Em decorrência da pandemia de coronavírus e das medidas de isolamento social impostas para conter a doença causada pelo novo coronavírus, o governo alemão projeta que o Produto Interno Bruto (PIB) do país encolherá 6,3% em 2020 em relação ao ano anterior, e esta será a maior queda no crescimento econômico desde a fundação da República Federal da Alemanha, em 1949.
A projeção do governo alemão, embora impactante, é mais otimista do que as de outras instituições. O grupo alemão Allianz projeta uma queda de 8,9% na economia, e o Instituto de Nurembergue para o Mercado de Trabalho e Pesquisa Profissional, de 8,4%. Já o Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta que a economia alemã encolherá 7% em 2020.
Apesar de um enorme pacote de resgate, as medidas adotadas para conter a disseminação do coronavírus devem gerar uma grande onda de falências, além de três milhões de desempregados. As receitas fiscais também devem diminuir significativamente. Até o momento, o governo prevê um déficit fiscal de cerca de 82 bilhões de euros – e um máximo de 356 bilhões de euros em novas dívidas.
Após quase um mês de medidas de restrição à vida pública, a Alemanha começou, na semana passada, a retomar as atividades gradativamente. Grandes lojas, restaurantes, hotéis e a maior parte das escolas permanecem fechados. No dia 6 de maio, o governo devem discutir os próximos passos.
Os economistas burgueses iludem a todos dizendo: “ Premissas bem razoáveis sugerem que a crise terá um custo econômico bastante alto. Este custo será tão menor quanto mais rápido houver uma normalização nos principais mercados internacionais e quanto melhor o governo, nos seus diversos níveis, mostrar-se capaz de gerir a crise doméstica”.
Traduzindo isso, custo alto quer dizer morte, desemprego, e falência generalizada. E, quando fala em gerir a crise doméstica, ele quer dizer evitar as greves por reajuste de salários, retardar ao máximo a revolta da população abaixando os juros, para facilitar empréstimos bancários, e aumentar os impostos, o que também não resolve nada.
De fato, se compararmos a Alemanha ao Brasil, podemos ver que ambos estão se preparando para abrir a economia para voltar à normalidade. Entretanto, a Alemanha não corre o risco de ver seu sistema de saúde entrar em colapso, já que se trata de um sistema mais bem aparelhado, com mais investimento, e que, consequentemente, consegue ter resultados melhores no controle da pandemia, o que resulta em uma tranquilidade maior até para liberar a economi. Já no que diz respeito ao Brasil, a afirmação é outra diametralmente oposta. O Sistema da Saúde tende a colapsar, não há controle algum, e ela vai sacrificar a população com a abertura da economia.
Se, para quem manteve o controle, na corrida para a volta isso traz vantagens e uma melhor colocação no mercado, para quem não tem o controle da situação e, mesmo assim abre o mercado, o resultado pode afundar ainda mais a economia do país que poderá ver novos focos da doença se espalhar mais rapidamente bem antes do que qualquer reação positiva do mercado.
Se, de fato, esse é um lado da situação que mereça algum crédito, outro lado disso tudo, e que a burguesia tenta de todas as formas ocultar de todos, é que, mesmo antes da pandemia, o mundo já estava em crise, e, mesmo a Alemanha, conhecida por sua administração austera dos gastos públicos, também sofria com os reflexos da crise do capitalismo globalizado.
O Bundesbank, Banco Central da Alemanha, em agosto de 2019, já havia admitido caminhar para uma recessão da economia, que, como resultado da crise política europeia e a queda nas exportações, já vinha fazendo uma contração no crescimento.
Segundo a análise dos próprios especialistas, a crise européia via sendo uma consequência da guerra comercial travada pelo imperialismo contra as economias nacionalistas, provocando a escassez de pedidos e uma queda da produção industrial alemã.
Economicamente, a Alemanha depende fortemente dos estados da Baviera, de Baden-Württemberg e da Renânia do Norte-Vestfália, os mais atingidos pela pandemia. Essas regiões sediam gigantes corporativas, como as montadoras Mercedes Benz, Porsche e BMW, além de empresas como a E.On, ThyssenKrupp e Allianz. Os três estados concentram dois terços dos cerca de 108 mil casos confirmados de infecção pelo coronavírus no país.
Mas o pólo industrial alemão, assim como o mundo, vinha se erguendo da crise de 2008, cujas marcas já havia deixado na economia, causando desemprego e fechando muitas empresas. Na Alemanha, o programa de Kurzarbeit foi implementado para minimizar as demissões durante essa crise. Chamado de Kurzarbeit (trabalho curto, em alemão), o programa é apontado por especialistas como uma das ferramentas responsáveis por frear drasticamente o aumento do desemprego na Alemanha nos meses posteriores ao estouro da crise de 2008, expandindo os incentivos para que os patrões não demitissem sua mão-de-obra. Agora ele é reforçado na Alemanha em razão do coronavírus, que mais não fez do que intensificar o que já existia.
Nisso, vemos o reconhecimento da crise pela burguesia e a tentativa de lidar com ela, o que dimensiona a importância do impacto e sua extensão no tempo, além dos seus reflexos, o que é pior, o que demonstra a busca por respostas cada vez mais longe do malfadado neoliberalismo, cuja cova vem cavando a cada crise, a cada nova guerra, a cada nova reforma, por serem medidas inócuas e revelado a sua inutilidade no sentido de trazer uma estabilidade para economia.
Já não mais se sustentam os golpes de estados, as guerras comerciais, e os embargos econômicos diante das consequências danosas, que, a exemplo da disseminação de um vírus como o Covid19, podem advir para o mundo globalizado.
O capitalismo já deu o que tinha que dar! Agora só nos resta o salto para o socialismo, que, quanto mais se demorar, mais desgraças como essas serão inevitáveis.