Não bastasse a brutal queda na renda dos trabalhadores, que significou de fevereiro a junho uma perda de R$ 34 bilhões (O Globo, 31/8/20), o índice usado no reajuste dos alugueis acumulou nos últimos 12 meses uma taxa de 17,94% (Agência Brasil, 29/9/20). A inflação dos mais tem sido duas vezes maior que a dos ricos, segundo o IPEA. Uma verdadeira expropriação de renda dos trabalhadores., especialmente dos mais pobres. E a inflação continua crescendo em um ambiente de desemprego e enfraquecimento dos sindicatos.
Reunindo queda na renda com aumento nos alegueis, o resultado só pode ser o aumento no número de imóveis desocupados, enquanto aumenta o número de trabalhadores sem condições de ter um teto para viver. Segundo Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo (AABIC), antes da pandemia de coronavírus, o percentual de imóveis desocupados era de 18%, em julho esse número cresceu para 24% (IstoÉ Dinheiro, 22/7/20).
No ano passado estimava-se que 7,5 milhões de famílias viviam sem teto no país. Com o aumento vertiginoso no desemprego e o empobrecimento da população, esse número cresceu. O número de pessoas vivendo nas ruas em São Paulo, por exemplo, cresceu muito segundo as entidades que prestam serviços solidários aos sem-teto na cidade. O serviço franciscano informa que o número de refeições diárias que eles servem cresceu de 50 em março para 2.500 em maio. “Sabemos também que há muito mais casa sem pessoas do que pessoas sem casa, ou seja, é possível acomodar, dar um pouco de dignidade e oferecer para essas pessoas aquilo que tem sido o grande pedido já há muito tempo, de estarem em casa, se protegerem do contágio e ter um mínimo de dignidade”, disse Frei Diego Melo, coordenador da Frente da Solidariedade. (G1, 29/5/20). O mesmo tem sido observado em todas as capitais.
Antes da pandemia, um censo realizado pela Prefeitura de São Paulo já apontava para um crescimento de 52% da população em situação de rua no período de quatro anos (Carta Capital, 31/1/20).
A brutal desigualdade social existente no país está aumentando e colocando cada vez mais os trabalhadores em situação de miséria e fome. Uma situação que se observa em quase todos os países capitalistas, com maior ênfase nos EUA, mas observado também nos países capitalistas ricos da Europa. O capitalismo em crise coloca o ônus de sua crise nas costas dos trabalhadores.
Mesmo com a extensão do auxílio emergencial até o final do ano, com corte de 50% (passando de 600 para 300 reais), a situação dos trabalhadores mais pobres continua grave, ainda mais porque, segundo o Ministério da Cidadania, 43,75% dos aprovados não receberão todas as quatro parcelas da extensão, em função de regras mais restritas. (Clic Camaquã, 29/9/20)
A fome está aumentando e vai ficar amor ainda após o término do auxílio emergencial. O desemprego não mostra sinal algum de mudança e a crise econômica tende a continuar por muito mais tempo. Essa situação se agrava com a subordinação irrestrita do governo ao capital internacional, que já paralisou importantes setores da economia e cuja gestão continua a provocar o fechamento de empresas.