Em mais um movimento defensivo e muito característico do atual estágio da luta política que se desenvolve no país, Bolsonaro entregou ao chamado Centrão a presidência do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão que conta com pelo menos R$29 bilhões de orçamento este ano e já havia sido alvo de disputa entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e o ministro da Educação, Abraham Weintraub, no ano de 2019.
Defendendo com ardor religioso a política de frente ampla, com inclusão de todos os elementos da direita “contrários” a Bolsonaro, os arranjos políticos mais extravagantes foram realizados pela esquerda nos últimos anos, incluindo-se aí a coligação “A Vitória com a Força do Povo”, que reelegeu Wellington Dias pro governo do estado de Piauí. Contando com o MDB, que tinha acabado de assumir a presidência da República através do expediente golpista, e o PRTB do atual vice-presidente General Mourão, a aliança contava ainda com o antigo partido de Bolsonaro, o PP (hoje, Progressistas), que elegeu no Piauí o senador Ciro Nogueira, sob a base da mesma coligação.
Tendo votado a favor do golpe contra a presidenta petista Dilma Rousseff, o golpista Ciro Nogueira conta em seu currículo recente com apoio ao regime fiscal de Temer (que impôs o congelamento dos gastos públicos sobre os serviços essenciais à população) e apoio à reforma trabalhista aprovada em 2017. Alguém muito inocente poderia supor que tendo sido eleito senador com apoio do governador do Piauí, o atual presidente do Progressitas seria um novo homem, regenerado e sensível aos interesses da maioria explorada da população. O apoio do senador ao roubo da previdência, contudo, dão pouca credibilidade a este conto de fadas.
Eis que agora, acuado e precisando recorrer ao Centrão, Bolsonaro entra em atrito com seu ministro da Educação (e um de seus mais contundentes defensores) para nomear o indicado de Ciro Nogueira à presidência do FNDE, que com isso, tem influência no governo do Piauí (do PT) e também no governo federal, de Bolsonaro, contra quem a esquerda busca o apoio do Centrão para enfrentar, uma situação digna da quadrilha de Drummond.
A nomeação feita por Bolsonaro do indicado de um senador, apoiado por um governador da ala direita do PT, para o alto escalão do governo federal é emblemático da natureza da política de frente ampla, na medida em que proporcionou um cargo a um elemento conservador da esquerda, ajudou a reabilitar um golpista por mais 8 anos no Senado Federal e possibilitou uma articulação envolvendo o Centrão e o fascista Bolsonaro. Todos ganham, menos o povo.