Avaliada no dia 27 de janeiro pela banca da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), que examina as características físicas de concorrentes às vagas da cota para negros – mais especificamente no curso de direito – a candidata Aline Lopes não foi reconhecida como tal.
No entanto, chamam a atenção alguns fatos curiosos. A começar algumas características comuns aos negros como lábios grossos, nariz largo e pele parda. A candidata alega ainda um fato bem pitoresco, o fato de ter alisado o cabelo e ter ido à avaliação foi motivo de questionamento da banca sobre sua negritude, como se um negro só pudesse ser negro se usasse dreadlocks ou penteado black power.
Desde sempre a direita busca desqualificar as cotas étnico raciais. No princípio usava a demagogia de meritocracia em um país marcado por extremas desigualdades econômicas e raciais. Agora busca usar artifícios mais sofisticados, como dizer que somos todos uma raça só de um país miscigenado e consequentemente todos teriam antepassados negros, logo, seríamos todos negros. Uma ideia esdrúxula quando se observa que a cor de pele dita bastante sobre a colocação do sujeito na sociedade.
A tática atual consiste em confundir o sistema de cotas. Mesmo dentro das universidades há questionamentos de estudantes sobre a transparência destas avaliações e seus avaliadores. A imprensa, por sua vez, faz seu papel embaralhando mais ainda a situação pegando casos específicos de brancos que se declararam negros e de alguma maneira ingressaram na universidade. Ou seja, busca-se desmoralizar essa política afirmativa e consequentemente eliminar toda política afirmativa com os pretextos de que pode ocorrer injustiças e toda aquela demagogia, como se o racismo estrutural de séculos também não fosse injusto.
Embora haja muita discussão hoje sobre “colorismo”, na prática o racismo ataca pessoas de pele preta ou parda. Numa entrevista de emprego ou numa ronda da PM não há menos negro ou mais negro, apenas negro.