O golpe de Estado de 2016, que depôs, ilegal e arbitrariamente, o governo eleito pelo voto popular, abriu no país uma enorme crise não somente social e econômica, mas principalmente política, tendo como uma das expressões a ascensão da extrema direita, que se instalou no poder como resultado da fraude e da manipulação das eleições de 2018. Elementos fascistas e os militares apoiadores do governo eleito sob o signo da fraude passaram à ofensiva, ameaçando de forma permanente o país com intervenção militar e golpe de Estado.
A crise na qual o país está mergulhado, expressa em todos os terrenos, em particular na arena política, coloca em relevo a luta das diversas frações da direita e da extrema direita, que lutam pelo controle das instâncias de poder do Estado e, obviamente, também por ter nas mãos o controle do orçamento público estatal.
Neste cenário de guerras e disputas, as eleições municipais de novembro próximo se converteram num verdadeiro faroeste eleitoral, com cenas explícitas de bangue-bangue. Para se ter uma ideia do que isso representa, mesmo antes da confirmação dos nomes que concorrerão aos cargos de prefeito e vereador, o Brasil registrou ao menos 27 casos de assassinatos e atentados contra políticos eleitos, candidatos e pré-candidatos. Isso só em 2020, de acordo com um estudo da organização de direitos humanos “Terra de Direitos e Justiça Global”, divulgado recentemente. Não faltam também ameaças cotidianas a jornalistas e ataques a sítios progressistas, como o Diário do Centro do Mundo (DCM) e GGN, vítimas de processos judiciais, insultos e ofensas ameaçadoras por parte de elementos da extrema direita reacionária.
O clima de radicalização é o que vem marcando o momento político do país, que certamente irá se agudizar no pleito eleitoral. Esta situação é reveladora da enorme crise na qual está imerso o conjunto do regime político, sendo as eleições uma das expressões deste enorme impasse em que se encontra o núcleo golpista, incapaz de oferecer uma saída estável e duradoura como resposta à crise da burguesia e suas diversas frações.
Este quadro caótico e de crise não pode ser superado no marco das eleições, controladas e manipuladas pela camisa de força das instituições apodrecidas do regime burguês, avalista de todas as maiores ilegalidades perpetradas pelos neoliberais golpistas contra as massas populares e a esquerda nacional. A luta para levar adiante um programa que coloque na ordem do dia as necessidades e reivindicações mais sentidas dos trabalhadores e da população – ainda que no terreno limitadíssimo das eleições – somente pode se dar sobre a base da defesa de uma política independente, classista e não comparecer às eleições para semear ilusões grotescas e infantis, como vêm fazendo a esquerda pequeno-burguesa (PCdoB, PT, PSOL, etc).
Em oposição a todo o distracionismo e a fraude que a burguesia montou como cenário para as eleições, faz-se necessário não só denunciar o caráter restritivo e antipopular das eleições, como trabalhar pela mobilização do povo trabalhador como método de luta e resposta às manobras da burguesia e dos golpistas para impedir a participação dos trabalhadores e oprimidos no pleito eleitoral.