” que a esquerda não fizesse a passeata. Uma verdadeira palhaçada, ainda mais vindo do Ministério Público! No dia do ato, a situação ainda não estava definida. Os setores mais ligados ao PSB, como o PCdoB, tentaram ainda impedir que o ato andasse. Mas não foi possível conter. O ato transbordou: o povo compareceu em peso e a manifestação saiu completamente de controle. Nem mesmo a face esquerda da frente ampla — UP, PSOL, PSTU e PCB —, frequentemente impulsionada pela burguesia para controlar as manifestações, conseguiu dar conta de tanta gente. Com medo de onde o ato iria parar, Paulo Câmara não pensou duas vezes: chamou a polícia para bater em todo mundo.

Foi um cenário de guerra. O Batalhão de Choque veio armado até os dentes, atirando deliberadamente nos manifestantes. Muita gente saiu ferida, algumas delas de ambulância. Uma covardia sem tamanhos. E tudo isso por quê? Porque, como uma prostituta da burguesia, o PSB não queria que os atos saíssem do controle e ameaçassem de fato o regime político. Não queria que quebrassem bancos, nem que se dirigisse ao Palácio do Campo das Princesas. Queria que o ato contra o governo Bolsonaro fosse uma ciranda que não trouxesse risco algum para os golpistas.

A palhaçada do PSB já é, em si, um crime de guerra. Com o armamento dos policiais, o ato poderia ter se transformado em uma chacina. No entanto, é bem pior do que parece.

Pior porque o PSB não estava sozinho. Em todos os crimes do PSB, é preciso dizer que o PCdoB é seu cúmplice: está lado a lado com o partido no Estado e ainda participou da campanha bolsonarista contra a esquerda nas eleições de 2020. Mas mais do que isso: a presidenta nacional do PCdoB foi a público garantir que Paulo Câmara não teve coisa alguma a ver com a repressão policial! Ele, o governador do Estado! Ele, que muniu os policiais com armas de guerra! Ele, que já havia mandado reprimir outras tantas manifestações! Que covardemente disparou contra os técnicos em enfermagem em 2020, que colocou batalhões inteiros para intimidar os atos por Fora Bolsonaro em 2020! Ora, faça-me o favor!

Tanta pressa em defender Paulo Câmara, inclusive, indica a quem realmente o PCdoB é fiel: ao PSB e a sua “frente ampla” com a burguesia, da qual o partido tanto se orgulha. Nem mesmo esperou apurar os fatos para já ter certeza que São Paulo Câmara nada teve a ver com isso… Não é à toa: Luciana Santos goza do cargo de vice-governadora do Estado, sentada ao lado do golpista Paulo Câmara.

Paulo Câmara também se pronunciou. Disse que não mandou a polícia agredir ninguém e já afastou alguns membros da corporação. É um circo, como já dissemos. Primeiro, porque ele só afastou um comandante e os policiais que teriam agredido uma vereadora do PT. Todos os outros brucutus que espalharam o terror pela cidade ficaram de fora. Segundo, que não há como duvidar que a ordem tenha vindo dele: em várias outras situações, Paulo Câmara já demonstrou que prefere a ponta do fuzil do que qualquer diálogo com a esquerda.

A discussão sobre quem mandou ou não é, finalmente, idiota. Pois os fatos já falam por si só: a polícia é uma máquina de matar, que deveria ser extinta e substituída por milícias populares, o PSB estava contra o ato, o PSB mandou a polícia, a burguesia tinha interesse em reprimir o ato e o PSB é um cãozinho da burguesia. Pronto, não há o que discutir aqui.

O que precisa ser discutido é essa política não só inócua, mas, como o caso mostra, criminosa de aliança com partidos golpistas. É preciso jogar o PSB, o PDT, a Rede e todos os partidos burgueses e golpistas na lata do lixo da história, de onde pertencem, e apostar todas as fichas na mobilização dos trabalhadores.

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